domingo, 20 de dezembro de 2015

A atitude.

A atitude universal dos matemáticos é esta.* 



Porquê?! Porque dá jeito. 
Porque os matemáticos são os "tais". Os que percebem o difícil, o impenetrável, o obscuro. São quase que magos da ciência, mas com QIs, ui, elevadíssimos.
E essa aura de supra iluminação dá jeito, pois claro que dá.

Eu já fui admoestada porque, surpresa, me expliquei demasiado bem perante uma audiência vasta e generalista. Vede a afronta. Consegui que pessoas sem formação percebessem a teoria que servia de suporte ao trabalho que apresentava.

Quem me admoestou? Um referee internacional. Uma sumidade que, até aí, eu julgava capaz de caminhar sobre a água. Disse-me em tom de brincadeira (e em privado, claro) que se todos os "nossos" apresentassem e desmontassem tudo de forma tão limpa como eu tinha acabado de fazer, toda a gente ficava a perceber o que "nós" fazíamos. E depois "nós" ficávamos sem trabalho (e sem as respectivas vénias, acrescento agora eu).

Não, apesar do tom jocoso ele não estava a brincar nem tampouco a elogiar, estava a admoestar. Foi há seis anos e ele achou-se no dever de chamar a miúda à atenção. Afinal de contas há uma aura de inatingibilidade que tem de se manter assim mesmo, inatingível, e isso tem de ser claramente percebido pelos "nossos" recém-chegados.

*Atenção que eu não digo que um Teorema que permite a medalha Fields é passível de ser explicado ao público. Não é. Eu refiro-me à atitude do "Nem vale a pena tentar explicar porque isto é de facto muito difícil." que é, geralmente, a vigente comum na área.

4 comentários:

  1. Acho esse tipo de atitude uma estupidez e sempre achei.

    Eu acho que só revela falta de capacidade. Uma pessoa verdadeiramente boa no que faz e realmente sapiente consegue adequar o seu discurso e a sua explicação para todos.

    Sempre achei os professores universitários, aqueles catedráticos, incapazes de se adaptarem ao publico, meramente ridículos. Na sua vontade de se superiorizarem e tentarem mostrar-se como grandes e conhecedores, demonstram meramente a sua arrogância e incapacidade.

    Para mim um verdadeiro conhecedor da sua área e da sua vertente é aquele que a explica de forma clara, que consegue fazer com que o mais leigo dos leigos compreenda o que quer dizer.

    Felizmente tive alguns bons professores no meu percurso académico, daqueles que diziam que se quiséssemos um artigo cientifico publicado era bom que ele fosse escrito de forma a que qualquer comum mortal o lesse e compreendesse.

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    1. Eu ontem estava um bocadinho irritada e temo ter sido injusta. A verdade é que muita gente tenta adequar o discurso mas não consegue porque, lá está, não é para todos, é preciso uma inteligência emocional apurada e isso, de facto, não abunda entre a classe. Mas é possível, o Feynman como referiu o xilre era um mestre nisso.

      Por outro lado, tem razão naquilo que diz, muita gente resguarda-se na inacessiblidade e não se esforça na transmissão da mensagem por insegurança. O raciocínio srá mais ou menos este, se as pessoas não perceberem a génese daquilo que faço, eu estou mais resguardada no sentido que dificilmente me conseguirão desmontar o raciocinio e evidenciar falhas.

      Eu não sou assim, eu explico na medida em que sinto interesse. E repito as vezes que for preciso e por todos os ângulos que conseguir.

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