terça-feira, 18 de março de 2014

"Deixarei a minha filha estudar humanidades?"


A minha vida anda tão fâcamanaice de espetacular que estou há quase duas semanas para escrever sobre isto e só agora tive tempo. A verdade é que, não sabendo muito bem porquê, é um assunto em que penso muito e há bastante tempo. 

Ainda outro dia me perguntava uma amiga minha que faria ela com a filha... 11º ano. Humanidades. O que é que ela quer, perguntei eu. Não ter matemática, respondeu-me ela. Pois então não sei, disse eu. Assim sendo não sei... O que dá emprego na área das Humanidades? Não sei, sinceramente não sei. Continuo a pensar nisso porque gostava mesmo de ajudar; tirar um coelho da cartola e indicar um (bom) caminho. Compreendo a minha amiga. "Deu" um curso à filha mais velha e nem lhe passa pela cabeça não lho "dar" à mais nova. Não seria de todo justo, diz ela. Compreendo a filha da minha amiga. Não gosta nem percebe de matemática, mas quer ter um curso superior, porque ouve a toda a hora que, ainda assim, quem tem um curso tem maiores probabilidades de ter um emprego. E é só isso que ela quer, um emprego. E eu acho esta ambição em gente tão nova muito triste. No meu tempo eu pensava no que é que gostava e vinha-me uma área da ciência à cabeça (matemática, claro). Estes miúdos de agora não... Estes miúdos pensam no que é que gostavam e vem-lhe algo bem mais lato (e deprimente) à cabeça: gostavam de ter um emprego. Que emprego? Ganhando mais ou menos (e, para alguns, trabalhando pouco), isso será o de somenos importância. E caramba... Isto é tão triste!..

É certo que já é quase imemorável (passe o exagero) o tempo em que ter uma licenciatura era sinónimo de ter emprego, mas também longe vai o tempo em que ser bom nas ciências era sinónimo de sucesso profissional. Ainda assim, as coisas vão melhor (menos mal vá) para quem tem jeito para as matemáticas. Diz o HR que "nós, ocidentais, estamos a perder a corrida das engenharias e das matemáticas" e que tal se deverá à falta de espírito de sacrifício das gerações mais jovens. Poderá ser sim, mas muito também é cultural e está profundamente enraizado na nossa sociedade, qual fado nacional. É muito comum ouvir os pais dizerem que, tal como eles, os filhos não têm "jeitinho" nenhum para a matemática e que por isso a coisa até se desculpa (e até tem graça). Agora assumir que os filhos escrevem mal e porcamente ou não sabem a ponta de um corno de História... Ui, cruzes-credo, jamais-salomé, isso é que não, que isso é coisa de ignorante...

Se eu acredito que alguma vez vá pensar nisto no que respeita aos meus filhos? Difícil... E se isso acontecer levo-os logo a fazer um teste genético que de certeza que houve troca na maternidade. Sim, modelações matemáticas, validações estatísticas e algoritmos são o pão nosso de cada dia nesta casa (e, em boa verdade, o nosso ganha pão). Sim, sim, tanto eu como o meu estimado homem somos uns cromos do pior ("nerds" ou "geeks" soaria melhor mas nós não estamos cá para dourar a pílula). Sim, sim, um mal nunca vem só, mas assim também só se estraga uma casa. Por isso, se alguma das crianças nos sai avessa aos números algo vai (de muito) mal no reino de Mendel. Mas bom, nunca fiando que há aquela coisa das mutações génicas e dos alelos recessivos e mais não sei quê e uma pessoa tem de estar preparada para o pior... [Brincadeirinha... Não se enervem já que isto é só provocação barata!]

Resumindo e concluindo... O que é que digo à minha amiga?

16 comentários:

  1. Que a filha tem de descobrir o que gosta. Não há nada pior na vida que levar uma vida a fazer algo de que não gostamos. Paixão no trabalho é 5'0% da coisa para uma pessoa se dar bem.
    Se puder seguir matemática, tanto melhor, a matemática, mais que as derivadas e integrais, que, em boa verdade, pouca ou nenhuma aplicação terão, dá-nos agilidade de raciocínio. E isso, minha querida afilhada, é fundamental para a vida. Ainda que a miúda opte por ser cantora.. .

