sexta-feira, 3 de junho de 2016

Das escolas privadas com contrato de associação e dos malandros que querem andar em colégios finos à custa do restante Zé Povinho. Ou então não.

... Ou então só querem o ensino de qualidade (mínima) a que deviam ter direito. 

(Verdade verdadinha, acabei agora de me dar conta, com surpresa, que a Constituição não foca este ponto, alicerçando-se na contribuição para a "igualdade de oportunidades" e na "superação das desigualdades económicas, sociais e culturais" - Cap. III, Artigo 73.º, ponto 2, o que não é condição equivalente à educação de qualidade. Sendo literal poder-se-ia pensar que, quando existe, o ensino de qualidade num estabelecimento público é cortesia da casa, quase-quase um bónus.)

Não tenho muito tempo para escrever pelo que me vou ficar por contar-vos uma história. Vai começar por "Era uma vez..." e tudo, mas, infelizmente, é verídica. Sim, é um caso específico. Mas destes haverá muitos lá no saco dos malandros.

Era uma vez uma vila com quatro escolas primárias, um "ciclo": 5º e 6º ano, e um colégio privado financiado pelo Ministério de Educação desde, pelo menos, os anos 80, que garantia a oferta escolar do 7º ao 12º ano. O tal colégio foi crescendo com os anos, garantindo que tinha lugar para todos os alunos da vila a partir do 7º ano. Investiu em infraestruturas e recursos humanos. Entretanto o Estado também resolveu aumentar a tal escola de 2º ciclo, construindo mais pavilhões, para onde se mudaram os alunos que frequentavam as tais quatro escolas primárias outrora espalhadas pela vila. Passou a haver então uma escola estatal para os 1º e 2º ciclos e, do outro lado da rua, o tal colégio para os alunos do 7º ao 12º ano. Tudo muito bem. Durante décadas.

Eis que senão quando... O drama, o horror, a tragédia... Começam a faltar alunos na escola estatal (tal como no colégio, de resto). Tanto no 1.º, como no 2.º ciclos. (Uma chatice, a quebra na natalidade e a migração para os grandes centros urbanos a fazerem das suas...) Há salas vazias e professores do quadro sem turmas a quem leccionar. Ora, o que se faz, se o colégio do outro lado da rua tem alunos do 7º ano para a frente? Ora, nem mais... Abrem-se turmas do 7º ano para a frente! Pois se há salas, pois se há professores... Mas... Oi? Há professores? Como assim? Mas então não era uma escola de 1º e 2º ciclos? Como é que então há professores? Pois há... Escudados numa normativa ainda em vigor, que dita que:

"

Diário da República, 2.ª série — N.º 118 — 19 de junho de 2015 

CAPÍTULO II 
Recursos humanos docentes 
Artigo 4.º Serviço docente

(...)

4. Os docentes podem, independentemente do grupo pelo qual foram recrutados, lecionar outra disciplina ou unidade de formação do mesmo ou de diferente ciclo ou nível de ensino, desde que sejam titulares da adequada formação científica e certificação de idoneidade nos casos em que esta é requerida

(...)

"

E sem apelo nem agravo, sem anestesia nem nada, põem, p. ex., um professor de Educação Visual e Tecnológica, professor há 20 e tal anos do 5º e 6º anos e de régua e esquadro atrás, a dar Matemática ao 3º ciclo... Ah pois é... E qual é o problema? É legal! E se é legal, meia bola e força que o que importa é poupar-se dinheiro.

E a Matemática do 3º ciclo (do 7º ao 9º ano, para quem está afastado destes meandros) é de fugir. É de uma exigência tresloucada. É praticamente impossível os miúdos apreenderem a totalidade do que é preconizado no programa. 

Sabeis o que aprendestes sozinhos no vosso 7º ano, sem, obviamente, as vossas mãezinhas a estudar a vosso lado? Mãezinhas essas que tinham mais que fazer e que sempre vos exigiram que vos desenrascasses bem e sozinhos, que afinal não fazíeis mais que a vossa obrigação? (Olá, PMS! Tudo benzinho obrigada. Cá vamos indo como nas vindimas...) Esquecei... Não tem nada, na-da, a ver. A fasquia está absurdamente alta. 

E pronto... 

Isto que vos conto já não aconteceu este ano lectivo, mas certamente que se vós fosses um dos pais que de repente têm como professor de matemática do filho, num ano determinante, numa disciplina crucial, uma pessoa que não sabe um boi daquilo que supostamente devia ensinar, íeis estar todos contentes e compreensivos com a situação de serdes apelidados de chicos espertos, sanguessugas e outros mimos que tais por um país inteiro, não íeis? Íeis pois... 




