quarta-feira, 21 de junho de 2017

Nunca, NUNCA, ninguém quis saber…

Ontem ao ler este post da flor percebi que ia ter que voltar a pôr o dedo na ferida. 
Por muito que me custe. Não ficaria bem comigo se não o fizesse.

Também eu carrego muita raiva e, como lá disse, não é de agora em virtude destas almas que se foram. Também eu nasci e cresci no interior rural e desde que tenho consciência de mim que me lembro do cheiro a terra queimada, de ver in loco gente a chorar, desesperada. Uns anos tocava a uns, uns anos tocava a outros. Solidariedade de uns anos para os outros. Agora ajudas-me tu, para o ano ajudo-te eu. Morria sempre gente, o sicrano ou o beltrano, do sítio de além ou do de aquém, que munido de giestas foi abafar o fogo. Que os bombeiros haviam chegado tarde. E se não tivessem sido os homens das giestas então é que haveria de ter sido bonito. 

Todos. Todos. Todos os anos. Qual desgraça anunciada. Sempre o mesmo filme. Sempre. No telejornal eram certas como a morte a reportagem sobre os incêndios e a reportagem das filas de trânsito na Nacional Azul a caminho do Algarve. Certo como a noite que chega depois do dia. Assim continua. Tirando a parte da nacional. As nacionais que agora só estão lá como alternativa, como via de fuga. Ou não.

Fatal como o destino. Os verões da minha infância/juventude cheiraram invariavelmente a terra queimada. Mais perto ou mais longe. Mas o cheiro chegava sempre. Durante vários dias respirava cinzas. Triste fado! 

NUNCA, repito NUNCA, ninguém quis saber… 

Não é de agora, nem deste governo nem do anterior, nem do passado. Nunca ninguém quis saber. Nunca ninguém fez nada com pés e cabeça, com futuro, com estrutura.

Décadas depois tudo igual. Sempre os mesmos desgraçado, desgarrados, a sofrer na pele. Portugueses de segunda, praticamente tribais.

Nunca ninguém quis saber e assim continuará… 

Porquê?!

Porque planear algo neste foro custa dinheiro, muito dinheiro, e levará tempo, não muito mas ainda assim tempo, a dar frutos. Não compensa. Na nossa cultura política imediatista, populista, tachista e oportunista, não compensa investir. Mais vale ter fé na Nossa Senhora e esperar que os hectares ardidos não sejam mais que os do governo anterior. Isso basta para se celebrar.

Porque a nossa floresta não é economicamente rentável e porque quem sofre as consequências são meia dúzia de gatos pingados sem expressão eleitoral. E toda a falta de estrutura, gestão e organização se baseia simplesmente nisto. É dinheiro sem retorno.

Porque é utópica a questão de obrigar os privados a limpar os terrenos. Os “privados” de que falamos são os pobres, os tais difíceis de salvar como disse o nosso PR. Os terrenos de que falamos são terrenos agora sem valor económico, terrenos não registados, terrenos que foram herdados ou comprados a vizinhos com o dinheiro da venda dos vitelos numa altura em que ainda se tinha força para fazer alguma coisa e antes dos filhos emigrarem para a França. Não são do Estado, pois não, mas também não se sabe de quem são. São terrenos de ninguém.  São delimitados por pedras e árvores e quando muito haverá um papel escrito à mão a confirmar a transação. São micro parcelas de terreno de 400 m2. Já nem sequer existem caminhos para se chegar aos do monte. Só a pé com uma catana a desbravar caminho por entre os terrenos vizinhos, qual Rambo. 
A sério? Como se faz? Como se pode obrigar?... Não obriga. Assume o Estado a limpeza, e é se quer. Por outro lado, quem os registou, tem ali nada mais nada menos que um fardo e um mundo de preocupações. Tomaram muitos privados, donos de terrenos, ser nesta altura expropriados.  (Outra coisa, será a gestão da floresta feita pelas concessionárias das estradas, por exemplo… Não é disso que falo.)

