domingo, 22 de maio de 2016

Eu não sou vir(tu)al.

Ontem acordei a meio da noite... (Esganadinha com a fome, e vós sabeis lá a minha vida... Claro, obviamente, que estou de dieta. Sou mulher, por Jó! E lá enrolei eu um queijinho Smiley Cow numa fatia de fiambre de turkey, fiz uma cup of tea sugar free e já que estava botei os olhinhos no Observador, que é como quem diz no Observator. Sim. A fome dá-me para speaking english. Podia ser pior. Podia dar-me para o latim.)... E li esta crónica. E pensei que sim senhora, ali estava um pedaço de prosa despretensiosa e bem escrita.

E mais uma vez fui como que esbofeteada pela dúvida que não me desampara a loja há que anos: O facebook e as redes sociais no geral, servem exactamente para quê? Vieram melhorar a nossa existência exactamente em que sentido?

Ora bem, eu tenho este blogue e não tenho, nunca tive, nenhuma conta em nenhuma rede social. E a verdade é que eu não saberia o que partilhar. Eu até entendo o conceito de ter uma conta partilhada por amigos próximos: um sítio onde pudesse ir mostrando por onde ando (ui, havia de ser cá uma emoção: "NM no parque", "NM no supermercado", "NM na esplanada", "NM a dar de comer aos patos", ou até mesmo um "NM na cozinha" - ahahahahahah, só mesmo suplantado em inverosimilhança por um "NM no ginásio"), aquilo de que gosto ou aconselho: um site, um livro, um restaurante, basicamente o que faço por aqui muitas vezes, e até admito que, conhecendo a minha malta, havia de ser circunstância para mandar umas valentes gargalhadas*. Ou então não. Ou então chegaria um palpite mal amanhado recebido num dia mal parido e estaria o caldo entornado. À vista de todos. 
A vantagem impagável de ser esta espécie de Neanderthalensis dos tempos modernos é que não tenho amigos virtuais. São todos reais. Os que deixei de ver, enfim, deixei de ver. Lá foram à vida deles e eu à minha. Talvez nos reencontremos, talvez não - oh, a emoção dos desígnios divinos. Agora relações de amizade de faz conta? Não, muito agradecida! Nem no liceu.

Mas do que agora aqui falo é de contas de redes sociais e, já que estamos, de blogues, disponíveis para o Mundo onde as pessoas mostram tudo o que fazem, onde vão ou o que comem. Desde a pizza congelada que comeram ao jantar até à fotografia da filha mais nova sentada na sanita (True Story!, há bem pouco tempo num blogue perto de si). E é destes casos que falo... Qual é o objectivo exactamente?

O problema é meu. Certamente que é meu. Por exemplo, eu nunca teria uma profissão que acarretasse perda de privacidade. Nunca seria artista, nem sequer jornalista. (Também nunca seria modelo - unicamente por causa disso da privacidade, claro.) Nunca, mas nunca, participaria num Reality Show. Nunca! A minha privacidade será do que mais prezo. E não, não acho que a minha vidinha possa interessar a alguém. Mas é a que tenho. A que consigo ter. É a minha. Aquela pela qual me esforço diariamente para que seja digna e feliz. E preciso tanto de gente a bater-me palminhas pelo bem que faço, como de gente a mandar bitaites depreciativos sobre como levo a vida. É disso e de uma carrada de sarna.

Por isso, quando vejo gente por aí a vender a vida (e os filhos), a exporem o leito e a ter de levar com todo o tipo de gente e comentários principalmente nos conteúdos que envolvem as suas crianças... Penso sempre no mesmo... Tinham de me pagar muito, mas mesmo muito bem, para me (nos) sujeitar àquilo. Já uma vez o escrevi, ninguém quer um circo montado à porta de casa a não ser que ganhe alguma coisa com isso. E posto isto, garanto-vos que este blogue se manterá pequeno, marginal. Sem grandes arraiais. Porque pelo chão deste blogue andam os meus. Os mais meus dos meus. E eu não ganho nada com isto. 

* Como faço? Tenho grupos no WhatsApp onde por incontáveis vezes já chorei a rir com os meus. Os reais. Os únicos que tenho.

