quinta-feira, 19 de março de 2020

A minha gestão de recursos emocionais anda difícil

Falo com os meus amigos médicos, e... Falta de material, falta de pessoal (equipas absurdamente desfalcadas, essencialmente, por quarentenas), falta de planeamento, de visão estratégica e de tomates por parte das chefias. O típico: "Vamos indo e vamos vendo..." Vai correr mal, não tem como ser diferente.
Em concordância recebo email institucional: recolha-se todo o material que possa haver disponível para facultar aos hospitais já em dificuldades de stock (sim, já). Falamos de que material? Coisas tão sofisticadas como luvas e máscaras.  

Falo com os meus amigos da investigação em saúde... Com esta taxa de contágio, é para esquecer... Sem vacina, nem que nos viremos do avesso. Feche-se o que der e daqui a quinze dias recomeçamos os contágios com os que, inevitavelmente, vão escapar... Pode ser que corra bem, mas sem grandes expectativas. A vacina? Normalmente nunca antes de dois anos. Neste caso, atropelando tudo e todos... Sei lá.. Um ano? 


Falo com a minha cunhada, psicóloga, (co)proprietária de uma clínica (encerrada, salários a manter)... Não sabemos no que este isolamento vai resultar. Como estará a nossa saúde mental daqui a um mês? E a das crianças? E a das crianças autistas e das suas mães que ao segundo dia já ligavam desesperadas sem saber o que fazer? Vai ser duro...


Falo com o meu irmão, finanças e optimista que eu sei lá... Não temos economia para aguentar isto... Se não morrermos do mal, morremos da cura. Simples.

Resumindo e concluindo:

Um grande bem haja aos meus amigos que me enviam memes de gatos a lamber a própria genitália, a dizer que não percebem a histeria com o papel higiénico. São eles que me têm mantido sã.

28 comentários:

  1. Na Faculdade onde trabalho já recolhemos todas as máscaras, luvas, fatos protetores, óculos etc e enviámos para os hospitais que pediram.
    Os meus pais são profissionais de saúde num dos maiores hospitais do país e sei bem como está a situação. Aliás, tenho 40 anos e o ambiente hospitalar faz mais do que parte da minha vida. Por isso digo-lhe, tenha lá calma que a procissão ainda vai no adro.
    Os meus pais passaram pelo fim de uma guerra mundial, por um país em ditadura, por um período de "revolução", etc. Estão cá, na linha da frente a lutar e mesmo com quase 70 anos, não se deixam ir abaixo.
    Por isso, nós que estamos com menos 30 anos no lombo, aguentamos muito mais.
    Esse discurso do profeta da desgraça não leva a lado nenhum.
    A minha mãe diz que esta geração (a nossa) é uma "florzinha". Tudo nos custa e tudo é uma desgraça. Se ela e o meu pai tivessem sido assim (e os da geração dela), onde é que nós estaríamos...

    Ana Rita

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    1. Oh Ana Rita... Por saber como está a situação e por saber que a procissão ainda vai no adro é que estou preocupada.

      Mas é bom saber que há gente assim... Fortalhuda e de pelo na venta... Que se perder os pais, na linha da frente, por o Estado não ter tido capacidade de lhe arranjar proteção básica para uma situação mais que previsível vai encolher os ombros, resignar-se e dizer "Paciência... A humanidade já passou por pior."

      (e cá por coisas tenho sérias dúvidas da veracidade deste comentário... Não conheço ninguém, NINGUÉM, que trabalhe num hospital e que esteja com esse discurso do "florzinhas"... Já de quem está em casa a queixar-se do horror que isso é, sem qualquer ligação à saúde, conheço vários...)

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    2. E quanto a isso da geração dos floriznhas, as pessoas de setenta anos que tenham juízo e tento na língua. Simplesmente as circunstâncias são diferentes, simplesmente os desafios são outros. Vamo-nos safando. Se eles tivessem exigido mais em boa altura, se tivessem criado outra cultura democrática, com outra exigência, não estávamos agora entregues aos governantes que temos, exigiamos mais.