Porque o pôr militares, reclusos, beneficiários do subsídio de desemprego ou de outros a limpar a mata não funciona. Simplesmente não funciona. É tentado há mais de dez anos, com despachos em Diário da República e tudo, como manda a sapatilha, mas… Na prática não funcionou. Porquê não sei, mas não funcionou.

Porque a reflorestação se faz à base de pinheiros e eucaliptos (estes, originários da vizinha Austrália, que já representam um quarto da floresta nacional). Porque os carvalhos ou sobreiros demoram muito tempo a crescer (é preciso esperar 25 anos até se conseguir tirar cortiça de um sobreiro) e porque, já se sabe, montes pelados ainda que nos entretantos são muito pouco sexy. Era preciso haver uma concertação praticamente intergeracional entre os diversos governos. Não vai acontecer. Porque o eucalipto ainda que sendo inflamável dificilmente morre num fogo. Diziam-me os velhos, quando fizeram da Serra Marão um enorme eucaliptal, algures nos inícios dos 90s, que eram árvores demoníacas aquelas. Que a cada fogo por que passavam, recuperavam cada vez mais rápido e mais fortes. Parecia que gostavam de fogo, as diabas. Refloresta-se com eucalipto porque é mais fácil. Pronto. E até cheiram bem e tudo.  E são verdes. Pronto, está resolvido. Secam tudo o que há à volta, mas isso não interessa. Ninguém sabe, ninguém quer saber, o que importa é haver sombra para aquele piquenique pitoresco que uma vez no ano decidimos fazer para proporcionar às nossas crianças o contacto com a natureza. Cá agora questiúnculas de árvores. É tudo verde, carai. Tudo igual. (Nesta altura dos post já nem sei se ria se chore...)


Porque há três estruturas com responsabilidades na defesa da floresta e gestão de incêndios. Não uma: Três! O Instituto de Conservação da Natureza (Ministério de Agricultura), a GNR e a Proteção Civil (ambos do Ministério da Administração Interna). Ora, pois que já devíamos ter a capacidade analítica de perceber que estas co-responsabilidades entre instituições nunca funcionam, apesar de, lá está, na teoria serem muito lindas. Não funcionam porque cada instituição é uma capela, cada capela acha-se mais importante que a outra, cada capela tem os seus directores e presidentes, cada qual com o seu umbigo. Quando corre bem, dão os três pulos de alegria, com as conversas dentro de cada capela a ir ao encontro do “Se não fossemos nós…”. Cada uma das três… “Ai se não fossemos nós…”. Quando dá para o torto, cada uma das três sacode a água do capote o mais ferozmente que consegue. “Não, desculpa, isto é da responsabilidade deles…” Não dá. Não funciona. Não há abnegação nem maturidade para tal. Muito lindo no papel, mas não dá.

Porque… E como já referi anteriormente num post sobre o Vara e a CGD não se podem pôr bons… sei lá, amigos, digamos assim, aos comandos de um Boeing só porque estes têm carta de ligeiros. Não dá. Vai dar merda. Eu conheço gente muito capaz em muita coisa. O meu marido, por exemplo, é muito capaz lá nos algoritmos dele. Eu também lhe tenho estima e é muito boa pessoa. E também percebe de números e é um curioso da biologia. Mas nunca, em consciência e responsabilidade, o indicaria para gerir, sei lá, o hospital de São João. Só poderia dar merda, não é?! Pois é… (Mas o meu marido é uma pessoa muito capaz, que disso não restam dúvidas.) E temos um secretário de Estado que é um porreiro, grande amigo de Costa, e de Vara já agora, e temos uma ministra que, pronto, alguém com ligações partidárias me disse que andou com ela ao colo. Pronto, vá. Por si só isso não lhe tira mérito é verdade, todos andámos ao colo de alguém. Mas essa ministra recusa ajuda, pronta à espera na fronteira. Com o argumento de que muita gente atrapalha… É perigoso. Pois é. Verdade. Gente impreparada, munida de giestas a tentar abafar o fogo ao pé de bombeiros são mais uma fonte de preocupação que uma ajuda. Concordamos todos, senhora ministra. Não somos estúpidos. Agora... Ter gente formada e preparada a pedir para ajudar, e o pobre em aflições levantar problemas… Eu também não percebo nada do assunto, que não percebo…. Mas às tantas, nem que fosse só para 60 dos nossos irem descansar depois de dias enfiados naquele inferno… Se calhar… Hum?! Assim já não era muita gente. Eram os mesmo… Saíam 60 nossos, entravam 60 deles... 

