quarta-feira, 8 de junho de 2016

Ainda da educação que já vi que é tema que vos interessa... Vinde cá que vos quero contar uma história e saber a vossa opinião.

(História Verídica.)

Era uma vez uma escola TEIP - Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, que é como quem diz daquelas escolas de que toda a gente foge a sete pés.

Esta escola de que vos falo estava inserida numa zona onde residia uma grande comunidade cigana, de onde eram oriundos grande parte dos alunos.

Era uma vez um professor de matemática dessa escola, que tinha um aluno cigano de 17 anos numa turma de 8º ano. Sem ser no livro de ponto. o professor viu a cara ao aluno duas vezes: uma em que entrou e saiu da sala para ir buscar algo que se tinha esquecido e outra num dia de teste que entregou em branco.

Por altura da reunião de avaliação do 1º período, o tal professor foi informado que o aluno tinha todas as faltas justificadas (?? e não, o aluno não esteve doente, nem lhe morreu ninguém nem... mas pronto, tinha as faltas justificadas) e que tinha de o avaliar fosse de que maneira fosse. (Diga-se, em jeito de nota, que a assiduidade nas outras disciplinas não era muito melhor...) Pois muito bem, estava eu a contar, que o professor de matemática teve que propôr a nota e propôs um... atentai na afronta... "1" (escala de 1 a 5).

Aqui d'el Rei que não podia ser, "Um 1?! Como assim um 1?", dizia o Diretor de Turma secundado por alguns elementos do Conselho de Turma. 

Foi chamada a Sô Directora porque o professor estava irredutível, do "1" não saía e é porque não lhe podia dar "0". 

E a Sô Directora lá veio... (Estatutariamente a Sô Directora nem podia estar presente naquela reunião, mas a urgência da situação não lhe permitia olhar a meios, que em tempos de guerra não se limpam armas e isso.) Quarenta e cinco minutos a discursar que não podia ser, que era um aluno cigano, que se tinha de valorizar as poucas vezes que vinha à escola, que já tinha 17 anos, que o professor tinha de compreender o contexto escolar, e que o aluno era cigano, que tinha ido algumas vezes à escola, e que era cigano e que não lhe podia dar um "1", que isso só era admíssivel se nunca tivesse aparecido, que dar-lhe um "1" à disciplina logo no primeiro período era desmorizá-lo e cortar-lhe as pernas para o resto do ano,  e que "pedagogicamente falando é preciso atender à pedagogia" e que o aluno era cigano (não sei se já disse) e que ela tinha frequentado muitas acções de formação e coiso, que o aluno era cigano e aquela era uma escola TEIP. O professor calado limitou-se  ouvir tão sábias (ainda que repetidas ad nauseam) palavras.

- "E então? Agora que o esclareci, que nota propõe, senhor professor?", pergunta a Sô Directora.

- "Um!", responde calmamente o professor.


Moral da história: O Conselho de Turma votou a nota de matemática e o aluno ficou com "2", porque por várias vezes tinha sido avistado do lado de dentro dos portões da escola e isso tinha de ser valorizado porque, afinal, era um aluno cigano e aquela era uma escola TEIP.

Não é uma história, tão linda?

25 comentários:

  1. Esta história verídica interessa tanto,- no debate sobre as escolas com contratos de associação,- como a outra que contaste no post anterior sobre as escolas que frequentaste... muito pouco (digamos "1") para não dizer nada (digamos "zero"). Se o objectivo é identificar podres no sistema educativo, oh minha amiga, não saíamos daqui tão cedo, mas não me parece que a recente polémica tenha a ver com isso. E quanto às politicas de facilitismo na avaliação, seja para atribuição de "2" a ciganos nas TEIP ou de "5" a não-ciganos no ensino privado, elas são infelizmente transversais (só que, talvez, por motivos diversos). Convém, já agora, não perder de vista que num colégio, sendo os professores contratados directamente pela empresa, é muito mais fácil obrigar os docentes a alinhar pelos diapasões "pedagógicos" dos sos directores do que numa escola pública (podes ler, a propósito:
    http://o_meu_estendal.blogs.sapo.pt/o-avesso-da-camisola-amarela-24426). O professor na pública que insiste no "1" pode vir a ter a vida um bocado mais complicada, no privado é mais simples, porque é despedido.

