Quer dizer, já fui...
Fui estigmatizada por ser mulher, por não ter sintomas de síndrome de Asperger e por ser claramente um ser sexuado. Fui estigmatizada por não usar óculos de massa, por ter facilidade de comunicação e por ter capacidade de falar (e rir) de frivolidades. Já fui estigmatizada por não gaguejar ao falar em público e por conseguir olhar as pessoas nos olhos. Já fui estigmatizada por ter outras dúvidas para além da melhor linguagem de programação (sou cada vez mais pelo MatLab), por conseguir comunicar sem ser por linhas de código e por ter outras unidades de medida para além dos terabytes. Já fui estigmatizada por ter vida social e amigos normais, com famílias normais. Já fui estigmatizada por querer casar e ter filhos... E ter com quem! Já fui estigmatizada por fazer o buço e gostar de andar arranjada... Assim mesmo, com roupas indubitavelmente de mulher. Já fui estigmatizada por alinhar em blockbusters. Já fui estigmatizada por aquele que foi meu chefe durante sete anos quando, ao fim de três meses, me disse que achava que eu tinha alguém que fazia o meu trabalho por mim (acho que a gargalhada que lhe dei na cara lhe serviu como resposta). Já fui estigmatizada por um de recursos humanos que, quando ainda nem a licenciatura tinha terminado e concorria ao meu primeiro emprego especializado, me disse na cara que não acreditava nos meus testes psicotécnicos porque eu não tinha perfil (???).
Resumindo, eu já fui estigmatizada pela minha normalidade por pessoas anormais (de pouco vulgares, não me aborreçam). É mesmo isso... No micro-cosmos em que me movia (movo) a anormal era (sou) eu...
Agora já não sou estigmatizada... Felizmente já não tenho de convencer ninguém para que me sejam dadas oportunidades (e já as tenho em fila de espera)... Mas, ainda hoje, estranham que eu aceite que o meu filho de quatro anos se entretenha a brincar com Super-Heróis em vez de a decorar as casas decimais do pi, ou que eu goste de futebol ou que eu tente (TENTE!) fazer pastéis de nata...
Sim, há um micro-cosmos em que a anormal sou eu, e tempos houve em que a minha forma "normal" de ser e estar só poderia significar ser menos capaz que os demais... Pois... Temos pena! :)
Agora olho para trás e a tremenda ironia que isto encerra só me dá vontade de rir... Afinal, eles é que eram os geeks socialmente inadaptados... But the joke was on me!
Palmas.
ResponderExcluirEu também sou, por ser heterossexual.
ResponderExcluirImagino 1001 microcosmos onde essa estigmatização exista...
Excluir