Não?! Porque não?

Porque… Às tantas… Mais vale deixar arder que mostrar ao vizinho muito melhor sucedido na matéria que não fazemos a mais pálida ideia do que andamos a fazer. Verdade. Como diz o povo, não temos de dar a nossa vida a saber a ninguém e antes parecer estúpido que mostrar efectivamente que o somos… Uma coisa são meios aéreos… Andam lá no alto, um ou outro, nada sabem e pouco vêem do que se passa no terreno. Isso, tudo muito bem. Outra coisa é termos os vizinhos a meterem o nariz no nosso guisado. Logo eles, que já fizerem parangonas a dizer que não estamos preparados para lidar com isto… Filhos de uma grandessíssima, mãe!

Mas agora penso, talvez seja esta pressão externa que leve alguém a fazer alguma coisa. Têm feito grandes destaques noticiosos a propósito desta nossa triste situação (aqui, por exemplo). Talvez o espicaçar do orgulho leve alguém a fazer alguma coisa.

Talvez os espanhóis nos estejam a ajudar mais do que aquilo que pensam.

Resumindo e concluindo.

A conservação da floresta é uma prioridade. É. Toda a gente parece concordar. Alguma coisa tem que ser feita. Pois tem. Toda a gente parece concordar.

Mas…

Tudo isso custará dinheiro. Muito dinheiro. Ou é uma cagada engendrada às três pancadas... 

(entretanto... Partidos querem aprovar reforma florestal num mês: http://observador.pt/2017/06/21/partidos-querem-aprovar-reforma-florestal-num-mes/

A sério?! Here we go again...)

Mas dizia eu, ou é uma coisa mal amanhada e engendrada às três pancadas para calar o povo, mais do mesmo portanto, ou custará muito, muito, dinheiro.

Acontece no entanto que...

O orçamento de Estado não estica.

Para fazer a tal limpeza e conservação estrutural da floresta, que o país brada de dedo em riste, há dinheiro que não vai ir para outro lado. O dinheiro que se investir na floresta vai falhar na Educação, ou na Saúde, ou na Ciência, ou na Segurança, ou na Segurança social, ou na… Não sei aonde... Mas vai falhar!

E agora penso… Se questionados, quantos portugueses estariam dispostos a abdicar de algo que os afecte diretamente em prol da floresta e dos desterrados? Quantos, hum?! Não sei se seriam assim tantos... 





31 comentários:

  1. obrigada pelo post, NM. a sério.

    acho que o cerne da coisa, reside aqui: «Porque a nossa floresta não é economicamente rentável e porque quem sofre as consequências são meia dúzia de gatos pingados sem expressão eleitoral. E toda a falta de estrutura, gestão e organização se baseia simplesmente nisto. É dinheiro sem retorno.»

    invente-se o turismo de subir às árvores (infelizmente flora nativa já é escassa, mas até neste ponto podemos fazer render o peixe do "multiculturalismoarbóreo"), venham os turistas em bando, praticar o agarra o tronco e aí sim, talvez, alguns destes (os mesmos hipócritas que praticam os minutos de silêncio) comecem a olhar para a questão com olhos de ver.

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    1. Sim flor, tudo sempre foi uma questão de não valer a pena por falta de retorno. Tenho muita raiva disto tudo... Temos autoestradas às moscas e não há caminhos de dois metros de largura para os bombeiros conseguirem chegar aonde arde?! mas que raio de sentido isto faz?! Os meios aéreos são cada vez mais precisos, quanto mais não seja porque por terra já não se chega. É uma pescadinha de rabo na boca.

