quinta-feira, 9 de junho de 2016

Bem sei que isto não é post que se coadune a um blogue sobre gracinhas de criancinhas, mas que se lixe, um dia não são dias.



(Aviso desde já as almas mais sensíveis que é bem capaz de me sair um palavrão ou outro que isto há temas que libertam num ápice o Tourette que há em mim.) 

Acredito que isto seja difícil de perceber, mas a educação e o ensino são-me temas tão caros, mas tão caros, que tive de abandonar o barco. E fi-lo sem olhar para trás. Porquê? Porque não consigo ser autómata, não consigo não questionar, não consigo fazer o que me mandam, só porque sim, quando eu vejo, quando eu sei, que as coisas podiam funcionar muito melhor. E não, os alunos nunca estiveram na base da minha decisão, aliás se aguentei o tempo que aguentei foi porque sabia que, modéstia à parte, era boa professora. Mas não deu… Escolhi-me a mim e à minha sanidade mental. Nunca me arrependi.

O ensino público que temos é uma merda. Uma valente merda. Há boas escolas, sim. Eu frequentei sempre escolas públicas. Sempre em turmas boas (sei lá eu bem o que se passava nas outras turmas para falar em termos de escola). No 12º ano não entrei em medicina porque não quis. Da minha turma entraram dois, mais uma em Medicina Veterinária e outra em Farmácia. Os meus filhos vão iniciar o primeiro ciclo em escolas públicas que espero, obviamente, funcionem bem. Mas tenho muita sorte sim, a coisa começa dar para o torto e na mesma hora meto-os num privado. De qualquer das formas sou em princípio e por princípio pela escola pública. Sempre. Mas… No seu todo, o ensino público é uma merda. Pela forma como as coisas são geridas, haver escolas públicas a funcionar bem é, só, um pequeno milagre.

O ensino público que temos é uma merda porque se muda de políticas educativas de dois em dois anos. E isto com sorte. Cada mudança no governo, cada cara nova no Ministério da Educação, sua reinvenção da roda, over and over again… Sempre a experimentar, sempre a ver, e sempre a revelar a mesma falta de respeito tanto pelos alunos como pelos professores. E nós a ver, a comer e a calar.

É uma merda porque trata os professores que não são dos quadros de agrupamento abaixo de cão (força de expressão, hã, não vos enerveis amigos dos animais que não tenho vagar de vos aturar agora). Porque os professores de quadro de zona pedagógica estão afectos a zonas geográficas absurdas de tão grandes que são. Porque um professor pode este ano estar em Alcácer do Sal e no ano a seguir em Nisa, que distam só 250 km. E tem de aceitar o horário. E mai nada. E a motivação e disponibilidade para lecionar em condições, motivar os alunos e aplicar os projectos individuais e mais não sei quê?… Pois, isso é coisa de somenos importância e depois logo se vê.

É uma merda porque valoriza igualmente um óptimo e esforçado e dedicado professor como um atrasado mental de um incompetente que nada sabe e nada faz. Os professores são unicamente avaliados pelo tempo de serviço. E agora dizei–me em que fdp de fim de mundo é que isto é concebível e aceitável? Nós? Nós comemos e calamos.

É uma merda porque há professores sem competências (nem académicas, hã, nem académicas) a dar disciplinas que não dominam, só porque sim, só porque têm as tais habilitações suficientes e se não fosse isso estavam encostados porque as disciplinas para quais foram contratados deixaram de fazer sentido. E bem diz o povo que quem não sabe ensina... "Manter pançudos é que não. Não com os nossos impostos, olha agora!", parece que já os ouço berrar...

É uma merda porque se põem professores universitários a fazer os programas de 3º ciclo. Professores esses para os quais crianças de 12 anos são como que entidades abstractas, quais unicórnios, com as quais nem se lembram de alguma vez terem interagido. Não… Não se põem professores do próprio ciclo de ensino a fazer os programas. Não, esses não sabem, esses não chegam. Uma coisa cá da minha vida só para terdes noção do que falo: A primeira versão das metas curriculares de 7º ano veio-me parar às mãos. Havia demonstrações matemáticas formais e rigorosas de teoremas, nos dois sentidos da implicação. Eu tenho onze anos de estudos superiores de matemática no lombo, seis dos quais do ramo científico, e eu tive de me aplicar a sério para perceber o que se queria exigir a um aluno de 7º ano. Estais a ter noção do ridículo do problema? O programa foi podado e bem podado e mesmo assim digo-vos, sem medos, que é impossível leccionar o programa de matemática em tudo aquilo que ele preconiza. (E eu não estou a falar daquilo que vem nos manuais que já vem (porque tinha de vir) aligeirado, estou a falar do documento oficial do ME. É simplesmente ridículo.)

