quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Tenho amigos em todo Mundo...

Amigos estrangeiros. E todo o Mundo sabe dos acontecimentos de domingo.

O meu telemóvel não pára com as notificações. Já vou no segundo ciclo de bateria.

A primeira pergunta é se estamos bem, se me afectou diretamente a mim ou à minha família de alguma forma.

Não, não afectou.

A segunda pergunta é o que vai acontecer a seguir.

Aqui, conversa a mais conversa a menos, percebo que, curiosamente, algumas pessoas não sabem o que aconteceu em junho...

Aí, conversa a mais conversa a menos, fico com vergonha de dizer que, a menos da ministra que ainda o era desde junho, acho que vai ficar tudo igual.

6 comentários:

  1. Querida NM, vou contar-te uma coisa pequena com a esperança de te trazer alguma esperança.
    Nós temos uma casa na serra, a meio de Portugal, no distrito de Coimbra, numa zona pejada de eucaliptos e pinheiros, que ficou a uns 3km dos fogos de junho. A estrada que dá acesso à aldeia onde temos a casa até foi nessa altura cortada ao trânsito. Era (e é) uma estrada estreita, que sobe a serra em curvas, ladeada de eucaliptos e arbustos e fetos e tudo o que ali quiser nascer. A estrada tinha uns marcos a cada km, em pedra, com ar de serem mais velhos que eu, quase ilegíveis. No passado mês de agosto reparei, quando lá fui, que havia marcos novos, de material metálico refletor, a cada 100 metros, intercalados com os velhos marcos de pedra a marcar cada km. Em setembro, quando lá voltei, os velhos marcos de km tinham sido substituídos por marcos novos, com o número da estrada nacional e o km respetivo, bem legíveis, também em chapa metálica, refletora. A seguir, agora em outubro, estava todo o mato e árvores, arbustos, etc, cortados dos dois lados da estrada, abrindo assim uma faixa de cada lado, limpa, em terra.
    Isto, para mim – a limpeza das zonas limítrofes às estradas e as marcações das mesmas – é absolutamente básico. É algo que devia lá ter estado sempre, em boas condições. É também para estas coisas que pagamos impostos. O que agora ali fizeram (e acredito que tenham feito noutros locais – mas eu estou a falar do que vi) é absolutamente mínimo, eu sei que é. Mas é mais que nada.
    Com tamanha calamidade somada este ano até parece tolice vir aqui falar destas pequenezas que trago para este comentário, havendo um caminho a fazer daqui para a frente incomensuravelmente maior. Mas eu tenho esperança, agora tenho mais esperança até, porque acredito que daqui em diante já ninguém vai ter coragem de não arregaçar as mangas e, para variar, as pessoas responsáveis vão agir.
    Desculpa o tamanho do comentário, mas tenho acompanhado a tua indignação (que partilho) e angústia (idem) e decidi contar-te pelo menos esta migalha.

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    1. Querida Susana! Obrigada. De coração.

      Estou muito desesperançada, sabes?! A floresta é cara, praticamente sem rentabilidade, traz pouco votos. Os aglomerados eleitorais estão-lhe longe... As pessoas esquecem-se muito depressa do que não cheiram, do não experimentam, sabes?!...
      Não sei Susana, não sei...
      Até há pouco tempo dizia de mim que era uma optimista incorrigível. Agora acho que uma parte das certezas que tinha sobre a minha pessoa também ardeu este ano...

      (Desculpa o desabafo.)

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  2. NM ... partilho toda essa indignação. Não sou do interior, mas a aldeia onde cresci está (estava) completamente rodeada de eucaliptos e mato. No ano passado, no dia do velório do meu querido avô, e enquanto rezávamos para que fosse em paz, aquilo que ele tanto preservou ardia de uma forma nunca vista nesse local. No dia em que chorámos o meu avô a casa dos meus outros avós estava rodeada de fogo. A minha avó teve de ser tirada à força de casa porque preferia lá morrer do que ver arder tudo o que tinha (felizmente não ardeu, ao contrário de tudo em redor). No mesmo dia, a minha irmã, agora bombeira de profissão (mas essencialmente de coração pois desistiu da profissão para a qual estudou para abraçar a causa), combatia fogos há mais de 24 horas. O ar irrespirável daquela noite nunca me sairá da memória! A verdade é que tivemos muita sorte! O dia amanheceu melhor, a minha irmã pode voltar a casa durante aquela hora para tomar banho e despedir-se do avô, os meus avós puderam voltar à sua casa para chorar os estragos e o alívio. Eu pude finalmente chorar o que tive em suspenso durante muitas horas de aflição.
    O nosso caso foi, à vista de todos estes, de uma sorte tremenda.
    Basta ... basta mesmo!

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    1. Oh Cuca...
      Quem lá está nunca esquece...

      Um forte abraço.

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  3. NM, quero acreditar que não... Aqui em Braga, onde somos muitos e litoral (logo interessantes a nível eleitoral), não vai dar para esquecer: toda a cidade está virada para os montes do Sameiro e Falperra que estão agora despidos e cinzentos, sempre que levantarmos a cabeça vamos ver a devastação do incêndio. Fomos muitos também que vimos o fogo a chegar perto de casa. Quero acreditar que também não vamos deixar os outros, lá em Lisboa, esquecer.

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    1. Sim. Braga e o litoral não me preocupam porque sei (quer dizer, espero... Também "sabia" que Pedrógão não se ia repetir) que Braga e o litoral vão ser cuidados. O que me consome é o interior...

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