54 comentários:

  1. "Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos."

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    1. Compreendo-te perfeitamente Kina. Também estou a ter uma sexta lixada...

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    2. Mas olha que é por aqui... e por ali: a apologia (nem sempre inconsciente e muitas vezes veiculada pelo próprio Estado) da privatização da Educação. Façam-na, mas assumam-na, não misturem é cagalhões com nêsperas, talvez na esperança de que tenhamos todos estudado em escolas públicas e não nos apercebamos... ;)

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    3. Privatizar a educação?! E porque não? (Confesso que não tenho as ideias bem assentes nesse assunto.)

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    4. Exacto, porque não? Até vou mais longe, já agora - isso da escolaridade ser obrigatória é um bocado fascista, não te parece? Então eu não posso escolher ser analfabeta?...

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    5. Tu poderias... Escolher isso por um filho menor é que... Pronto, coise! Mas já que falas nisso acho a escolaridade obrigatória até ao 12 ano um perfeito absurdo.

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    6. Olha, finalmente alguém que concorda comigo nesse ponto da escolaridade obrigatória de 12 anos...
      E mais não me alongo, senão não dormia e estou com as pernas feitas num oito de estar 5 horas de pé, quase em estado de penitência...

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    7. :)))) as vezes que também eu já me blogo-calei em prol do meu descanso...

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    8. Essa ideia peregrina da escolaridade obrigatória até ao 12º ano... não concordo! Francamente, não faz sentido! E não faz falta! Qualquer dia já não se distinguem criadas de Senhoras...

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    9. Vai desenvolver ou vai-se ficar pelo bitaite?

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  2. "Matematica do 7º ao 9º é de fugir. De uma exigência tresloucada".
    NM, estava ser irónica certo?
    Matemática até ao 9º ano é canja.
    Privatizar o ensino é andar para trás. Basta ver que nos países com menor índice de analfabetismo a escola é pública. Deveríamos querer ir neste sentido, não no contrário, mas parece que qualquer diz estamos como em África em que só vai à escola quem tem dinheiro.
    (e não vale a pena vir com a conversa de que o ensino seria privado mas comparticipado pelo estado para as famílias mais carenciadas e sem posses, que isso é conversa da treta. A classe média, que quase nunca consegue algum beneficio, está sempre fora das "comparticipações" do estado, e seria sempre a mais prejudicada.
    Fico estupefacta que pessoas da minha geração, com toda a informação que há, com tudo o que se sabe, possam defender a privatização do ensino.
    É inacreditável.

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    1. Caríssimo, não me alongo consigo até me dizer de que forma contacta com o programa de matemática atual, ATUAL, para dizer que é "canja de galinha"... É professor da disciplina, é encarregado de educação de alguém que frequente o tal ciclo... É o quê?

      (Como sou boa alma, adianto-lhe que o ensino poderia ser privado e mesmo assim não ser pago por quem frequenta... Nem pelos mais ricos nem pelos mais pobres... Dê lá corda às sinapses a ver se consegue imaginar como as coisas funcionariam...)

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  3. este parece-me mais um daqueles assuntos que apenas são discutidos através de razões meramente ideológicas. em vez de se pensar com lógica e bom-senso, discute-se qualquer coisa como ricos Vs pobres.

    pode haver uma privatização das escolas, mantendo o ensino publico?
    quais os direitos e os deveres do cidadão (porque todos pagamos impostos. então se usarmos os meios privados, deixamos de pagar parte desses impostos?)

    quanto custa a educação por aluno? quem decide, no publico, quais as empresas fornecedoras?

    por que razão há esta quezília agora, mas nunca houve nada relativamente às trafulhices das editoras nos manuais escolares? não poderiam os mesmos ser editados pelo ministério da educação? (a preços decentes)

    qual (deve ser ) o poder dos sindicatos (que são grupos com interesses próprios e de quem lhes paga as cotas)?

    será que chegámos ao tempo em que temos vergonha de pensar e perguntar, só para que não nos julgarem fascistas?

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    1. flor, como disse à kina não tenho ideias bem assentes no que concerne à privatização da educação, mas aquilo que imagino seria qualquer coisa com o que já se passa com os colégios de associação. Era uma espécie de serviço que o Estado pagaria (e os utentes também sob a forma de imposto como já paga, não sob a forma de mensalidade). Idealmente seriam financiadas as escolas com melhores projectos. Idealmente. Os professores deixariam de ser funcionários públicos. (Falando em termos economicistas, estou certa que se poupariam dinheiros públicos.) Bem sei, que no ponto em que estamos isto que digo é impossível, mas não sei se funcionaria pior.