É uma merda porque permite que os livros escolares para alunos do 7º ano custem 20 e 30€ por disciplina. E se eles têm disciplinas...

E nós, nós somos a merda de um povo que vê isto a acontecer, sabe o que está acontecer e come e cala. Pior… Não cala! Diz que no tempo dele já era assim, que a vida dos professores sempre foi assim e que, ui, e vós sabeis lá a merda de professores que tive: um dormia, outro fumava e outro falava de putas, e como podes ver não correu nada mal. 

A sério… Até quando??… Até quando vamos pensar poucochinho, pequenino, centrados no nosso umbiguinho? Não tem de ser assim… O Estado gasta 4% do PIB na Educação. São 6.959,1 M€. Foda-se! É muito dinheiro! Já chega! Basta! Não tem de ser assim. Merecemos melhor, temos de exigir melhor.

Mas não… Nós temos muitas qualidades, mas nisto somos uma merda de um povinho tão pequenino, mas tão pequenino, que me dá cá um asco que nem queirais saber. Com esta história dos colégios voltou-se a ver… Não, o povo não se uniu a uma só voz para exigir a qualidade de ensino que alguns têm nos tais colégios… Não… O que o povo fez foi unir-se para puxar os que têm a sorte de estar num patamar acima cá mais para baixo, cá para o pé deles. Todo juntos cá em baixo no ensino de merda de sempre. Já o disse na caixa de comentários, esta história faz-me em tudo lembrar a das 35 horas para os funcionários públicos. Não há a capacidade de perceber que se essa medida passar para "eles", é muito mais fácil ser depois generalizada para todos… Não… O raciocínio do tuga é imediato: se eu estou mal, o meu vizinho tem de estar igual ou pior. Não, não tenho de ser eu a exigir condições para subir para onde ele está, o outro é que tem de vir aqui para baixo para o pé de mim que não é mais que ninguém, era só o que mais faltava.

Nós fomos a merda de povo que viu gastarem-se rios de dinheiro na Parque Escolar, a remodelarem-se escolas com candeeiros do Siza Vieira de milhares de euros, e que comeu e calou. Num país onde ainda há crianças que demoram 1h30 a chegar à escola... Que povo? Que povo civilizado permite que isto aconteça?


And last but not least, e relativamente às historietas que vos contei… Bem sei, bem sei que são casos específicos, bem sei que são casos isolados, que bons e maus exemplos há em todo o lado. Até aí ainda chega o meu parco entendimento. Acontece é que eu não quis dizer nada disso… O que eu quis mostrar é que o Estado não tem capacidade para lidar com as escolas. Não tem. Não tem este Governo, não teve o anterior e não há de ter nenhum. Não há milagres. Cada escola é uma realidade específica. Cada escola é um Mundo. Não dá para lidar com as escolas por atacado como se fossem repartições de Finanças. Não dá! Podem acabar os contratos com os colégios de associação que quiserem, podem criar todos os projectos TEIP e mais alguns... Vai sempre dar merda. Sempre. Cada caso é um caso. E nesta altura estais alguns de vós a pensar: “Pois é… Mas não se pode agradar a gregos e a troianos… Também não se pode estar a ver caso a caso... Nos casos em que correr mal, olha, paciência, correu! No meu tempo já era assim e eu tive cada professor que nem te digo nem te conto… Mal sabes tu que tive um que falava de putas nas aulas e mesmo assim estou aqui e não correu mal de todo”. Pois é, pois é… Enquanto for com os filhos dos outros, por nós tudo bem, não é? É pois… No nosso tempo também era assim e tudo. Não caríssimos, não estamos a lidar com números. Estamos a lidar com gente. Estamos a lidar com o futuro. Há muito dinheiro desperdiçado, em muita porcaria, para nos contentarmos com a porcaria de ensino que temos.

Tenho pensado muito nisto nestes dias e começa-me a ficar claro no entendimento que se o Estado não tem capacidade para gerir a educação, que passe a pasta a quem sabe e consegue, e que pague… Que pague e que nos permita ter um ensino de país civilizado. Afinal de contas, já se gastam sete mil milhões de euros… Sete-mil-milhões! É muito milhão para continuarmos a ter um ensino público que é uma merda (de uma roleta russa).

