terça-feira, 28 de março de 2017

Só mais uma história sobre os problemas de matemática em aberto e já me calo.

Talvez o problema de matemática em aberto mais conhecido seja a prova da Conjectura de Goldbach.

Christian Goldach (1690-1764) foi um matemático contemporâneo de L. Euler que conjecturou que qualquer número par maior que dois pode ser escrito como a soma de dois números primos,

Tal como 20 = 7 + 13 ou 100 = 89+11 ou 438 = 29 + 409.

Ou seja, apesar de ainda não se ter encontrado um caso onde tal conjectura falhe (o designado "contra-exemplo", indo verificação já no 4*10^8 pela mão do português Tomás Oliveira e Silva: ver http://sweet.ua.pt/tos/goldbach.html), também ainda não se conseguiu a demonstração matemática da sua generalidade.

E agora, a história que vos queria contar.

A este respeito foi publicado um livro: Uncle Petros and Goldbach's Conjecture, que versa sobre um tio Petros que ficou obcecado com o problema, e que a dada altura se convenceu que tinha conseguido a prova matemática. Pela sua mão, a conjectura passaria então a teorema.

Por altura do lançamento do livro, em 2000, as editoras (a Bloomsbury nos EUA e a Faber and Faber no Reino Unido) fizeram um seguro, consultaram matemáticos de Fields e, como manobra publicitária, lançaram um concurso: seria atribuído 1 milhão de dólares a quem, no prazo de dois anos, conseguisse a prova da Conjectura.

Ninguém conseguiu. E o milhão de dólares ficou por entregar.

Mas... O tal concurso tinha um constrangimento muito sério, já que só era admissível a moradores ou nos Estados Unidos ou no Reino Unido. (Provavelmente com medo dos portugueses.)

Os portugueses tiveram no entanto a sua oportunidade por via das Publicações Europa-América que com edição da versão traduzida: O Tio Petros e a Conjectura de Goldbach, também deu a oportunidade aos seus leitores de enriquecer por via de tal demonstração e lançou o mesmo concurso.

Bom... Quer dizer... Claramente com medo do intelecto tuga, as Publicações Europa-América não fizeram o concurso bem bem igual... As diferenças?! O concurso esteve aberto apenas 1 ano, não 2. E o prémio era de 10 000€, não de $1 000 000.
"Melhor jogar pelo seguro. No outro concurso eram elegíveis trezentos e tal milhões de pessoas e ninguém conseguiu, mas com os portugueses nunca se sabe... Quando mete dinheiro então, são do piorio...", terão pensado.

Obviamente que ninguém conseguiu, mas também com um prémio tão fraquinho... Mais vale tentar a sorte a ligar para aqueles números dos programas do Goucha ou assim...

14 comentários:

  1. Isto nem de propósito, NM. Andava - a sério - com uma revista desde setembro ou outubro aberta num artigo de Jorge Buescu para ler quando fosse possível. Foi possível há dias, no cabeleireiro. É sobre uma tal de teoria de Teichmuller Inter-Universal que um japonês impenetrável chamado Mochizuki andou a desenvolver durante 15 anos de isolamento e muito trabalho. Nessa teoria, ele resolve a Conjectura ABC da qual eu nunca tinha ouvido falar, mas que para ti deve ser tipo tu cá tu lá. :-)
    Achei isto giro, porque a Conjectura ABC parece prima (sim, é chalaça) da "tua" Conjectura aí de cima.
    Diz que em A+B=C, se A e B tiverem muitos factores primos pequenos, então a sua soma tem poucos factores primos relativamente grandes. Exemplo: A=32 (2^5) e B=729 (3^6). Factores primos pequenos: 2 e 3.
    A soma, C, é 761 que, neste caso é ele próprio primo (e é grandinho).
    Eu só tenho pena de não ser suficientemente inteligente para desbravar estas coisas todas por dentro e sair ilesa. :-)
    (desculpa lá a seca)

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    1. Seca, Susana?! Seca?! Um dos comentários mais emocionante da vida deste blogue... Pelo menos para mim. :DDD não fazia ideia ideia dessa tal conjectura ABC... Tenho de ir investigar...

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    2. Olha, sabes o que vou fazer? Vou tirar fotografias ao artigo e enviar-te por mail, que já vi que tens ali no perfil. :-)

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    3. Ora aí está! :) um beijo.

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    1. Então, porquê?! Se falares das especificidades da tua área é igual, mas ao contrário... :DD Como um agricultor curioso e sabedor a falar das suas coisas a um cirurgião... Cada um sabe das suas coisas...

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    2. Eu e a matemática temos uma relação de amor/ódio :D

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  3. Muito interessante, este assunto. Tem graça que assisti recentemente a uma palestra na Universidade do Porto na qual o orador falou precisamente nos assuntos que referiu nestes dois posts.

    O orador contou também esta história, precisamente desta maneira. E referiu a mesma frase de Euler que mostrou no post anterior. :)

    Muito interessante.

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    1. O Professor Machievelo? (Foi dele que as ouvi...)

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    2. *MachiAvelo

      (Tendo sido na UP... Quem mais?! :) mas pensando bem, não estou certa que a frase do Euler a tenha conhecido por ele... A história do concurso foi de certeza que se não estou em erro ele até fez parte do júri nacional, mas a frase já não estou certa...)

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    3. É verdade, especialmente sendo este o assunto. Não estou associado à Universidade do Porto, mas conheço-o de nome.

      A frase de Euler é muito conhecida. Faço investigação em Matemática pura e socorro-me de argumentos semelhantes quando me perguntam para que serve o que faço ;)

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    4. (Já agora, comentei acidentalmente como anónimo lá em cima, mas, como já se deve ter percebido, era eu.)

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    5. Fazes investigação??! Em matemática??!!!!! Pura?????????!!!! Oh céus... Só espero que não seja à custa do erário público...

      (Desculpa, não me resisti... ;DDDD)

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