NM abandona o seu posto de trabalho a meio do dia para ir buscar o seu filho mais velho à escola, em consequência de este ter vomitado.
NM, já em companhia de seu mui abatido filho, estranha a porta de seu pequeno prédio estar só no trinco, e não fechada à chave tal como combinado com os vizinhos, mas não valoriza. NM fecha a porta do prédio à chave.
NM entra em casa e cumprimenta D. Albertina, sua empregada. Filho de NM pega no seu tablet e voa para o sofá.
Em menos de cinco minutos batem à porta. NM espreita e vê um estranho que lhe explica que estava a fazer um biscate no 1º andar e que agora se queria ir embora mas que não conseguia sair porque a porta do prédio estava fechada à chave, se alguém lha podia ir abrir. D. Albertina oferece-se para tal. Dois minutos depois aparece D. Albertina esbaforida, que tinham estragado a porta de entrada, que não abria. Estranho colado a ela. NM olhou estranho nos olhos e percebeu que este estava psicotropicado, se é que a palavra existe. Irrefletidamente e para manter o estranho longe do ninho, NM sai, fecha a porta de casa, leva a mão ao bolso a confirmar que leva telemóvel e pede ao criador que seu filho esteja mesmo absorto lá no seu jogo e que se deixe ficar sossegado dentro de casa, sem se aperceber que estava sozinho.
NM junto à porta da rua, com fechadura estropiada, toma consciência que está barricada dentro de seu prédio, com estranho psicotropicado, com empregada que não parava de o confrontar com as suas incongruências e com um filho de seis anos doente quatro andares acima. NM lembra-se que não estava nenhum carro na garagem e que, provavelmente, não estaria mais ninguém no prédio. NM voa escadas acima a bater a todas as (quatro) portas e confirma que não, de facto não está mais ninguém no prédio.
NM mantem a calma. NM mantem o estranho calmo e faz sinal à D. Albertina para se manter calma, sem confrontar nem fazer perguntas.
NM lembra-se que existe um martelo quebra vidros ao lado das caixas de correio, para ser usado em situações SOS tal como aquela estava a ser. NM tem medo de não conseguir partir o vidro, de magoar alguém ou de o estranho passar a usar o tal martelo como arma. NM pensa enquanto vai dando palpites soltos de como a D. Albertina e o estranho hão de conseguir abrir a porta. Façam força aqui, façam força ali, agora para cima... "Talvez ligar aos bombeiros... Mas se vêm os bombeiros vem polícia..." NM fala em polícia para ver a reação do estranho. Estranho não reage. Enquanto estão entretidos aos safanões à porta NM esgueira-se uns degraus e liga ao 112. NM pensa no filho e pede ao criador que ele não lhe apareça ali naquele momento.
Chega a polícia. Estranho olha esgazeado para NM e D. Albertina, mas nada diz. Continua a tentar abrir a porta. NM passa a chave a um polícia pela abertura da ventilação. Faz sinal a outro a pedir contacto por telefone. Polícia mostra número a NM. NM sobe uns degraus e explica em tom baixo a situação. O segundo polícia sempre a falar com o estranho, para puxar a porta, para empurrar, agora não, agora para cima... Suponho que, pouco mais estivesse a fazer que a mantê-lo ocupado. Polícia acalmou NM, que nada de mal aconteceria agora que eles estavam ali. NM disse que não sabia se o estranho estava armado, que não estava mais ninguém no prédio e que estava uma criança sozinha num determinado andar. O que quer que acontecesse era preciso ir saber logo da criança. NM estava aparentemente calma mas tinha a clara sensação que a situação se podia descontrolar a qualquer momento e por um qualquer clique.
Polícia não conseguiu abrir a porta. Os bombeiros sim.
NM fraquejou das pernas quando viu a porta aberta, e mal o estranho foi manietado NM voou escadas acima a saber de seu filho. Filho de NM dormia (?) profundamente no sofá. Tablet caído no meio do chão. E esta, hein? NM desceu e abraçou D. Albertina, mais conhecida por nem-nem-nem (nem ouve, nem cheira, nem limpa), e recordou porque a mantinha vai para 10 anos. D. Albertina não abandonou NM por um segundo, conseguiu controlar os nervos, conversou e distraiu o estranho enquanto me ausentei para ver se havia mais gente no prédio e para ligar à polícia. D. Albertina é uma mulher com os tomates no sítio. D. Albertina tinha sido, na verdade, mulher para arrumar o estranho com dois pares de lambadas bem assentes. Acho que aquilo das "mulheres do Norte" se deve a mulheres como ela.
O estranho não estava armado nem nenhuma casa tinha sinais de arrombamento. Mas estranho foi levado preso porque tinha um mandado de captura pendente.
Já a situação estava perfeitamente controlada e NM tremia ao falar com os bombeiros. NM tremia ao falar com a polícia.
NM ainda treme agora, passadas 24 horas, ao pensar no que podia ter corrido mal.