      Acho o turismo sem água muito complicado... As zonas sem um grande rio ou praias fluviais, dificilmente serão atractivas para o turismo. Mas essa do multiculturalismoarbórea.... Tu vai rápido fazer alguma coisa com isso (patentear ou assim) que ainda te roubam a ideia. :)

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  2. Querida NM, nasci e cresci em meio rural...menos de meia dezena de quilómetros do actual drama...e tal como a NM, também eu cresci ano após ano a ver este flagelo. Mal vinham dois ou três dias de forte calor, lá tocava a sirene dos bombeiros a apelar aos reforços. Lá vinha o fumo, o cheiro a queimado (correcção: o cheiro a eucalipto queimado), as cinzas...Verão após Verão, vezes sem conta. Em 2003, aproximadamente 60% da floresta do Concelho ao qual pertenço ficou reduzida a cinzas...todas as questões agora levantadas foram referidas na altura...o que se fez, pergunto? Nada que se veja...meia dúzia de plantações (imagine lá do quê!!!) e o resto nasceu e cresceu como bem entendeu. Uma bomba-relógio pronta a arder novamente. Não foi este fim de semana porque os ventos lá levaram o fogo para outras paragens, mas podia ter sido. E é isto tudo que me intristesse. Tanto que podia ter sido feito, aprender com as lições que se vão tendo e nada foi feito...Quando a desgraça bate a porta choram-se mortos e bens perdidos e atiram-se culpas uns aos outros...mas ninguém tem a coragem de agir!

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    1. É que o verão passa num instante e os de Lisboa logo se esquecem. Não falta de coragem. É falta de capacidade e de retorno.

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    2. Mas no caso dos concelhos que citei há turismo cada vez mais crescente, há os tais pontos de água que fala, unidades hoteleiras ou equivalentes em crescimento...claro que não à escala do Algarve, por exemplo, mas está a crescer...e sem retorno para os políticos e entidades que gerem e governam...

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    3. Sim, se se conseguir rentabilizar o turismo o panorama muda de figura. Fico feliz que haja concelhos que o estejam a conseguir.
      E há retorno, então não há? As unidades hoteleiras pagam impostos, abrem restaurantes, criam-se postos de trabalho... Se se criar na floresta uma fonte de rendimento ou uma peça indispensável para (e ninguém vai de férias para uma zona queimada) todo o cenário muda.

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  3. Já coloquei este comentário no blog da Flor, mas coloco-o novamente aqui:
    Também eu (46 anos) passei todos os Verões da minha vida numa aldeia da Beira Interior. Desde que me lembro de ser gente que os incêndios existem na minha vida. Nas trovoadas secas (sim que as há), ali na cova da Beira era quase certo. Os dias muito quentes, muito abafados, o céu negro, negro (e ainda nem havia fumo) e lá vinha ela. E depois à noite ninguém dormia. As chamas, o cheiro, o fumo...
    Se tenho raiva. Não, não tenho raiva nenhuma. A raiva, deixo-a para aqueles do meu coração. A quem me diz, porque só me chateio com quem realmente merece a minha atenção.
    Atirar com as culpas para os outros, dizer que o governo, quem governa, etc, que são todos podres, cobardes, corruptos. O que é que isso interessa? O que é que isso acrescenta ao que todos sabemos?
    Ah, e se acham que a única maneira de se livrarem desta cambada é emigrar, então aconselho a emigrar para a Lua, ou para Marte. Não pensem que haverá algum sitio no planeta em que as coisas sã feitas de forma correta e humana. Porque não há. Em todo o lado os interesses são os mesmos, e se não arder tanta floresta no interior outras coisas piores acontecem noutros sectores.
    Portanto o conselho é:l
    Arranjem um foguetãozinho e vão para Marte (não sei se na Lua não estará já alguém - e se assim for já está corrompida). Ou para mais longe. Se não querem corrupção, cobardia e podridão têm de ir para longe, muito longe.