25 comentários:

  1. E eu concordo com todas as linhas aí e mais algumas, apesar de ali em baixo não nos termos entendido (talvez falhas de comunicação) mas para mim a questão nunca foi "deixar estar o que está mal quietinho e não fazer nada" mas sim a questão de se dar a todos os mesmos direitos e acesso a uma educação de qualidade.

    Afinal nem as provas de aferição servem para porcaria nenhuma. Se eles sabem que os professores que lá estão não valem nada e tantos e tão bons tão maltratados, isso faz algum sentido?

    A derradeira questão é: como fazemos para mudar alguma coisa? Por onde se começa, de que forma e quais as soluções viáveis? É algo que, honestamente, não sei por onde começar e fazer greves ou manifestações não me parece que sirva para nada.

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    1. Um dos grandes males da educação do nosso país é o Mário Nogueira que é tão teórico como os que estão no governo. Não dá aulas há mais de vinte anos... http://expresso.sapo.pt/blogues/Opinio/HenriqueRaposo/ATempoeaDesmodo/quem-e-mario-nogueira=f814448

      "Representa" uma classe sempre em convulsão. Fala em nome de todos mas não representa ninguém, do que vou vendo já ninguém se revê naquele discurso (talvez os profs mais velhos). Mesmo que queira, vai ser um 31 o governo conseguir fazer alguma coisa...

      O que cada um pode e deve fazer é queixar-se a quem de direito. Há montes de instrumentos legais para dar voz às queixas do cidadão/cidadã, quer seja numa escola, num centro de saúde ou numa repartição da Segurança Social. Não podemos é continuar a pactuar com esta brincadeira.

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  2. Clap, clap, clap!!!
    (de pé)
    Gostava de ler a sua opinião sobre o programa de matemática do 1º ciclo. É que para mim aquilo é ridículo.
    Os programas são extensos, as matérias são dadas a correr, não há tempo para consolidar conhecimentos... Depois fica tudo colado com cuspo! E os miudos chegam ao fim do ano exaustos...
    Tenho um filho no 1º ciclo numa privada e duas filhas no público no 3º ciclo, os miudos quase não têm tempo para se coçar, entre testes, trabalhos, fichas e fichinhas...
    Ainda para mais na escola das miudas fizeram horários de loucos(para reduzir pessoal?!), entram às 8h20m e saem às 13h45m (isto no período da manhã, porque há dias que têm aulas à tarde) com um intervalo de 15min e outros dois de 5min, que não chega sequer para ir para o pavilhao de ginastica e equiparem-se(despois ainda querem que os miudos tomem la banho e cheguem a horas à aula seguinte)... E os dias em que têm 100min de português nos últimos tempos da manhã? Está a ver a atenção com que estão na aula?

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    1. Esta estava implicita naquela questão dos programas... Os programas são enormes. Não dá tempo para nada, é tudo dado a mata-cavalos, e corrido, de setembro a setembro, deve haver seis meses de aulas. Qual é a lógica disto? Nem os miúdos aprendem, nem há exigência. É tudo fachada.

      Sobre o 1º ciclo não opinio porque não percebo nada disso... Só do 7º para a frente. O que eu sei é que toda a gente com quem falo se queixa. Agora quando foi para escolher a escola do Jr. (claro que as fui bisbilhotar a todas :)), todas as diretoras se queixaram da dificuldade da matemática. Que era uma pouco vergonha...

      (Isso dos horários.. Enfim...)

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    2. O meu filho anda num 1º ciclo e não vejo nada do que aí está descrito a acontecer com ele (felizmente). Nem o horário, nem o tempo livre mas conheço várias queixas semelhantes.
      O que eu vejo também é que tem muito a ver com o professor. O meu aprendeu várias coisas a brincar (até com plasticina) e a experimentar. Terminou os livros de português e de matemática só não terminou as 2 últimas folhas.
      A professora (que vai ser a mesma) já preparou algumas actividades para eles fazerem com os pais durante as férias para irem relembrando a matéria mas de uma forma divertida, no inicio do próximo ano vai novamente fazer uma pequena revisão com eles.

      Mas ela tem isto tudo sempre muito bem programado, é uma excelente profissional. A melhor que conheci até hoje no ensino de 1º ciclo. Mas eu sei que sou uma grande sortuda por ser ela a ensinar o meu filho.

      Por outro lado, concordo que o tempo para consolidar a matéria é curto e também acho que há coisas nos programas que nao passam de "palha" e que não servem para nada.