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    3. Não sei de quantas gerações estamos aqui a falar, tanto pode ser uma, duas ou três, não sei as idades da NM e da Ana Rita. Eu tenho 34 e esse tipo de conversa ouço dirigida é a adolescentes, quando deixam a côdea da pizza no prato. Estou farta dos "Vai correr tudo bem". Eh pá, está a correr tudo mal há um tempo e é melhor vivermos com consciência disso, preparados para isso, para que de facto, a dada altura, fique tudo bem — para os que não perderam ninguém, pois até há pessoas que vão perder vários membros familiares de uma vez. Cada um que encontre o modo de acção que melhor o proteja, seja pelo pessimismo, seja pelo positivismo. Quando vejo um arco-íris, olho para o outro lado e sigo viagem, não vou lá à janela dizer "Ouça lá, ó seu utópico, sua geração de unicórnios, a minha mamã disse que..."

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    4. :) é mesmo isso. Eu tenho 39. E muita esperança nos nossos adolescentes. Mais educados, mais formados, mais críticos, mais exigentes. E é disso que precisamos. Apesar de deixarem a codea de pizza de lado. :)

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    5. Os de 80, fins de 70... A "geração rasca"... :p

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    6. :) Verdade. A virtude do poucochinho já passou de prazo.

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    7. "Vai correr tudo bem" faz-me lembrar o "Keep calm and carry on" criado durante a 2ª GG em Londres, devido aos bombardeamentos. Não passa da mesma mensagem para anestesiar e acalmar as massas, como um gigante comprimido de placebo.

      (PS: não sou da área da saúde nem tão pouco conheço quem remotamente seja)

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    1. Não, mas um problema de cada vez... Agora fiquemos por casa, os que podem e o que melhor que podem. A ver se a transmissão abranda...

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  3. Não creio que tenhamos apenas 15 dias de quarentena. No mínimo estaremos perante 3 a 4 meses parados, se seguirmos o exemplo italiano.
    Além disso a nossa população não quer saber, não percebem o básico sobre as transmissões e estão constantemente a fazer asneira com material de proteção que não sabem usar. Muitos mais valia não ter absolutamente nada na cara/mãos e terem os cuidados mínimos de higiene.

    Não é ser profeta da desgraça, é saber o que nos espera.

    Hoje soube que mais uma colega de trabalho está internada com pneumonia. É pediatra, nos 40s, na linha da frente, com família e filhos em casa.

    Tenho sérias dúvidas sobre a veracidade do comentário também.
    Não há material. Já não havia material suficiente de proteção para as necessidades antes do novo coronavirus, não ia ser depois. Além disso houve roubos no SNS de material de proteção. Há cerca de 3 semanas tiveram que trocar a zona onde estavam localizados e trancar o acesso no local onde trabalho.

    Devemos um enorme respeito a todos os profissionais que se estão a disponibilizar trabalhar após a reforma, os que estão no grupo de risco.
    Eles sabem que vão trabalhar sem condições e sabem que o resultado pode ser a sua morte. Isso dá um banho de humildade a qualquer pessoa.

    No entanto, não podemos ser cegos. O nosso SNS está em colapso, há anos que não há investimento, que se trabalha com péssimas condições.
    Itália tem um sistema muito melhor do que o nosso e está em colapso. As nossas fronteiras não foram encerradas atempadamente, o SNS não foi reforçado, os nossos idosos continuam no café e nos seus ajuntamentos típicos e habituais. Temos estado de emergência mas não temos quarentena obrigatória.... E continuamos com pessoas a brincar com isto e a fingir que está tudo bem.
    Não sei em que mundo vivem mas não é em Portugal.

    Fiquem em casa, deixem-se de merdas!
    Se não querem ver os vossos avós ou pais morrerem, deixem-se de merdas e fiquem quietos no sofá!
    Ou podemos estar muito em breve a ver a repetir-se o pesadelo vívido em Itália, ou pior.

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    1. Pois...

      Quão aflitivo é estarmos sempre entregues à sorte? Ao remedeio? Ao logo se vê? Ao poucochinho? Ao "podia ser pior"?

      Até quando???

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    2. Pergunta: como usar eficazmente os meios de protecção?
      Porque então ninguém faz um texto/vídeo a esse respeito, caramba?

      Eu ando de máscara há um mês, comprei uma "reutilizável" que provavelmente faz-me mal aos pulmões. Mas se evita o contágio a terceiros caso eu seja portadora, não me incomoda. Incomoda-me que não existam óculos de proteção também :) Porque eu posso vir a ser contaminada por qualquer espirro que aparecer, mas não vou contaminar ninguém. Uso sempre luvas, mas posso contaminar-me ao tocar nos ecrãs tactéis das caixas registadoras, por exemplo. Essas não aceitam luvas, nem de borracha.