    Ass: Anónima que já está mais que farta da mania que só em Portugal é que é assim e é que há podridão

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    1. Claro anónima! Em 2017 com todos o meios e tecnologias que temos ao dispor, morrem quase 70 pessoas de uma vez como se estivéssemos no sec. XVII, a propósito de um problema mais que diagnosticado e debatido há décadas, em cujo combate se gastam milhões de euros, e o que uma pessoa deve fazer é.... Encolher os ombros, dizer que é a vida, que noutros lados também há de ser assim ou quiçá pior e ir ver a novela junto daqueles que merecem a nossa raiva...Os 70 que ficaram, muitos porque seguiram indicações da GNR, olha... {outro encolher de ombros}... tivessem emigrado.
      .....
      .....
      Não concebo.

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    2. Portugal é óptimo e excelente em muita coisa. Mas nesta matéria não. Nesta matéria somos uns retrógados de primeira e a anos-luz de países como a Espanha!! Basta abrir os olhinhos e exigir que os senhores que são pagos para gerir estas questões as giram efectivamente. Ou então que sejam destituídos do cargo e venha alguém competente.

      Ficar a sorrir a acenar é a politica de quem ou não dá valor à liberdade ou não dá valor à sociedade.

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    3. É a cultura do nivelar por baixo. Ali mesmo rentinho ao chão. Não é para mim.

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  4. Olá NM
    Talvez, investir na floresta, não implique, necessariamente, retirar dinheiro a outros sectores fundamentais, o que é necessário é considerar a floresta, também, um sector fundamental, acabar o tal "NUNCA, ninguém quis saber", desta vez, parece que estamos a ficar todos alinhados com a ideia de que não é mais possível empurrar esta situação com a barriga e penso que acabamos por ser nós todos, acaba por ser também a medição dos nossos decibéis de "estrebuchanço" em relação às situações, que vão decidindo, estabelecendo, as prioridades e a respectiva canalização de dinheiros. Também estou farta de, desde miúda, chorar desalmadamente, todos os anos, a ver pela televisão bocados do meu país a arder e aquela aflição das pessoas que me faz ficar com um enorme aperto no peito, que coisa pavorosa deve ser viver esse horror de perto, acho que devo ter tento na língua para dizer que imagino como é viver um horror que nunca vivi, mas não quero ter tento na língua para dizer que, esta situação, é uma das que nos afecta a todos sim, tudo o que dá cabo do nosso país e põe a nossa gente a sofrer desta maneira afecta-nos a todos.
    Pode ser que, finalmente...

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    1. Sim Cláudia, tens razão. Talvez não seja preciso assim tanto. Até porque o que se usaria na prevenção poupar-se-ia no combate (nos últimos anos do dinheiro gasto na prevenção/combate foi feita na absurda proporção de 10%/90%).

      Sabes que desde a miúda tenho esta sensação... Desde muito novita tenho a sensação que o país que não sofre diretamente não quer saber. Sempre tive a sensação do: "têm pena e tal, mas daqui a um mês já ninguém se lembra, só isso justifica o ninguém fazer nada." era esta a minha inocente interpretação. Agora percebo que a falta de motivação é outra. Mas pronto... Desta vez a tragédia foi grande demais. Algo terá mesmo de ser feito, só espero que seja algo bem pensado e estrutural, bem pensado a longo/médio prazo. Pode ser que...

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  5. Não concebe ou não quer ler o que os outros escrevem?
    Onde é que me viu escrever que as mortes são para se levar com um encolher de ombros.
    O que disse e repito é que há por todo o lado a tendência para apontar o dedo para os culpados. Há o típico ódio ao estado, aos politicos, às instituições, a tudo o que não nos está próximo e a quem podemos facilmente apontar o dedo e destilar ódio, porque é assim que nós somos. O que aconteceu foi da responsabilidade de alguém. E é assim que é!
    Realmente tanta tecnologia, tanto avanço é inadmissível. Só num país em que ... bla, bla, bla...
    E quanto a emigrar, como já disse só de for para MArte, ou Jupiter. Esqueça lá isso de que nos outros países tudo corre bem. Não deve conhecer a Inglaterra rural (vivi por lá 2 anos), nem a Noruega. Já nem vou falar do Japão.