      Relativamente às editoras escolares não me posso nem quer alongar cá por coisas, mas tens toda a razão. Toda! (E os livros? São precisos livros daqueles? Imenso espaço desaproveitado, papel da melhor qualidade, cores de fundo...)

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  4. Por acaso acho que está errada numa coisa. É possível um professor de secundário dar aulas à primária ou ao 2º ciclo. Mas acho (acho) que o contrário é impossível e que um professor de ET 2º ciclo só poderá dar aulas de outra cadeira (e ciclo) se tiver formação específica na mesma. Foi isso que me foi transmitido por uma dir de agrupamento, pelo menos.

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    1. Não estou, não. É uma questão de ir ver aquilo das habilitações próprias e habilitações suficientes.

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    2. Pois. Mas tu teres o 12º ano não é considerado habilitações suficientes para leccionares 3º ciclo. Tens de ter tirado o curso e cadeiras que te habilitam a àrea científica em questão.

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    3. Aliás, a escola de que falo não contratou um único professor quando abriu as turmas de sétimo ano. Tendo em conta que, p.ex., não há geografia nem físico química no 2o ciclo, imagina a qualidade de ensino que por ali ia...

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    4. (Não, não pode ter o 12o. Mas se for dos quadros e tiver determinado bacharelato eé possível. Um exemplo? Um licenciado em agronomia tem habilitações suficientes para dar matemática grupo 11 - do 7o ao 12o.

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    5. Matemática, grupo 500 - do 7º ao 12º.

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    6. Exacto! Mudou de "nome" há já alguns ano, sim.

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    7. Desancou o anónimo ali em cima dizendo que só entabulava conversa se o anónimo estivesse actualizado na matéria mas pelos vistos a senhora não está. Enfim. Há meses que deixei de a seguir e vim parar aqui hoje à conta do PMS. Nada a fazer quanto ao tom arrogante. Os seus meninos não vão para o privado? Então deixe lá de se armar sobre o que aquilo que acha que conhece e que não é a realidade certamente.

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    8. Para já não desanquei ninguém. A única coisa que eu disse é que alguém que afirma que o programa atual de matemática é canja só pode ser alguém que não sabe minimamente do que está a falar.
      Depois gostava que me dissesse o que é que eu disse de errado... Não só não há nenhum impedimento legal em os professores "subirem" de ciclo, como há escolas que o fazem.
      Depois está muito enganado relativamente à educação que quero dar aos "meus meninos". Sou pela escola pública. Sempre fui e sempre serei.
      Depois olhe... Quanto ao meu estilo arrogante... É o que é... Vá ralhar ao PMS, então. Afinal foi ele que o trouxe ao engano.

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    9. Ah, percebi! Refere-se a eu estar desatualizada por ter dito que o grupo 500 era o grupo 11? Antes era anónimo, antes era... Mas depois deixei de dar para esse peditório. Entretanto trabalhei nos ditos programas... Enfim, sabe que isto há muitas maneiras de estar diretamente ligado à educação sem ser como professor do ensino básico e secundário, não sabe?

      (Jasus... Esta minha arrogância ainda me vai trazer muitos dissabores, vai...)

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  5. Parece-me que aqui se discute outro problema e não o da polémica em questão.
    Passo a explicar:
    Problema 1 - Os contribuintes andarem a pagar escolas privadas a crianças com acesso a escola pública em condições;
    Problema 2 - A qualidade da escola pública.
    Ora o que a NM descreve é o problema 2. Concordo que a qualidade de muitas escolas pública podia ser melhorada. Não seria melhorada se começassem a haver mais alunos, mais turmas. Nesse caso penso que teriam de ser colocados mais professores e talvez esses já teriam formação mais adequada.
    O Problema 1 mantém-se na situação descrita e aqui tenho uma opinião definitiva, nunca em circunstância alguma, havendo uma escola pública disponível (nas condições acima descritas) se deveria financiar com dinheiros públicos uma escola privada.

