terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A propósito disso dos "tarefeiros" nos serviços de urgência dos hospitais....

Que é como quem diz dos clínicos que são contratados pelos hospitais através de empresas de recursos humanos para épocas de movimento extraordinário (que é como diz, num hospital central, dia sim, dia não).

Contam-me amigos médicos que é um docinho trabalhar com esses colegas, a quem lhes é pago, mínimo, 30€/hora por turnos de 24 horas. Basicamente o triplo do que recebe um clínico afecto ao hospital. Como estava a dizer, contam-me os meus amigos que é muito bom trabalhar com esses colegas que nem uma alta podem dar (nos casos que conheço), pelo que decisões de risco tomam zero e pelo que responsabilidade pouco mais têm que nenhuma já que tudo o que fazem tem de ser validado por alguém da casa (e isto sou eu claramente a exagerar mas percebeis onde quero chegar)...

E pronto... Ainda assim sai mais barato ao hospital fazer isto que contratar mais pessoal e como o que importa é o balanço financeiro no final do ano, cá vamos indo na mediocridade de sempre...

Conheço um médico, rapaz novo, "tarefeiro" por opção... Nem concorre a vagas em hospitais... Faz cinco ou seis turnos de 24 horas por mês em hospitais aqui na zona norte. Não faz mais porque não quer, porque o que gosta é de andar de bicicleta. (Mas agora fazei as contas a quanto ele ganha no fim do mês, para em cinco dias da semana, basicamente, andar de bicicleta.)

9 comentários:

  1. Fico chateada, é claro que fico chateada. Este país é uma podridão...

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    1. Este país é o país do desenrasque... Sempre foi S*, sempre foi...

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  2. Olá NM,
    Leio-a desde o início e só agora comento, porque o caso diz-me respeito. O meu marido é médico especialista (não interessa de quê). Quando acabou a especialidade não conseguiu contrato/vaga num hospital público. Há mais de 5 anos que trabalha a recibos verdes, como tarefeiro, em hospitais e centros de saúde. Não ganha €30/hora hoje em dia. Ganha quase metade. O que as notícias não dizem (nem a NM) é que desses supostos €30 o médico tem de pagar 25% de IRS e caso não trabalhe em mais lado nenhum, também tem de pagar a segurança social todinha do seu bolso. Como a NM é dada aos nºs pode concluir que os supostos €30 já não o são. E não há cá 13º ou 14º mês... Os tarefeiros trabalham para empresas que num mês ganham o concurso e no outro já não. Já perdi a conta aos locais onde o meu marido trabalhou. As vezes que no final do mês num centro de saúde sedento de médicos lhe perguntam se regressa no mês seguinte. E ele não sabe, não depende dele.
    Se é possível fazer como o seu amigo, é. Se é possível fazer isso uma vida inteira, tendo outras responsabilidades familiares... não acredito. A culpa é dos médicos? Não me parece. Se €30/hora (que afinal não são) pagam ter de ver 100 doentes num dia, como no caso do Amadora? Se calhar todos merecem mais respeito: doentes e médicos.

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    1. E eu critico os médicos? Nalgum ponto? (Há médicos muito muito maus e há médicos muito muito bons... Há médicos que não fazem um boi e só não querem ter chatices e passar de fininho tal como há médicos que deixam a pele no campo de batalha, todos os dias... Como há bons e maus engenheiros, professores, juízes, varredores de rua... Há bom e mau... Como em todas as profissões... Sendo que o dia mau de um medico pode significar a morte de uma pessoa... O dia mau de um professor poderá traduzir-se em quase nada, corrige na próxima aula e já está.)

      Critico o sistema... Isso critico... Critico muito e critico cada vez mais... Vivemos num país em que não se premeia, não se valoriza, é tudo pela mesma bitola e é tudo em função do lucro (para depois se deitar dinheiro à rua, como foi com a Parque escolar, por exemplo)... Neste país, faça-se muito faça-se pouco, faça-se bem ou faça-se mal, vai tudo corrido com o mesmo salário e os mesmos 23 dias de férias ou lá o que é... Até nas empresas é (quase) assim... E isso eu não entendo...