13 comentários:

  1. Gostei muito da crónica e não menos do seu texto!!'

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  2. Questiono-me muitas vezes o mesmo. Com o passar dos tempos a lista de "amigos" tem vindo a diminuir, não faz sentido possuir uma rede de conhecidos, é como a NM diz, amigos só reais. Mas o facebook acaba por dar jeito no caso de notícias e entidades que sigo, a informação simplesmente aparece à minha frente (tipo magia...), evita que tenha de procurar. POderá ser mera preguiça ou habituação, que é um problema das redes sociais, o facilitismo. Posto isto, vou reduzir mais um bocadinho a minha lista. Gosto tanto de a ler NM! Boa semana

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    1. Isso de ter informação fácil pode ser bom de facto. Boa semana, I.

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  3. o Hugo Gonçalves é top. uma crónica (esta sim) e replicar e a tornar viral.

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    1. Eu gosto de quem escreve simples e li aquilo num folego! A tornar viral, sem dúvida.

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  4. Nem sei se isto tem discussão! :) No fundo cada um gere a sua privacidade (ou a sua exposição) da maneira que lhe faz mais sentido.
    Acho que as redes sociais podem ser muito úteis se as soubermos usar e não têm que implicar uma perda de privacidade se não quisermos. E acho que podem aproximar as pessoas tanto quanto podem afastá-las, tudo depende da capacidade que temos para perceber que são uma ferramenta que não basta por si própria e que não substitui as risadas, os abraços e os momentos vividos com o outro fora do ecrã do computador ou do telemóvel. Se são perigosas as redes sociais? Sim, bastante, mas não se formos inteligentes na sua utilização e se tivermos em mente que elas existem para nos servir a nós e não o contrário.

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    1. Claro que sim! :) Concordo com tudo.
      Mas dizes-me então que o facebook serve para estreitar laços, é isso? (Não estou a ser irónica, estou a perguntar mesmo. Como disse não tenho fb nem nunca tive: limito-me a ser mirone em páginas abertas, e basicamente queria perceber porque no fundo falo de algo que desconheço.)

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    2. Não sei se lhe chamaria estreitar laços mas há pessoas às quais eu já teria perdido completamente o rasto não fosse te-las reencontrado no FB. Colegas de faculdade, pessoas com quem trabalhei mas que entretanto saíram da empresa, etc. Não falo com eles regularmente mas vou-me mantendo a par do que estão a fazer, felicitamo-nos nas ocasiões mais importantes, coisas assim.. Eu gosto. Quando recebo pedidos de amizade de pessoas que não conheço, mesmo sendo amigas de pessoas conhecidas, recuso.

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  5. Eu tenho 30 anos e nunca achei piada nenhuma a possuir redes sociais nem andar a tirar fotos e publicar. Só tenho 2 ou 3 fotos, tenho mas é como se não tivesse. Prefiro passar mais tempo a navegar como anónimo do que andar a perder tempo com merdas. Dizem sempre para ir ao Facebook das páginas ou das organizações, mas nunca fui. E à pala de eu ser quase inexistente, nunca recebi pedidos de amizades de pessoas desconhecidas (felizmente) e ainda bem que só tenho 50 e tal pessoas adicionadas e todas elas conheço-as pessoalmente. Dão todas muito mais uso ao facebook do que eu. Posso estar numa de "menino verde da anedota azul" ou "Andar de preto enquanto outros andam de cinzento", mas ao menos não sou nenuma maria-vai-com-as-outras em nada na vida, Isso pode ser algo agressivo para os outros ou deixar perplexo, mas que metam as perplexidades no raio que as parta eu não vivo em função de ninguém, apenas do ordenado que recebo do meu trabalho! Sempre foi assime sempre será!

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    1. Eu também podia ter um conta. Mas era só mais uma coisa para me fazer estar ainda mais tempo em frente ao computador. Dispenso.

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  6. "Por isso, quando vejo gente por aí a vender a vida (e os filhos), a exporem o leito e a ter de levar com todo o tipo de gente e comentários principalmente nos conteúdos que envolvem as suas crianças... Penso sempre no mesmo... Tinham de me pagar muito, mas mesmo muito bem, para me (nos) sujeitar àquilo."
    Oh pah, é taaaaaaaao isto!

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  7. Acho que é muito geracional. Eu cresci com as redes sociais, são praticamente parte da minha vida social, porque convivo imenso com amigos e conhecidos através destas. Matam saudades das colegas de faculdade, proporcionam brincadeiras com os colegas de profissão, e ajudam imensoooo em questões profissionais. Eu adoro. Mas também passo perfeitamente bem sem elas. Há dias em que estou tão ocupada que nem me lembro que existem.

    Nem 8 nem 80. São uma excelente ferramente se as soubermos utilizar.

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