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    1. Não Margarida, não são problemas independentes nem esta questão dos colégios é preto no branco como querem fazer crer. A maior parte destes colégios são financiados há muito tempo e foram-no porque de facto faziam falta. Mais, este colégios cresceram e contrataram recursos humanos que agora, obviamente são do quadro. E fizeram-no pressionados pelo ME, não sejamos inocentes. Porque ao ME, em determinada altura, deu jeito. Ora muito bem os colégios cresceram e as escolas públicas em volta quando tiveram de o fazer, fizeram-no com cursos alternativos (nomeadamente para dar resposta ao ensino obrigatório até ao 12º ano). A questão é que agora há menos alunos e nem isso chega. Têm de se abrir mais turmas e de cursos que se lecionam (e sempre lecionaram) nesses tais colégios. Agora não te iludas, as escolas não têm um prof. de matemática, outro de português, outro de química, todos na medida certa para criar turmas em condições... Não, têm professores com horário zero com formações díspares que agora vão encaixar onde der e como der, a dar o que tiver de ser... (Como expliquei à Pic, as tais das habilitações suficientes permitem tudo e mais um par de botas. Se tiveres um licenciatura em engenharia, qualquer que seja, és tipo uma enciclopédia, aos olhos da lei capaz de lecionar o que quer que seja.
      Eu também não concordo com a situação e sempre, sempre, frequentei ensino público (e nem te digo quantos anos de estudo tenho no lombo), agora custa-me que tratem as pessoas que em grande parte dos casos não tiveram outra solução e que agora têm de se contentar com o refugo, abaixo de cão, como se fossem umas sanguessugas. Não são. As coisas não são assim.

      (E quanto mais penso sobre o assunto mais dúvidas tenho sobre o facto de ser bom as escolas serem públicas. Não sei se não seria de generalizar a questão dos colégios de associação ao invés de os reduzir. Está mais que visto que o estado não tem capacidade para gerir a educação. H

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    2. NM mas aí é exigir-se que as leis mudem de forma a que seja impossível qualquer um leccionar, é investir na escola pública e não esbanjar dinheiro para os privados que a pública vai melhorar.

      As escolas privadas têm de se ajustar ao mercado ou vamos andar a pagar "rendas" aos colégios só porque lá atrás lhes deu jeito aumentar? Ou quando eles deram lucro andavam a oferecer o lucro a pessoas alheias? Se são um negócio é natural que sejam tratados como tal.

      Pessoas empregadas e desempregadas e afins vai existir sempre pois é o mercado a funcionar. O que eu acho mal é que se "cotem" professores por tudo e mais alguma coisa menos pela competência e profissionalismo.

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    3. Não percebo a primeira parte da primeira frase...
      De resto, concordo consigo. Só me custa que as pessoas vejam tudo como preto no branco quando a maior parte desconhece a realidade dos colégios com contrato de associação, principalmente nos meios mais pequenos.

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  6. Acho que uma coisa é dar-se primazia à exigência e colocar um padrão elevado no ensino, nomeadamente a passar a existir uma avaliação séria e a progressão na carreira somente por mérito e não por anos e idade, etc.

    Outra é promover que se invista dinheiro público em privadas. Discordo totalmente salvo raríssimas excepções, nomeadamente quando não há mesmo escola pública por perto.

    É imitar-se os bons exemplos europeus (já que se imita tudo, que se imite também o que interessa).

    Mas continuo a não perceber como é que o exemplo dado no post se adequa à discussão.

    Posso falar aqui também do colégio privado em Lisboa que tem crianças a mais, a sobreestimula e cuja professora que lá trabalha (amiga minha) diz que é o pior exemplo de escola que já conheceu e que a administração não deixa os professores mudarem nada para melhor? Posso falar do facto daqueles pais darem quase um ordenado mínimo de mensalidade para depois os alunos terem mais 8 alunos numa turma, em comparação com a escola pública e turma do meu filho, por exemplo?

    Eu sou contra o pagamento parcial ou total de escolas privadas. Sou a favor do investimento e exigência na escola pública.
    Quem quer escolher uma escola privada, tal como o nome indica, sendo uma "escolha" e não uma obrigatoriedade pois que pague do próprio bolso.