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  3. Cara NM, para operar a dita fórmula mágica e fazer uma reforma a sério (que não seja a birrinha de um governo novo contra o seu antecessor, como há anos vem acontecendo), talvez seja útil, entre outras coisas, pegar no dinheiro que é investido em duplicado no privado e gastá-lo em melhorias (tantas que há para fazer!) na escola pública. A escola pública já viu melhores dias? Já. Mas isso não significa que deva abandonar-se o projecto e deixar o privado tratar do assunto, e parece-me que o que está a acontecer pode vir a ser o princípio de uma reforma séria e a sério, que é o que realmente faz falta. Os privados podem e devem continuar a existir, mas se um país se compromete a melhorar a rede pública utilizando o dinheiro que actualmente gasta no privado, de forma a que a rede pública tenha uma melhoria significativa e comece a funcionar tão bem como todos esperamos, então bola prá frente. O caminho faz-se caminhando...

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    1. (Então não há melhorias para fazer?! Há escolas para os quais o dinheiro da Parque Escolar não chegou e têm candeeiros feios que dói...)

      Agora a sério, eu não falei em lado nenhum em "fórmula mágica", ou falei? Eu só disse que a fórmula de gerir todas as escolas em dois grandes grupos a partir de um gabinete em Lisboa, não funciona. Nunca se lidou com a Educação de outra maneira e nunca funcionou. Não funciona agora, nem funcionou no "nosso tempo". Foi funcionando o que é diferente.
      E eu não sei se me explico mal, mas eu nunca falei em gastar dinheiro em duplicado, falei em pura e simplesmente não ser o Estado a gerir as Escola. Ponto. O dinheiro que o Estado dá, por aluno, a cada colégio de associação deve ser pouco mais (se for, qiue estou convencida que será bem menos!) que o custo desse aluno no público. E agora a questão é, se com esse dinheiro, os colégios conseguem ter a qualidade de ensino que têm, o Estado não consegue porquê? Porque, lá está, não dá para gerir cegamente.

      E eu não percebo o drama à volta desta hipótese. Já há bastantes hospitias PPP, por exemplo, e não ouvi tanto sururu à volta da questão. E até parece que está a correr bastante bem, veja lá.

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    2. Sim, já há bastantes hospitais PPP, e funcionam bem 8eu para consultas e urgências báscias vou sempre ao privado - para estes casos, simples, é realmente mais rápido e tem a mesma eficiência do publico. mMs quando temos uma problema de saúde a sério vamos para o público. Há alguém que tenha um problema de saúde grave e vá para um hospital privado?
      Temos um problema oncológico vamos ao ´privado?
      Temos uma gravidez e potencial parto de risco, vamos ter o bebé ao privado?
      Ficamos feridos com gravidade. Levam-nos para o publico de ambulância. E depois, pedimos transferência para um privado?
      Realmente os privados não funcionam mal, mas apenas para coisas básicas (e estou a falar dos de Lisboa e Porto).
      Por isso, parece-me que essa comparação não será a mais feliz.
      Quanto às escolas, eu não vi os dados todos, não tenho conhecimento do que se passa neste colégios de todo o país, para poder afirmar que eles realmente sabem o que fazem.
      Dentro do que eu conheço ( não tenho dados sobre todo o país, pelo que vou-me resumir aos casos que conheço - 4 - é uma população minima mas tenho a certeza do que falo), 100% não presta. Nunca colocaria lá um filho meu. (mas também não sei a que é que esta amostra corresponde )
      Haveria muito mais considerações a fazer, mas acrescento apenas que o estado tem os problemas que tem, mas os privados também não me inspiram confiança (pelos casos que conheço e pelos muitos professores que conheço e estão no privado).

      Rute

      p.s: por favor ignorem o acento na palavra pelos... o programa insiste em coloca-lo...

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    3. Rute, desculpa mas acho uma comparação legítima... Se a coisa das PPP vais funcionando na saúde com todas essas questões que falaste e eu concordo, mais depressa funcionaria na educação onde ninguém morre se as coisas correrem mal.

      (E claro que ser privado não seria o critério. A escola precisaria de apresentar estruturas e projetos educativos. Idealmente seriam financiados os melhores e mais sólidos projectos.)

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    4. E só mais uma questão Rute... O Hospital de Braga é PPP... Onde é que acha que as pessoas de Braga vão quando têm um problema de saúde grave?

