Hoje tive que participar numa conferência importante, com gente importante...
Obviamente que tive de levar o Baby (que obviamente, mesmo antes de sair de casa, já atrasados, vomitou a roupa que criteriosamente lhe escolhi para botar figura).
Obviamente que os sapatos me magoaram os pés porque tive que andar (muito rápido e a descer) na calçada portuguesa.
Lá chegada tive de ter conversas (minimamente) inteligentes com gente inteligente...
E o Baby por ali andava, de colo em colo e de olho arregalado... E os pés que me doíam tanto... E eu sorria para este e acenava para aquele e "ai que já não estou habituada a isto" e "a ver se ninguém se apercebe o quanto estupidifiquei no último meio ano"... E o Baby por ali... De olho arregalado. De repente olho para ele e vejo-o de olho arregalado demais... Estaria a fazer cocó? Ora merda... A probabilidade de tão imponente e austero edifício ter um fraldário seria mais ou menos a mesma que ter uma vending machine... "Logo agora que não posso deixar fugir este...", "E agora faço o quê? Não posso, simplesmente, cheirar-lhe o rabo...", penso. "Com licença, eu já volto..." digo eu à pessoa importante que não queria deixar fugir... Vou com o Baby à casa de banho. Cheiro-lhe lá o rabo. Falso alarme. Olho-me ao espelho... Ora merda, três pontinhos de rímel na bochecha... Dou um jeito àquilo. Volto à reunião. "Tiram-me" o Baby outra vez. E ele por ali feliz da vida. E eu falo com pessoas importantes, sobre coisas importantes e lá me vou apercebendo que a coisa, às tantas, é como andar de bicicleta e que, às tantas, estamos ali todos a representar numa verdadeira fogueira de vaidades... Sim, às tantas, não falando muito, olhando nos olhos e sorrindo apropriadamente, consigo botar uma figuraça do caraças, taliqual como antes.
Mas os meus pés... Ai God os meus pés... Entretanto dou-me conta que isso de sorrir quando estou fisicamente a sofrer é-me cada vez mais fácil... "Sonsa!", penso. Retomo a conversa com a mesma pessoa importante de há pouco, quando se aproximam com o Baby e me dizem que ele deve ter cocó. "É que eu senti uns tremores...", disseram. "Eh pah, não posso deixar o senhor pendurado outra vez...", penso... "Não, não deve ser... São gases, sabe? Ele tem muitos gases...". Que categoria de conversa... "Peço-lhe desculpa senhor importante..." Junta-se outra pessoa importante à conversa e eu, com ar sério, ponho a reputação a salvo com duas ou três tiradas inteligentes, que ainda estou para perceber como é que se me ocorreram... Não perco nunca o Baby de vista... "Caramba... Têm mesmo de dar beijos ao miúdo?", penso enquanto abano a cabeça a dizer que sim senhor... Durante a conversa com os senhores importantes a coisa proporciona-se e sai-me uma piada (bem parva por sinal)... Dois segundos de silêncio... O senhor mais importante A olha-me nos olhos e gargalha, sendo seguido pelo senhor menos importante B (taliqual como nos filmes)... Eu gargalho também e penso... "Ora merda, não descongelei nada para jantar..."
"Sim, sim, concerteza que almoço convosco", digo eu com um sorriso enquanto os fdp dos sapatos me trucidam os pés que já devem estar em sangue... "E o Baby? Está aqui está num berreiro com a fome...", penso. Lá lhe dou um biberão à mesa... Outra vez de colo em colo... "Por favor meu rico filho, não vomites em cima dessa senhora... Se tiver mesmo de ser, vomita nesse à tua direita", penso com muita força... Entretanto ponho-o no carrinho, embalo-o com uma mão e não como só com a outra. Uma senhora não come só com uma mão, pois não? E eu tinha taaaanta fome... Mas comi pouco... Muito pouco! Uma senhora come pouco, não é verdade? Por várias vezes passo, discretamente, a língua pelos dentes para me certificar que não ficam por lá restos de comida... "E o Júnior? Tenho de me despachar a tempo de ir buscar o Júnior...", penso. "Sim, com certeza que podemos falar...", "É mais um café por favor...", digo... "Bolhas... De certeza que já tenho bolhas...", "Caramba... Agora é que me cheira mesmo a cocó... ", "Como já são as 16h?", "Por que no te callas?", "Não me posso esquecer de passar na costureira", "Será que a dor de garganta do Júnior passou?", "Espero que não tenha caído outra vez", penso... "Sim, sim, claro que tenho todo o gosto em colaborar", digo...
(...)
A sério, mulheres que andastes a queimar soutiens... E tereis estado quietinhas, não?