DE RERUM NATURA
[Sobre a Natureza das Coisas]
Posso testemunhar o primeiro parágrafo:
Não sei precisar o ano, mas diria que foi entre 1989 e 1991, e perante a possibilidade de se vir a reflorestar a Serra do Marão com eucalipto depois de um incêndio, houve gente que se manifestou como pôde e soube.
Era eu uma criança de Bragança, esse reduto de selvagens iletrados e indoutos, e o carro dos meu pais (como tantos outros na cidade) ostentava um autocolante no vidro traseiro com os dizeres "Natureza Sim, Eucalipto Não". E era o que diziam os jornais regionais. "Natureza Sim, Eucalipto Não". O que corria é que onde havia eucaliptos não havia mais nada, que sugavam toda a água e mais nada em sua volta conseguia sobreviver. E que explodiam. Que eram árvores que, simplesmente, "explodiam". (E explodem! Chegam a mandar material incandescente a 20 km (vinte quilómetros!) de distância.) E que não morriam nos incêndios. (E dificilmente morrem, meses depois de arderem já têm novos rebentos e depois de um incêndio, então, é que mais nenhuma espécie se consegue desenvolver.)
Bragança, inícios dos 90.
Ninguém ligou. Porque, afinal, o eucalipto era o "ouro verde" e porque toda a gente sabe que os académicos são uns teóricos, aleados da realidade e das necessidades reais das populações, a quem não vale a pena ligar muito.
Estranhamente, na altura, tal como agora, mais nenhum país parecia ver a riqueza fácil que ali estava... Ali mesmo, à mão de semear. Enfim. Cambada de burros.
Aos que berram que isto, enfim, foi um triste infortúnio. Que ninguém tem culpa. Que nada podia ter sido feito. Que afinal são as alterações climáticas (que resolveram iniciar funções em Portugal a 14 de junho de 2017, precisamente, diz que Portugal está na moda, deve ter sido por isso), que nada podia ter sido feito e que, enfim, são azares da vida, recomendo a leitura do relatório da comissão independente relativamente aos incêndios de junho (versão completa, aqui).
Ao nosso caríssimo Primeiro Ministro,
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"habituem-se" mazé o caralho.
http://observador.pt/2017/08/04/falta-de-limpeza-manutencao-e-tratamento-ameaca-pinhal-de-leiria/
ResponderExcluirHá anos que ouço este senhor queixar-se do abandono a que as nossas matas foram deixadas. Chamaram-lhe velho do Restelo.
No domingo aconteceu o que aconteceu.
É. Mas a culpa é do Trump.
ExcluirGosto da maneira como arrumas com ele.
ResponderExcluir(o resto já sabes que subscrevo)
Há uma vida que o desrespeito pela floresta me tira o sono. Nunca ninguém quis saber, nunca ninguém fez nada de estrutural, nunca foi prioridade para ninguém. Sempre se tentou tudo à lei do menor esforço económico e temporal: presos e subsidiários a limpar mata, bombeiros voluntários, reflorestação rápida... Enfim, tudo pela lei do menor custo. Agora claro, agora que temos um barril de pólvora que explode à mínima chispa é o fim do mundo em cuecas. E agem todos como se não soubessem o que estava a acontecer. Sabiam... Estavam fartos de ser avisados. Estes e os anteriores e os anteriores... Daqui ninguém pode lavar as mãos. Só tinham era esperança que não lhe rebentasse nas mãos.
ExcluirFarta desta cambada toda.