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    1. Eh pah, oh Kina, a minha inteligência manda-te dizer que não fossem isto só blogues e se sentia insultada.

      (Mal possa escrevo um post e faço o desenho.)

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    2. Podias dizer só, então, não carece de mais um post, qual o objectivo, ou moral da história, deste post. Contribui em que sentido para o debate mais ou menos esquisito que estalou à conta das escolas com contratos de associação? É que não entendo. A minha inteligência não dá para mais, por isso apelo à tua. E, para descontrair, "agora todos!":

      https://www.youtube.com/watch?v=X72MdyiMTUA

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    3. Ahahahahahahahahahah tão parva!

      (Não, vai mesmo a post que tenho desopilar à vontade e se isto fica só nos comentários tenho de me explicar três quinze vezes e a minha vida não é isto. ;) )

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    4. Eu conheço uma pessoa que andou num colégio privado (mesmo pago pelos paizinhos) e eles não tiravam notas abaixo de 8 ou 9, mesmo que os testes tivessem para os 1 ou 2... E eles sabiam isso, aliás muitos mudavam-se para o colégio para melhorar as médias de entrada para a faculdade. Just saying. Aliás um colégio no Porto tem mais do que fama de fazer isso, creio que o derradeiro chamariz de quase todos os alunos é precisamente a subida das médias... vamos por aí?

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    5. Estou um bocadinho cansada da retórica que nos privados se pagam notas, juro que estou. Andei num privado até ao 8º ano e tenho neste momento o meu filho também num privado. Nunca me pagaram notas, tal como eu não pago as notas do meu filho, a diferença? A diferença é que ele está numa turma de 10 alunos em vez de 25, Começa as aulas na primeira semana de Setembro e só vai acabar no dia 30 de Junho, tem professores que são todos dos quadros e que não andam com a casa às costas todos os anos, tem auxiliares, funcionários e demais que fazem tb eles parte dos quadros, que o conhecem pelo nome e que fazem com que a escola seja um lugar muito familiar. Sim, são estas pequenas coisas que podem fazer a diferença nos alunos e que os façam ter melhores notas. Se gostava de ter tudo isto no ensino público? Claro que sim, mas como não o tenho optei pelo privado e sim pago do meu bolso.

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    6. Claro que podem Zariza mas não faltam privados onde se pagam notas efectivamente e onde também há politicas e pressões para nunca se darem menos de X nota. E os professores que não compactuarem com eles são expulsos.

      Não é retórica, é a realidade.

      Ninguém afirmou que eram todos.

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  2. Boa tarde.

    Sou professora há mais de 10 anos e acredito nesta história mas garanto-lhe que não é regra. Muitas vezes atribuí nível um (este ano então tem sido um fartote) e nunca questionário a avaliação que atribuí. O problema desta escola é essa Direção que nunca deveria ter dado razão a quem primeiro questionou a avaliação dada. Maus e bons profissionais há em todo o lado.

    Beijinhos

    ANM

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    1. Numa escola TEIP? Dá 1s numa escola TEIP?

      Beijinhos

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    2. Sim, já aconteceu. Não este ano mas onde estou é pior que muitas TEIP ;)

      ANM

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    3. Ali no primeiro comentário era "...nunca questionaram a avaliação que atribuí...."
      ANM

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    4. Sim, mas não sendo TEIP (ainda que seja "pior") é mais fácil justificável o insucesso já que os recursos não são os mesmos...