    Leio os jornais e fico de boca aberta. Vem a GNR explicar porque enviou as pessoas para aquela estrada, vem o IPMA explicar porque não houve alerta para aquela trovoada, vêm os bombeiros explicar porque estavam nas zonas de umas aldeias e não de outras, vem Deus Nosso Senhor explicar.. espera Deus ainda não veio. Mas pode ser que amanhã faça alguma declaração.
    Eu também vivi 18 anos no interior, muito interior. Sei bem como é o Portugal rural. Conheço muito bem a nossa ruralidade de 1970, 1980 e 1990, vivi-a intensamente. Sei bem como é viver num lugar, perto de uma aldeia pobre e muito pequena, nos confins do país. Num sitio que nem sequer tem beleza que chegue para alguém lá ir passear, que não tem estradas de passagem para onde quer que seja, que não tem nada.
    Vivi assim 18 anos porque os meus pais foram trabalhar para fora. fui criada pelos meus avós e outros familiares. Sei bem como é o Portugal Rural.
    A NM vê-o de uma forma bucólica, campestre, poética. Onde quem lá está foi abandonado e é vitima de um país de dirigentes podres e corruptos. Quem lá está, é um herói que resiste apesar de todas as atrocidades e desgraças com que tem de viver.
    Eu não vejo assim. Vejo-o como o sitio onde morria uma criança no poço e era assim que era. Onde íamos todos, crianças e adultos, sentados e em pé na caixa aberta da carrinha para as apanhas ou para a vindima (era um luxo ir na carrinha que ia aos Povos buscar os trabalhadores.)
    É o Portugal onde o meu tio foi cumprir pena porque a irmã mais nova não achou piada a que ele repetisse a tradição de família (e daquela zona)com as suas filhas e abusasse de duas crianças (5-6 anos).
    É o Portugal onde se levava um tiro por causa deste "eucalipio" que estava na minha parte do terreno.
    É o Portugal de pessoas normais, como todas as que estão em todo o lado. Com os mesmos defeitos e qualidades.
    Não há coitadinhos. Os meus avós nunca foram coitadinhos e nunca me fizeram sentir assim.


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    1. Tem razão. Eu sou isso tudo e muito mais. Não vale a pena perder tempo comigo. A sério, vá por mim que não gosto de enganar ninguém, sou um caso perdido. Não vale a pena.

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    2. Portanto não se vai culpar os que são responsáveis e têm a seu cargo (e são pagos para) gerir estas questões? Really?!

      Não se esqueça que há uns anos atrás nas cidades também estavam as crianças até de madrugada sozinhos e havia o vizinho do 5º andar que oferecia doces às crianças e os perseguia pelas linhas de comboio para que lhes mostrassem a pilinha (aconteceu ao meu marido quando era criança). E no entanto ele cresceu numa grande cidade.

      A podridão humana há em todos os lugares. Provavelmente até dentro do seu bairro e por vezes até dentro da casa das pessoas sem que (algumas) saibam.
      Daí a considerar que não se deve fazer nada e assobiar para o ar, não atribuir responsabilidades e não fazer nada...acho que também há muita podridão dentro de si, nomeadamente, falta de empatia ( e já nem falo de capacidade cognitiva pois em todas as civilizações consideradas desenvolvidas estes assuntos são tratados de forma séria e competente).

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    3. Eu até fiquei sem saber que dizer... Sinceramente. Só agora acabei de ler o comentário até ao fim... Bolas... Onde eu vi um Portugal poético e bucólico e não sei quê, a anónima viu um Portugal que... Bolas... Bem mereceram (ou ainda merecem não percebi bem) ter sido deitados à fogueira. Às tantas os fogos são mesmo um castigo divino. Só por serem assim feios, porcos e maus, esses rurais (a)normais.