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    5. Nm falei em relação a Lisboa e ao Porto que é o que conheço bem. Braga não conheço de todo. Mas se não existir mais nada, que remédio.
      De resto, acrescento que concordo com tudo o que expõe ( e muito bem) neste post. No entanto, mantenho as minhas reservas em considerar a entrega da educação a privados como uma boa solução.
      Rute

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    6. O hospital de Braga é muito bom... A noção de escola privada teria de ser redifinida e as que fossem financiadas pelo Estado teriam de ser avaliadas e escrutiandas pelo ME regularmente.

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  4. Posto isto: "Um dos grandes males da educação do nosso país é o Mário Nogueira ",

    ...

    pá, prontos:

    https://www.youtube.com/watch?v=zJs8fNhH3Ik

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    1. Ahahahahahahah fazes-me sempre rir com os teus musicóis!! :DD

      (É que nem tenha dúvidas...)

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  5. Tive no meu percurso bons e maus professores. Como também encontro em qualquer serviço bons e maus profissionais. Fiz todo o meu percurso no ensino público.
    Formei-me num curso via ramo educacional por opção, uma vez que tinha média de 17 quando terminei o secundário. Não dava para medicina, mas também não gosto de ver sangue :)
    Gosto francamente de dar aulas. Devem existir melhores professores que eu, mas sou boa profissional. Só espero/desejo cruzar-me com bons professores e ter capacidade e disponibilidade para continuar a aprender com eles.
    Tenho mais de uma década de experiência. Os melhores profissionais que encontrei foi na escola pública. Os piores na escola privada. Vou apresentar a minha demissão, porque já não consigo ser mais conivente com as práticas que observo numa escola privada. Não sei se terei emprego, mas chega um ponto em que temos de dizer basta.
    Tudo o que descreve de negativo na escola pública eu só encontrei na escola privada e nos relatos de colegas meus de outras escolas privadas. Não falo nas escolas com contrato de associação, mas de escolas privadas onde a mensalidade é acima de 500 euros e com excelente reputação.
    No campo da educação, à semelhança do da saúde, todos acham que têm razão mesmo que percebam tanto deste assunto como eu de futebol - nada.
    A comunidade devia ser chamada a participar, mas devia fazê-lo de forma consciente. Devia existir continuidade nas políticas educativas. Tantas coisas que deviam, mas não são porque se desvia, com manobras de diversão, o foco do que é essencial.
    Acredito mais na escola pública, na vontade de fazer diferente e melhor dos seus profissionais. Ninguém que seja do Porto vai para o Algarve só para pagar contas, é preciso gostar do que se faz.
    O maior problema na educação? Tomar decisões ponderando em primeiro lugar aspetos económicos. Não podemos viver acima da média, mas não podemos querer "comer lagosta com orçamento de atum enlatado".
    Tanta coisa que se podia e devia discutir sobre educação!
    Foi só um desabafo.

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    1. Também já deixei um colégio privado, logo a seguir ao primeiro período. Não podia pactuar com aquilo...
      Os melhores professores que encontrei foi no público. Os piores também.

      De resto... Deixa ver se encontro um post que me lembro de ter escrito há uns tempos...

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    2. Isto vai saír assim de rajada, mas não podia deixar de comentar este comentário:

      "No campo da educação, à semelhança do da saúde, todos acham que têm razão mesmo que percebam tanto deste assunto como eu de futebol - nada. "


      "A comunidade devia ser chamada a participar, mas devia fazê-lo de forma consciente. (...)
      não são porque se desvia, com manobras de diversão, o foco do que é essencial." (acontece sem excepção através dos meios de comunicação, e que ninguém duvide da sua manipulação, no plural) A malta vai toda a correr atrás da reluzente cenoira-assunto-super-actual-sobre-o-qual-urge-opinar-sob-pena-de-não-sermos-normais e larga os seus bitaites ferozes e amanhã já nem se lembra. Entretanto o essencial das questões foi escamoteado.

      "O maior problema na educação? Tomar decisões ponderando em primeiro lugar aspetos económicos."

      - Se calhar, NM, a culpa nem é do Mário Nogueira... e se calhar qualquer decisão de um colégio/empresa privado tem por base a missão de qualquer negócio, o lucro, sendo que aquilo a que chamamos qualidade estará sempre directamente relacionado com leis de mercado (se a população quer as notas pelas notas, pois paga por isso. se a população quer instrução, pois paga por isso - e depois haveria que avaliar a que "outro preço", e aqui coloca-se a questão de saber- a partir do momento em que o Ensino é todo ele privado, A QUE população passa a interessar o conhecimento, quem vão ser os instruídos?...