      Enfim, como é usar devidamente luvas e máscaras? Pode-se lavar as luvas com a mesma água e sabão que recomendam para as mãos que o virus "desaparece"? E roupas? Ando a lavá-las quase todos os dias, caramba! Sapatos? Cuidados de limpeza na casa? O banho diário tem de incluir o cabelo?

      Dúvidas, desconhecimento...
      Desconhecimento é o que me deixa triste, quando já evoluimos tanto como humanidade no que respeita a saber.

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    3. Quanto aos óculos, pelo que sei o vírus não entra pelos olhos. Estes servem de "reservatório" e o caminho é o típico: Olhos -> mão ->boca. O mote é lavar as mãos (ou desinfetar) sempre que se puder, basicamente.
      Tenho alguns posters sobre proteção. Vou publicar a seguir.
      Quanto ao uso de máscaras e luvas... Sei que a OMS fez uns vídeos... Vou pesquisar.

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    4. https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/when-and-how-to-use-masks

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    5. https://expresso.pt/coronavirus/2020-03-20-Covid-19.-DGS-alerta-uso-de-luvas-na-rua-nao-e-eficaz-e-pode-contribuir-para-a-transmissao-do-virus

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    6. Olha, já li. Acho que deixa muuuito a desejar. Esta "informação". É bastante incompleta! O link do expresso diz para não se usar luvas, que pode até ser pior (onde já ouvi isto? Ah, dizem o mesmo das máscaras). Mas não explicam PORQUÊ. Sendo estas uma das 5 perguntas a que qualquer notícia tem de obedecer. ai, ai.... Fica-se muito desinformado com este tipo de divulgações. A outra sa OMG também deixa muuuito a desejar. explica como usar uma máscara cirúrgica. E quanto às outras? Eu comprei uma REUTILIZÁVEl (https://gritaportugal.blogspot.com/2020/03/medidas-de-precaucao-com-o-corona-e.html) de classificação FFP3. Supostamente impede as microparticulas de serem inaladas. Todas, não só a deste vírus, como as da poluição que todos os dias nos envenena de forma invisível. E pode ser lavada e reutilizada, até que comece a dar sinais de desgaste. Recomendações como a lavar seriam benéficas. Mas também não as há. Muita pouca informação e ainda menos a que é credível.
      Obrigada por partilhares!

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    7. Tens razão. É uma balburdia. Ninguém sabe muito bem do que está a falar, porque de facto ainda não houve tempo para se perceber. Quanto tempo se mantém o bicho vivo no metal, no plástico, no asfalto? Hum... Não se sabe muito bem... (E atenção, o vírus que anda por aqui pode já não ser exatamente o que andou na China - a taxa de mutação nos vírus é brutal) Acho que todo o cuidado é pouco e mais vale não facilitar. Pelo que descreves eu, se fosse a ti, deixava os sapatos à entrada de casa e punha a roupa para lavar todos os dias. Usava luvas (lava-as sempre que possível, não sei se sabão chega mas álcool funciona de certeza, e não leves a mão à cara) e máscara (mais uma vez água e sabão deve chegar para lavar, mas se tiveres possibilidade álcool nela). Anda com um lenço humedecido em álcool no bolso do casaco para abrires portas e carregares botões de elevador. Todo o cuidado é pouco.

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    8. Isto dá da utilização correta é difícil de explicar. Às vezes até é necessário ir um pouco além e perceber um pouco dos vírus.

      Por exemplo, mais abaixo fala das micas para protecção. Ora todos os materiais têm alguns poros e os vírus têm tamanhos diferentes.
      Eu não sei qual a porosidade de uma mica para saber se consegue conter o vírus ou se apenas vai servir para a pessoa se sentir segura e fazer mais asneiras.

      O grande problema da má utilização de material protetor é a falsa sensação de segurança. Não ficarão mais seguros, pelo contrário, ficarão mais expostos.

      Exemplo das luvas: as mãos não são via de entrada, logo, usar luvas ou fazer uma boa higienização das mãos é exatamente o mesmo.
      O problema? Ver pessoas que com luvas ficam mais relaxadas, tocam em tudo, fazem contra-contaminação e colocam inconscientemente as mãos na cara/ cabelo porque relaxaram.

      Quem usar óculos, pior. Não só se torna um reservatório para o vírus como a pessoa terá ainda mais tendência para não mexer na cara.