      Relativamente a isso dos médicos, deverá saber que há especialidades pagas a 60€, não a 30... 30€ é tabelar por baixo... E também não percebo porque diz que não se pode viver assim tendo família... Os professores não vivem? Os professores vivem sem eira nem beira durante, praticamente, toda a sua vida activa. Porquê? Porque se evita a contratação até mesmo à última...

      Agora... Reforço que eu não estou a criticar os médicos. Nem tampouco quem decide viver da prestação de serviços... Cada um faz pela vida como melhor lhe parece. Logo que dê o seu melhor a fazer aquilo para o qual lhe pagam dentro de total legalidade, ninguém tem autoridade para dizer o que quer que seja.
      Bom ano!
      (Espero que se perceba, que estou a escrever do tlm e fica difícil...)

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    2. Eu não estou a dizer que a NM critica os médicos, mas vejo muita gente insurgir-se contra os tais €30/hora e não vejo ninguém dizer que os €30 não vão direitinhos para o bolso do médico. E da realidade que conheço, não há especialidades pagas a €60 aos tarefeiros.Já houve. Nos hospitais do interior até era possível ganhar €100/hora. Hoje não. Só nestes casos de aflição, quando o ministério percebe que ou paga ou não há médicos dispostos a abdicar do Natal e fim de ano (além dos que já têm contrato com o hospital e sabem que à partida poderão ter de trabalhar nesta alturas).
      Os professores, se tivessem escolha, também não iam querer viver na instabilidade. Um médico, tendo escolha, a dada altura também não vai querer viver de ser tarefeiro (haverá exceções, como é óbvio).
      Eu não estou contra o seu texto. Estou a partilhar uma realidade, que é a minha, mais nada.
      O sistema está errado. Não há dúvida. Porque é que o Estado investe na formação de médicos durante 8, 10, 12 anos e depois, havendo necessidade de profissionais, recorre a estes expedientes? Não faz sentido. Porque se alguém paga e há trabalho, então abra-se a vaga.
      Bom Ano para si também e família.

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    3. Oh anónima, mas sabe porque é que antes os médicos ganhavam tanto, não sabe? Porque se souberam proteger. Porque se souberam manter poucos. No meu tempo havia quatro cursos de medicina... Quatro! E uma falta tremenda de médicos. O lobby da ordem era muito forte e não deixava abrir mais cursos. Toda a gente via isso. Entretanto abriram mais cursos e outros saíram para se formar fora (há uns quatro anos tive de ir à Faculdade de Medicina de Santiago de Compostela. Ouvia-se falar portugues por entre os alunos, não se ouvia galego...)... Moral da história: aconteceu o que aconteceu com todos (e entretanto já tínhamos cá médicos estrangeiros para suprir as necessidades), aumentou a oferta desceram os preços... Lógico! E isso do estado gastar dinheiro a formar pessoas... Quantos professores o estado forma? Neste momento deve estar a formar 90% a mais do que aqueles que consegue absorver... É o sistema...

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    4. E mesmo recendo limpos 15€/hora... pior dos cenários, certo? São 360€ em 24 horas... Eh pah... Se mesmo assim não há médicos disponíveis... Com uma taxa de desemprego como a nossa... Desculpai lá, mas não dá para ter muita pena...

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  3. Pipocante Irrelevante Delirante30 de dezembro de 2014 às 17:46

    Não acho que os tarefeiros recebam 30€/hora... a empresa é capaz de receber esse valor. Duvido que pague ao tarefeiro sequer metade...

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    1. Ok... Dou de barato o exactamente agora... Mas até há bem pouco tempo tenho a certeza que sim.

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