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    4. Bolas que é difícil.
      Mas onde é que eu disse que as pessoas do interior merecem morrer?
      Onde é que eu disse que nas cidades não acontece o mesmo tipo de coisas às pessoas?
      Anónimo e NM é mesmo vontade de chamar nomes a quem não concorda com vocês.
      Sempre a destilar ódio e raiva para quem não tem a mesma opinião.
      Eu disse que estou farta da opinião de que o Portugal rural é o dos coitadinhos. Dos desgraçados que não têm nada nem ninguém.
      Para quem as pessoas como a NM e o anónimo, estão sempre a dizer que são uns coitadinhos.
      Eu sempre lá vivi e não sou uma coitadinha, os meus familiares também. Somos pessoas normais como os outros que vivem na cidade. Somos tão esquecidos pelo poder como os que vivem nas cidades e são pobres.
      Sim, é verdade que estando num sitio onde há mais gente e mais instituições e recursos as pessoas poderão estar melhor. Até se pensaria que poderiam estar melhor. Mas quem é pobre e passa dificuldades faz também parte "dos esquecidos", apesar de estar nos grandes centros.

      Quando eu falo em podridão, corrupção, pessoas mal formadas, refiro-me sempre a quem está no poder, a quem manda. Nunca o fiz referindo-me às pessoas do interior!
      Onde é que viu eu dizer que as pessoas das zonas rurais são podres? Não meta no meu discurso o que eu não disse, só para poder mandar vir.
      Eu referi que a podridão está em todo o lado, i.e., politicos, gente de responsabilidade que não tem carater e é corrupta existe em todos países.
      Não é só em Portugal que são assim.
      E por fim, sim o Portugal rural é de pessoas comuns, como todas as outras. Pessoas normais, igual a toda a gente de todo o lado. Não é por estarem em zonas rurais que são diferentes e coitadinhos. Coitadinhos, quanto muito são os outros que pensam isso.
      E ando pêlos blogs a ler descrições bucolias, lirismo de todo o Portugal rural. Como se o Portugal dos grandes centros tivesse tudo o que é mau e na parte rural temos tudo o que é lindo, mas com uma beleza na sua fase final da vida, prestes a morrer. Realmente no interior é tudo assim. Uns coitadinhos que ali estão numa zona linda e maravilhosa, prestes a morrer porque nunca ninguém lhes estendeu a mão (not!). Os meus avós nunca foram coitadinhos à espera que lhes estendessem a mão para o que quer que fosse. Tinham muito mais força, garra e foram muito mais felizes (mesm sem os tais apoios das grandes instituições) que muita gente dos grandes centros.
      E lamento muito que pense assim. Lamento mesmo muito.
      Mas não admito que diga que eu chamei podres às pessoas do interior ou que acho que devem morrer...
      A séria, porra que distorcer o que os outros dizem tem limites.





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    5. Hã?! Oh anónima...
      Mas que eu pense como?!

      Onde é que eu falei N'"Uns coitadinhos que ali estão numa zona linda e maravilhosa, prestes a morrer porque nunca ninguém lhes estendeu a mão"??

      Onde é que eu disse que "só neste país"??

      Olhe que para quem se queixa que distorcem o que diz... Bem prega Frei Tomás.


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    6. Tanto fala em ódio e eu acho que o ódio está em si.
      O seu discurso não faz sentido nenhum pois basicamente deixou meia-dúzia de exemplos de pessoas más e odiosas do Portugal rural, vem dizer que não se deve fazer nada contra ninguém e depois diz que não disse isso? Decida-se.

      É que se afirmarem que se deve fazer justiça e atribuir responsabilidade a quem tem como função precisamente fazê-lo é querer vingança ou destilar ódio eu venho ali e volto já.