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    1. A questão é que as escola públicas, quando dizem que têm professores é só uma meia verdade. Os quadros excedentários são, geralmente (deixa-me fazer a ressalva antes que venha aí alguém com 150 anos de serviço dar-me tau-tau) de disciplinas mais técnicas que por um motivo ou outro deixaram de ter procura. São essas pessoas que vão assegurar as turmas "novas" que até agora estavam nos colégios. (Imagina um engenheiro de pistões que foi contratado para dar mecanotronica de pistões ou outra coisa qualquer. Numa determinada política educativa justificava-se e foi integrado nos quadros. Os cursos reorganizaram-se e imagina que os pistões deixaram de fazer parte do programa. Fazes o quê àquele professor? Põe-lo a dar outra coisa qualquer, não é? Afinal é Engenheiro... E se é engenheiro... Os engenheiros têm habilitações suficientes para dar quase tudo... Bem me admira como não podem dar português...)
      E é contra isto que os pais lutam. Eu também lutaria. É que durante muito tempo e para muita gente frequentar um determinado colégio também foi uma obrigatoriedade, não uma escolha. De repente, de um dia para o outro, a solução que lhes apresentam é uma escola engendrada às três pancadas, com a agravamte de terem toda a gente a apontar-lhes o dedo. Acho mal. Portugal não é Lisboa e os colégios de associação deram muito jeito durante muito tempo.

      Quanto a isso de se investirem dinheiros públicos no privado já acontece em tanto lado... Na saúde... Olha, nos transportes. O estado, nos casos em que os alunos têm de se deslocar para irem para a escola paga a privados...
      (Não sei se te respondi a alguma coisa mas estou do telemóvel e custa comentar assim. :))

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    2. "Fazes o quê àquele professor? Põe-lo a dar outra coisa qualquer, não é"

      A meu ver, ou se transfere o professor ou despede-se como qualquer outro profissional em qualquer outro local.

      E contrata-se os que são necessários e têm formação para dar o que sabem.

      Para mim a questão é esta: se estão a lutar por ter os professores certos eu concordo, mas podem-no fazer lutando para ter os certos na escola pública. Percebo perfeitamente que não queiram as "sobras" e professores que não sabem nada.
      A meu ver, os professores que não sabem nada sobre uma determinada área nem sequer deveriam legalmente poder fazê-lo (ou seja, mudar a lei para que tal não seja necessário) e dar às escolas autonomia para contratar novos professores.

      Mas a meu ver, a solução justa para todos não passa por continuar a "bancar" os colégios privados, passa sim por contratar professores, e se até se justificar porque não contratar os professores que leccionavam precisamente no colégio? A mim não faz sentido é haver professores com horário zero num local (e a ser pagos) para depois haver um Estado que paga num privado para eles terem aulas...
      No entanto, também não acho correcto para com os alunos que tudo seja feito em cima do joelho, é necessário 1º garantir que lhes será atribuídos os professores adequados e necessários e depois sim fazer-se a transferência.
      Por outro lado, não acho também correcto protelar-se a mudança só porque vão deixar de ter o professor A ou B e vão trocar de professor. Ora, se vão trocar para um bom professor da área, que sabe o que faz estão em pé de igualdade com todos os outros. Quem quiser pagar para ficar com o mesmo mais 3 ou 4 anos pode pagar do próprio bolso.

      Nós não podemos aceitar que sejam dados direitos aos alunos que frequentam colégios que não são dados a quem frequenta a escola publica, não com o dinheiro de todos.
      Lute-se pela melhoria de todo o sistema, de todo o ensino e das leis que o regulamentam, isso sim, não por direitos individuais ou de meia dúzia que querem luxos que já consideram direitos.

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    3. Aquilo que pôs entre aspas no início do post era eu ser irónica (e mal vamos quando não percebe isso), mas é o que acontece porque um professor não se despede assim. Não no público.

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    4. Eu percebi a ironia a questão é mesmo essa, eu acho precisamente que se deveria poder empregar e despedir no público como se faz no privado : de acordo com as necessidades.

      "Não há empregos para a vida", certo? Excepto se tiverem um "tacho" no serviço público. Sejam competentes ou não, o trabalho é certo. E é contra isso que eu sou. Há excelentes professores desempregados enquanto alguns que mal sabem a matéria e nada percebem de pedagogia estão a leccionar, acho mal, aliás, acho péssimo.

      Eu tive um exemplo muito claro do que é um péssimo professor: uma professora de matemática A, no 11º ano a dar-nos a matéria lia o livro. Sim, lia. Ora lamento se acho que ela deveria ser despedida e não estar no quadro da escola só pelos anos que trabalhou. Se é incompetente não merece o cargo e enquanto a exigência não começar pelos professores que permitimos que estejam a educar a escola não melhora.

      Por isso é que eu acho que se deve investir no público e nunca no privado (excepto em raras situações) mas no sentido de se promover o ensino de excelência e de exigência, começando por quem se admite como professor.