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  3. Chegámos ao story time? Também posso partilhar algumas!
    Escola pública secundária (normalíssima):
    - Professor (história) que se sentava à secretária, mandava ler das páginas x a x e ficava a ler revistas a aula I N T E I R A. Depois foi substítudo, e a turma esteve que tempos à espera de um substituto.
    - Professora que se sentava à secretária e lia das mesmas folhas de apontamentos que tinha feito quando começou a dar aulas. 30 anos atrás. Sem nunca se levantar. Indignou-se bastante com uma aluna quando depois de ter dito que dava nota X no final do período e não ter dado (e não deu também explicações à aluna depois disso) a encarregada de educação foi falar com a diretora de turma sobre o assunto. Admitiu depois que se tinha enganado e dado a nota da pessoa que estava imediatamente acima na pauta, nunca corrigiu o erro.
    - Turma de 12. onde parte da turma não teve nunca aulas com a diretora de turma (era prof de uma das opcionais...)
    - Aula de português, turma de humanidades, 12. ano: duas turmas inteiras juntas porque sim. Sala sem ter lugar para todos.
    And it goes on and on and on...

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    1. Pois.. Mas isto não devia ser dito assim com esta ligeireza. Merecemos melhor, temos de exigir melhor. Já foi assim tempo suficiente.

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    2. não, definitivamente não devia. e merecemos muito melhor, sem dúvida. mas isso nunca vai acontecer com o sistema educativo no formato em que ele existe agora. em que a idade é um posto, preste-se ou não. em que se forma professores e educadores aos pontapés que nem escrever sabem, quanto mais ensinar. em que o que prevale é o público pelo público sem se questionar a qualidade. essa devia ser a base de todas as discussões, não o tipo de escola A ou o tipo de escola B e qual é que é mais ou menos pública ou qual é que custa mais ou menos. quando se promover a qualidade vamos ver resultados, nos entretantos quem realmente pode escolher, escolhe melhor, quem não pode ardeu.

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    3. "em que o que prevale é o público pelo público sem se questionar a qualidade" - presumo que não seja professor...

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    4. A base da discussão, pois, a base, se calhar importaria discutir SE o Estado (nem sei se calha acrescentar Democrático) deve ter ou não como missão a Educação (e dentro disto discutir o sistema de ensino público que temos, sendo afirmativa a resposta) - o que é interessante é constatar que a malta (pelo menos a das redes socias e dos blogues em particular) se esteve sempre cagando para isto e parece agora que o assunto nasceu só porque se fala em acabar com contratos de associação manhosos...

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    5. não, não sou. e se fosse também me podia enganar (como me enganei e corrigi lá no outro post). acontece que o meu dia a dia de trabalho é passado a escrever/falar inglês e o inglês às vezes 'prevails' na minha ideia sem eu dar conta. pareço uma avec das inglaterras às vezes. prevaleCE.

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    6. Oh Kina, calma com o andor, e eu por mim falo.. Se o que me move e preocupa fosse aquilo que ponho no blogue... Eeeerrr... Pois. Xixis e cocós e construções de LEGO, não é? A malta trabalha e isto de escrever e responder consome muito tempo. Mais te digo que a maior das vezes não dou um pio sobre algum assunto, simplesmente porque não tenho tempo para lhe dar continuidade.

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    7. (Ainda hoje te disse que te respondia e olha... Xixis e cocós!)

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    8. acontece que no nosso país nada se discute a fundo como devia ser se não houver uns calos apertados aqui e ali... infelizmente. e mesmo assim nunca se chega a conclusão nenhuma.
      a minha opinião sobre o estado da educação já a dei, não foi só aqui nem só por causa deste assunto.

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  4. Olha, Nê, com 17 anos o aluno já podia estar a sentado no mocho há um ano (pode responder-se criminalmente a partir dos 16), podia estar a vender numa feira ou a tomar conta de um dos filhos, quem é o professor da disciplina a que compareceu a duas aulas para o julgar essa maneira?

    :D

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    1. Além de que podia ter aparecido só a uma... :D

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    2. Para o julgar, não. Mas para o avaliar? Era eh..o professor!

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    3. A Mirone estava a ser irónica...

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