      "Acredito mais na escola pública, na vontade de fazer diferente e melhor dos seus profissionais" -


      É por isso, NM, que as escolas públicas, apesar dos pesares que é tudo quanto está errado e corre mal, ainda funcionam, não é milagre, é por causa das pessoas, os tais profissionais (uns melhores outros piores outros zeros à esquerda) que no meio da merda toda e de todo o descrédito e enxovalho de que vêm sendo alvo, lá continuam, e a coisa dá-se. São funcionários públicos (OI?).

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    3. Eu acho horrivel a forma de colocação dos professores, a forma como os mesmo são cotados e a progressão de carreira dos mesmos. Horrível, injusto e completamente desmotivante.

      O meu filho tem uma excelente professora e eu sei que ele tem sorte. Mas isto nunca deveria ser uma questão de sorte.

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    4. Lady Kina, naquilo que eu imagino (seja exequível ou não, isso serão outros quinhentos, isto sou só eu a mandar o bitatite) não haveria espaço a notas pelas notas, pelo menos nas escolas financiadas pelo ME, que seriam escrutinadas e anualmente avaliadas. A instrução, a verdadeira, seria para todos.

      As escolas públicas vão funcionando e repito e mantenho que não deixa de ser triste contentarmo-nos com este poucocinho quando se gastam os rios de dinheiro que gastam na educação. Isto do "ainda funcinam" (e isso quer dizer exatamente o quê? Ainda abrem as portas? Ainda têm os miúdos ocupados? Ainda lhes dão de almoço?) não nos devia bastar.

      Quanto ao respeito que, também eu, tenho pelos professores... Já antes escrevi sobre isso:

      http://calmacomoandor.blogspot.pt/2014/10/disso-dos-professores.html

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  6. Aquando de inscrever o meu filho no primeiro ciclo optei por uma escola privada pois, apesar de várias escolas públicas perto de casa, a que me calhava em sorte era uma bela bosta: um edifício com 40 anos cheio de remendos, um recreio que era na verdade um terreno baldio cheio de lixo, e um corpo docente que mudava a cada ano lectivo. Enfim. É verdade que mesmo ao lado tinha uma escola pública que brilhava mas, azar o meu, eu não morava na rua certa. Então, para não fazer o que muitos pais fazem - ir bater à porta dum amigo, dum amigo, dum amigo, e pedinchar para ser encarregado de educação do meu filho para r a ter a morada certa para a escola que brilha - abri os cordões à bolsa e lá foi para o privada. Ora, está escola até brilhava, mas tinha que lecionar os mesmo programas que a escola pública. E, senhores, eu fiquei a achar que o nosso ME tinha perdido a cabeça. Blocos lectivos de 90 min, intervalos mínimos, metas curriculares que também devem ter sido definidas por alguém que não sabe o que é uma criança. Foi um trauma para a criança e para os pais. Então, abri ainda mais os cordões à bolsa e tirei o meu filho do nosso sistema de ensino.
    Não sei por quem nem como se vão operar as alterações necessárias no nosso sistema de ensino. Mas eu não ia ficar a lutar contra moinhos de vento, deixar o tempo passar, e condenar os meus filhos a maus tratos diários até ao 12º ano. Honestamente não sei como isto vai mudar.

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    1. É isso... É essa roleta russa que não pode acontecer...

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  7. Eh pá! Este é, sem dúvida, o melhor post que já li sobre o assunto!!! Ensinar e aprender em Portugal é um verdadeiro pesadelo por todas as razões que apontaste! Também eu desisti a tempo dessa ideia peregrina de ir dar aulas, no meu caso, foi quando ainda estava em formação e percebi que dar aulas estava muito longe da ilusão que nos passa o filme "O Clube dos Poetas Mortos", mal soube que dificilmente conseguiria subir a uma secretária e declamar, alto e em bom som, Whitman... abandonei a carreira docente ainda antes de a ter começado!
    Depois de ter cheirado ao longe as agruras de ser professor, sou agora vítima de um sistema que não me deixa escolher o melhor para o meu filho, como escrevi aqui: http://maisvaleumaboaquarentona.blogs.sapo.pt/sobre-esta-historia-244032
    Obrigada, gostei muito de te ler :))))

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    1. Pronto... Prepara-te para o "se queres o melhor, paga"...

      Obrigada eu! :)

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