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    5. Ora, nem mais. Concordo com tudo. Mas sabemos que na prática não acontece. Um professor não é despedido por incompetência. Não é. Ou é uma coisa escandalosa (ou faltas, ou má conduta com os alunos...) ou lá se mantém na paz do senhor. O que as escolas podem fazer (e fazem) é pôr esses professores em turmas/anos/disciplinas em que essa incompatência passe de mais fininho (disciplinas sem exame nacional, por exemplo).

      Ora vamos lá ver, eu também acho que se deve investir no público, mas é preciso ver se o Estado tem capacidade para o fazer. É preciso ter conhecimento de causa e de campo, não se podem mudar políticas educativas todos os anos. As escolas não têm sossego. Os professores contratados são fundamentais para o sucesso e qualidade e são tratatdos abaixo de cão... Não é premiada a excelência, nem tampouco a competência. E isto não pode ser. Outro exemplo, a maior parte dos programas são feitos por senhores doutores professores universitários, não por professores dos respetivos ciclos de ensino... Mas isto fará algum sentido?

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  7. "Só me custa que as pessoas vejam tudo como preto no branco quando a maior parte desconhece a realidade dos colégios com contrato de associação, principalmente nos meios mais pequenos."

    isto! é muito isto que tenho tentado explicar quando se discute este assunto. já deixei a minha opinião num blogue vizinho, com (tentativas de) explicações e constatações de uma realidade que conheço bem e me é muito próxima mas parece que isso não interessa...
    pintou-se um quadro de que estamos a 'subsidiar' mensalidades de riquinhos queques com posses para andarem no colégio alemão/francês/s. joão de brito/moderno/etc e não se consegue tirar as palas dos olhos para se procurar saber mais, informar-se e olhar para fora da fronteira do distrito de lisboa...

    muito se gozou com o pai que apareceu no vídeo da manifestação a dizer que o filho sofria de 'bulle' na escola pública, mas é aquele pai que representa a maioria dos pais e mães destas crianças, porque é de onde vem este pai que estão estas escolas. continuam a achar que são pessoas com posses e com capacidades para pagar 'melhor' e que querem andar á boleia da mam do estado?

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    1. É muito triste. Hoje ouvi na rádio que 80% das pessoas estão contra os colégios de associação. Assim mesmo "contra os colégios"... Enfim! Marketing muito bem feito é o que te digo...

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    2. foi por aí que comecei mesmo o meu argumento! ao porem logo a etiqueta de 'colégio' a todas as escolas com contrato de associação arranjaram a maneira ideal de plantar na ideia de todos que são escolas de elite. não são... nem nada que se pareça!
      A-D-O-R-A-V-A saber qual o universo desse estudo... tenho cá um dedo que adivinha que me diz que esses 80% (para não dizer 100%) vivem todos em lisboa, ou vá, na loucura das loucuras também no porto.

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    3. Ai pá! Então eu escrevo á e mam e ninguém me diz nada? Isto transtorna-me a cabecinha! Leia-se 'à boleia da mama do estado'.

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    4. Tranquila... Os corretores de gralhas e ortografia não param muito por aqui... Corro-os à pedrada. :D

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    5. Já eu adorava perceber como é que não esse pai vai reagir quando perceber que mesmo nos colégios de elite existe bullying...

      Então passou para o privado e fez-se o milagre? Ou será que tem a ver com a forma de agir de determinados auxiliares educativos? Ou são os professores ou é o quê?

      Eu acho esse argumento mesmo pobre, lamento mas acho e acho também que como dizem os outros têm palas "vocês" também as têm. Têm as palas porque não interessa ver para além do extremo e eu diria que as piores escolas públicas estão precisamente em Lisboa...

      Perto de onde vivo existe um colégio desses de associação, ao lado (a uns 5 minutos) uma escola pública. Essa escola pública está bem cotada no ranking (melhor que o tal colégio), não há violência, bullying em excesso, não há gangs, nem droga nem nada (no dito colégio os ex-alunos falam de droga a ser vendida em pleno recinto escolar).
      Mas lá está, é diferente para os paizinhos desses meninos dizerem que os filhos andaram no colegio X ou na Escola Y... e não é uma questão de estatuto? Poupem a inteligência dos outros e não se esqueçam que não são os únicos que conhecem contratos ou escolas com contratos de associação.

      Os argumentos mais "giros" que eu ouvi foi em falarem de aulas de esgrima que os filhos iam deixar de ter. Toda a gente sabe que esgrima é algo fundamental para qualquer criança.
      Não tirem a esgrima às dezenas de alunos aos quais pagamos esse luxo...os miúdos que andam 1.30h para ir para a escola por falta de opções viáveis? Esses deixem-nos continuar a sofrer e não invistam nesses... é que esses coitados são os "serranos" lá interessam para alguma coisa?!
      Eu chamo a isso, mais do palas, chamo umbiguismo.