      A máscara atrai os mesmos problemas pela sensação de confiança. As pessoas aproximam-se mais e são um maior risco. Além disso, as máscaras têm que ser bem colocadas e a isso acrescem os cuidados a ter para as colocar e tirar sem contaminarmos a zona onde vamos colocar a boca.
      E a tudo isto acresce o facto de ser algo estranho. Vamos passar os dias a querer ajustar e há uma muito maior tendência para mexer na cara constantemente além de nos aproximarmos mais dos outros que podem estar contaminados.

      Muito resumidamente é este um dos maiores problemas com a má utilização de materiais de proteção.

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    9. Creio que a maior parte das micas são estanques. Um teste fácil é encher uma com água, como se fosse um saco, e ver se fica molhada da parte de fora.

      A questão das luvas compreendo, apesar de achar que se leva naturalmente menos a mão à cara.

      Quanto à máscara, quem está a fazer atendimento ao público creio que deve usar.

      Ontem falei com uma amiga minha que está no Rio de Janeiro, onde a consciencialização está difícil, e ela disse -me que usa sempre máscara quando sai à rua porque as pessoas se afastam naturalmente dela (possivelmente a pensar que ela esteja infetada).

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    10. Eu não acho que não se deva utilizar NM. Acho é que as pessoas deviam ser alertadas para este risco.

      Fui às compras há cerca de 2 semanas e uma senhora andava lá com luvas cirúrgicas. Metia a mão em tudo, ia com um carrinho de compras, virava frascos, metia a mão na mala, na carteira, no telemóvel, atendeu uma chamada, depois tirou o cabelo da cara... e isto nos 5 minutos em que nos cruzamos.
      Qualquer uma dessas superfícies poderia estar ou ficar infectada.

      Em relação às máscaras vejo a má utilização todos os dias no hospital. O mais habitual é colocarem as máscaras para o queixo quando precisam de falar, por exemplo. É automático para a maioria das pessoas porque não têm o hábito de utilizar máscaras.

      Neste momento devíamos deixar a utilização para pessoas em risco, principalmente para os profissionais de saúde mas não só. Concordo que quem trabalhe com público em bens essenciais devia ter máscara mas ( na minha opinião) os outros locais deviam encerrar. Até os dentistas estão a encerrar e a oferecer material ao SNS... Há inúmeras coisas que não são minimamente necessárias que têm autorização para continuar a funcionar ( como os jogos sociais, por exemplo ). Para quê?
      Na minha opinião nestes casos a solução não é dar máscaras. É encerrar e reduzir o risco ao máximo.

      E o nosso grande problema é a falta de material no geral mesmo.
      Se quem o for utilizar não souber o básico não só não se protege como se pode colocar mais em risco. É desperdício de recursos que tanta falta estão a fazer a quem tem mesmo de assegurar o funcionamento da sociedade ( profissionais de saúde, forças de segurança, trabalhadores de serviços essenciais, etc).

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    11. Sim, concordo.

      Mas é verdade o que a Portuguesinha diz e eu nunca tinha pensado nisso.
      Dizem para as pessoas se protegerem, se protegerem, se protegerem... Dizem isto até à exaustão. Mas não há uma entidade publica, competente, com especialistas, que faça a porcaria de uns posters com instruções simples: Protocolo para sair de casa, para entrar em casa, para estar na rua, para viver com pessoas de risco (pessoas que estão neste momento a trabalhar a contactar com centenas de pessoas)... Não há informação nenhuma. Quando uma faz mais ou menos como lhe parece melhor...

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  4. E se ser geração "florzinha" significa que nos preocupamos com a sobrevivência dos idosos, então sejamos sempre florzinhas!!

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    1. O comentário anterior? Falso.

      No chapéu "trabalho na saúde" cai muita coisa. Os hospitais estão em estado de sítio. Imaginar trabalhadores de setenta anos com o discurso referido é surreal.

      Trabalhar na saúde (no sentido lato que tantas vezes se lhe dá) num hospital não é estar na linha da frente.

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  5. Belos mêmes ahaha!
    O humor é que nos safa. Ainda dizem mal dele quando tudo corre bem. Tentam censurá-lo, dizendo que há limites. Não, não há. Há mau gosto, mas nunca que o humor deve ser castrado. Ele salva-nos e ajuda muito mais do que muitos têm capacidade para entender.

    Já sabem esses profissionais, como fazer máscaras a partir de uma mika? Vi no face uma espanhola cortar uma capa de uma daquelas pastas para documentos. Atou uma fita e tapou o rosto inteiro, olhos incluídos. Acho que dá para safar muito bem!

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  6. Saltando a leitura de todos os comentários.... Um mega xi virtual minha querida amiga!

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