      É que por um lado não quer ouvir criticas ao sistema e por outro critica-o como se as pessoas do interior fossem as únicas podres e a seguir já inverte o discurso.

      Todos os cidadãos portugueses devem ser tratados da mesma forma e não são. É a própria anónima que o admite. E aqui fala-se da gestão da floresta e das responsabilidades politicas do caso em questão.
      Se formos falar dos pobres em termos de ajudas, etc é outra questão. Até porque eu até considero que os pobres nas aldeias têm uma vantagem sobre a maioria dos que vivem nas cidades: eles têm habitualmente algum local para plantarem bens alimentares o que, parecendo que não, ajuda sempre na economia familiar. Mas isso são outros quinhentos.

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    7. Ok. Ficamos por aqui.
      Eu percebi perfeitamente o que disse, e acho que possivelmente percebeu o que eu disse. Mas se preferem fingir que não e olhar para o lado. Tudo bem.

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    8. Isso. Que o blogo-Deus a acompanhe.

      (E não, não percebi nada do que disse.)

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  6. Muito bom! Foi mesmo o post 'até que a voz me doa'!

    Li isto: "As florestas propriedade das celuloses não ardem:
    porque fazem parte de uma conta de exploração positiva. De um cluster que vai desde a plantação à produção de papel. Pelo meio temos técnicas de plantação, prevenção de incêndios, meios próprios de ataque, vigilância permanente. Limpeza de matas. Acessos fáceis. Água suficiente e à mão."

    Algo será feito? Resposta:
    O que fizeram depois do monumental incêndio na Madeira? Ahh, sim, o Alberto João Lançou um livro...

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    1. Vamos ver Uva, vamos ver o que aí vem... Se é que vem. Às tantas reformulam só as estruturas institucionais (que é como quem diz baralham e tornam a dar) e as matas ficam na mesma...

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    2. No ano passado a cobertura mediática do fogo na Madeira irritou-me um tanto. Esqueceram-se de muitos fogos, desastres e pessoas que ficaram sem tudo no continente.

      Não que considere que a Madeira não devesse ser ajudada mas se tivessem feito campanhas de solidariedade para TODOS eu compreenderia, assim sinceramente foi outra situação de revolta. Afinal parece que os locais que não são turísticos e as pessoas que perderam a casa e tudo o mais num incêndio numa qualquer aldeia isolada não é gente, não vale tanto. Aliás, pela cobertura dos media...essas pessoas não valem mesmo nada.

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    3. É que essas pessoas costumam ser feias... Pele queimada, sem dentes e isso. Pouco telegénicas, sabes?!

      (Já estou a disparatar... É dos nervos.)

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    4. Há demasiados interesses. A industria do eucalipto gera milhares de postos de trabalho. Dá pouquíssimo trabalho. É chegar e abater. Ter um sobreiro é mais complicado. Quem é que quer pagar 50,00€ por dia a um homem para tirar a cortiça. E a canseira que aquilo é, as mãos todas tisnadas, as picadas da bicharada, o calor. Cortiça não obrigada. Então vinha. Vinha dá uma excelente cultura-bombeira. Vamos a ela. Mas então quem é que poda aquilo para o sol entrar e chegar à uva? E, e, e... pois é. O melhor é esquecerem. O meu Alentejo está todo seco e abandonado. Nem para o fogo aquilo já presta. É realmente revoltante.

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    5. Mas isso não explica tudo. Há eucaliptos espalhados pelas nossas serras e outros locais de difícil acesso que não são rentabilizados. Estão só lá, a existir. A fazer de árvores sérias e a sugar as outras. E cortiça esquece, só dá para grandes empresas. Só se tira cortiça de um sobreiro de 9 em 9 anos. Só mesmo para o Amorim.
      E produz-se muito vinho. Vinho e azeite. E castanha. E cereja. É do pouco que se consegue tirar rentabilidade em muitas zonas...

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  7. http://observador.pt/2017/06/23/portugal-contratou-servicos-a-cartel-espanhol-para-combate-de-incendios/

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