      Se são privadas não são públicas portanto é natural que lhes chamem colégios. Escolas como as outras não são.

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    6. Há casos para todos os gostos. Não devemos é meter tudo no mesmo saco. O que a mim me mete aflição é que não sejam os do público a exigir a qualidade que se têm nesses tais colégios (os que a têm). Não, o que se faz é exigir que os outros baixem a fasquia, que se contentem com o poucochinho que (nalguns casos) o público tem para oferecer... Faz-me lembrar a história das 35 horas dos funcionários públicos... Aquilo que se devia fazer era apoiar essa decisão, esperar que ela fosse aprovada e depois exigir para os restantes trabalhadores... Mas não... Aqui-d'el-rei, quereis lá ver que os do público são mais que os do privado e toca do boicotar a medida.
      Ou seja, é olhar para o vizinho e puxá-lo para baixo e não exigir que nos permitam subir ao patamar onde o vizinho está.
      Nós, enquanto povo, temos muitas qualidades, mas esta cultura de nos contentarmos com o poucochinho, não a entendo nem aceito...

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    7. Escolhi o exemplo desse pai porque foi a parte do vídeo que vi e dizer que é o pai do "bulle" era a única forma que tinha de o identificar e de o usar como exemplo, não pelo bulle que existe em todas as escolas, mas exatamente por ser serrano, como chama aos alunos que levam 1,30h a chegar à escola. Porque são esses alunos que demoram 1,30h a chegar à escola!! E isso não vai mudar porque eles vão sair de uma escola e entrar noutra ao lado, a casa deles continua a ser longe. O que vai mudar é por exemplo eles saírem de uma escola que tem um horário alargado, compatível com o horário de trabalho dos pais e possivelmente autocarro da escola que os transporta para uma escola que não tem nem horário alargado nem transporte.
      Não ouvi esse argumento do esgrima em lado nenhum, mas também não ouvi nem li tudo o que já apareceu sobre o assunto.

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    8. NM eu não acho que a fasquia deva ser mais baixa, acho é que antes de se elevar a fasquia tem de se pensar no melhor para os alunos. Todos. Não alguns, não os "meus", os "teus" ou os da vizinha. Eu até sou uma priviligiada por poder pagar uma privada mas ter 5 escolas públicas em meu redor, 3 das quais excelentes em todos os aspectos. Aliás com a ajuda da associação de pais conseguiu-se coisas espetaculares para os miúdos. Mas isso é a "minha" realidade (e a das poucas centenas de alunos da minha área). Não é a realidade dos tais miúdos que falo e de centenas de outros.

      Acho injusto não se investir a sério em todos os miúdos por igual para oferecer a alguns o privilégio de determinadas coisas.

      E mais, acho completamente despropositado o tal exemplo da escola pública a 5 minutos da outra escola.

      Em relação ao horário alargado concordo que é um grande defeito da escola pública. E porque não, na loucura, começar realmente a elevar a fasquia para as públicas de forma a que garantam precisamente o mesmo? Ou devemos só assegurar as coisas a meia-duzia de alunos?

      Ps: no caso que eu falo os miúdos vão e vêm de autocarro, não há cá paizinhos a ir buscá-los (na grande maioria), é vê-los nas paragens às 19h e 19h30 à espera dos autocarros (existindo uns 3 por dia) e muitas vezes a viajarem em pé como sardinhas enlatadas, provavelmente o dobro dos miúdos em pé daqueles que cabem sentados.

      Para mim é impensável pagar esgrima a meia-duzia enquanto estes (e outros tantos) não têm o mínimo e o básico. Depois de todos terem acesso ao básico, sim, agora como Estado Social que somos não podemos dar mais a uns e não dar nada a outros.

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    9. (Eu estaria capaz de apostar que essa história do esgrima é uma actividade extracurricular que o colégio consegue a preços reduzidos para os pais, por serem muitas crianças. Não acredito que o Estado suporte aulas de esgrima.)

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    10. esqueçam por momentos o 'público' e 'privado' da coisa.
      o estado paga a estas escolas um valor que calcula seja o custo das mesmas nas escolas públicas, certo? nesse ponto a igualdade e as oportunidades são as mesmas. partem as duas com o mesmo valor por turma (em teoria). acontece que uma gestão (as dos CAs) funciona e se proporcionam coisas melhores, e outra (escolas públicas) não funciona. isso é que deveria ser pensado e estudado. daí estar a dizer há dias que se deveria tomar estas escolas como exemplo e não exterminá-las.
      concordo com a NM com essa questão do esgrima, e se não fosse essa a situação, sinceramente não via problema de maior nisso porque isso só significa que a escola em questão, com o valor que receber por turma, consegue proporcionar isso aos seus alunos. por isso deveria ser tomada como exemplo e não destruída porque sim.
      uma escola não são 4 paredes, não são só aulas, ou qualidade de ensino, são projetos educativos, são respostas às necessidades das famílias e lamento dar esta triste notícia mas as escolas públicas não dão uma resposta eficaz. o que tenho vindo a tentar defender desde que começou esta algazarra é que se deve elevar a fasquia e não destruir o que funciona bem só porque não é estado.

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    11. Esgrima foi um dos exemplos dados pelos pais defensores das privadas, se é paga ou não pelo Estado não tenho forma de saber.

      Não muda nada no meu ponto de vista em tudo o resto. Seja aulas de esgrima ou outra coisa qualquer, não concordo que se paguem a alunos que têm opções públicas para frequentarem escolas privadas. Não enquanto todos os alunos em Portugal não tiverem o mínimo assegurado.

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  8. Existem escolas publicas boas e más assim como colegios bons e maus.O investimento deverá ser sempre numa Escola Pública de qualidade, e que deve ser mensurada em termos de qualidade da escola e dos docentes, que devem ser avaliados de forma isenta.Os colegios de associação devem sujeitar-se as leis de mercado, como uma empresa que realmente são.Quanto as habilitações de um engenheiro, e falo como um só tem para a sua area de especialidade e Matematica.Nao concordo efetivamente que se possa dar Matemática, quando há tantos professores que fizeram a sua especialização na àrea, contudo não deixo de referir aqui que o meu melhor professor de Matemática, foi um Engenheiro Geológico.Como em todos os locais existem bons e maus profissionais.

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    1. Já respondi lá em cima, minha única dúvida é que o Estado (nas suas trocas e baldrocas constantes) tenha capacidade para gerir a educação como ela deve ser gerida (com critérios, exigência, respeito pelos alunos e professores, e essencialmente com bom senso). Tenho para mim que a ducação não pode ser gerida ppor atacado como se as escolas se tratassem de repartições de Finanças.

      Quanto às habilitações dos engenheiros, estava claro a hiperbolizar... :) (é não ligar, consequências da minha arrogância) e Claro que ter só habilitação suficiente não é condição suficiente a ser mau professor, mas a verdade é que os programas mudaram muito, estão muito mais exigentes, extensos e específicos (o que não significa, muito pelo contrário, que os alunos agora saibam mais), do que eram há 15 ou 20 ans atrás.

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    2. * e claro que ter só habilitação suficiente não é condição equivalente a ser mau professor,

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  9. Bom Dia. Por acaso já se deram ao trabalho de ler o relatório que suportou a decisão de não abertura de turmas de ínicio de ciclo em alguns colégios?
    PS. Colégios é o nome da grande maioria das instituições particulares com contrato associação.

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    1. Bom dia! Ninguém lê nada Sérgio, como deve ter constatado por estes dias a opinião é praticamente unânime, clarinha como a água, tão óbvio que nem vale a pena ler nada: se querem o ensino de qualidade que têm nos colégios (ui, que finesse) que paguem a mensalidade... Trigo limpo farinha amparo e não se fala mais nisso.

      (Sim, os autores do estudo são os primeiro a reforçar que aquilo não deve servir de base a uma decisão vinculativa...)

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    2. eu li o 'estudo' e achei-o a maior vergonha.
      começam logo por fazer rácios alunos-professores e alunos-turma mas só das escolas com CA, das públicas não interessa saber esses dados... Apenas indicam o grau de ocupação (1-5).
      Depois, as (não) justificações que dão para a mudança é ridícula, quando não é inexistente.
      Eu conheço a realidade de uma das zonas do país, uma das turmas que é cortada numa das escolas com CA vai para uma escola com ocupação 5, na outra as crianças têm que ir para outra freguesia...
      Absolutamente ridículo e clara indicação de que conhecem zero das realidades locais...

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    3. Não lemos o mesmo está visto!

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    4. O estudo de que falo é o do ministério da educação de maio de 2016 intitulado "Análise da Rede de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo com contrato de associação".
      O número de escolas com CA visadas é de 79, a "grande maioria" denominadas de 'colégio' é metade, 38 para ser exata.

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