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    1. A miúda gosta (mas ainda assim "muito relativamente") de arqueologia. E o que é que ela faz com esse curso, pergunta-me a minha amiga. Não sei, respondi-lhe eu, sinceramente não sei...

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    2. Concordo com a Mais Picante. Mini Lulu optou por Ciências e andava miserável à beira de uma depressão apesar das boas notas. Pediu para a deixarmos mudar para Artes e nós deixamos. Está muito feliz e com notas ainda mais altas. Temos que os deixar fazer a escolha deles. Têm muito tempo para fazer o que não gostam no futuro, ou não, porque ninguém o conhece.

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    3. Pois, será esse o melhor caminho será... O problema é quando eles não sabem muito bem o que querem e quando a esperança de exercerem naquilo para o que estudam é muito pequena... Caramba, que motivação terá um aluno mediano de.. sei lá, literaturas modernas (existe?), por exemplo?

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  2. Se a miúda só quer um emprego, é deixá-la ir para humanidades. Hoje em dia há mil e um cursos de engenharia que ficam com vagas por preencher porque os alunos perceberam que não há emprego nessa área. Todos os dias ouvimos falar de profissionais da saúde que emigram por falta de trabalho em Portugal. Os professores é o que se sabe... Se as hipóteses de vir a trabalhar numa área que goste são reduzidas ( que área nos garante emprego nos tempos que correm?), ao menos que tenha estudado algo de que goste.

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    1. :) Agora que penso nisso... Até que tens uma certa razão. :)
      O problema é que a miúda também não quer "gastar o dinheiro" da mãe... Ela quer mesmo estudar alguma coisa que depois possa (pelo menos sonhar em) aplicar. Mas lá está... É um bocado como tu dizes... Está tudo tão mal que olha...

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  3. Eu acho que a sua amiga deveria levar a filha a algumas universidades, mostrar os cursos que existem para além dos óbvios e a sua aplicação no mercado, o que se faz de concreto e não ficar por aquela explicação hedionda que aparece sempre nas "saídas profissionais" (parece sempre tudo maravilhoso e espectacular). Muitos cursos na teoria fascinam, na prática são horríveis. E o facto de não ter jeitinho nenhum para a matemática, isso é ultrapassável em alguns cursos. Muitos jovens não seguem a área de ciências por causa dessa "coisa" do "não tenho jeito para a matemática". Eu também não tinha/tenho e segui a área de ciências no secundário, não morri, tive explicadores de matemática, no 12º tive uma professora de matemática tão rigorosa mas tão boa que quando cheguei ao exame (e todos os anos há queixas que é difícil) achei o exame fácil, tirei 15 no exame melhor nota do que tirava nos testes. Isso de não ter jeitinho para a matemática às vezes é mesmo falta de esforço. Mas claro que ela deve seguir o que gosta, mas não deve fazer um drama maior do que realmente é por um curso ter um par de cadeiras com "números"

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    1. Pois... Também concordo que com esforço tudo se consegue. Mas ela está mesmo convencida que não consegue. Eu já lhe expliquei que uma ou outra cadeira de estatística ou de análise lá se havia de conseguir fazer, mas ela fica mesmo apavorada com a ideia.

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  4. Neste momento, eu arriscaria Direito, com o curso do liceu em Humanidades. Não é bom, que não é. Mas mesmo assim ainda é o melhorzinho que por aí anda. Acho que a Faculdade de Letras, as Faculdades de Ciências Sociais e Humanas e afins estão cheia de futuros desempregados e sem matemática, as Engenharias, as Finanças e a área da Saúde são para esquecer.

    Claro que ela pode tentar Ciências Políticas ou algo assim e ir para aldrabona profissional. Mas não quero desejar mal à filha da tua amiga.

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    1. Pois... Eu também lhe falei em Direito. Vamos lá ver...

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  5. Olha, eu ao meu já lhe disse: Livra-te de pensares em seguir humanidades! Joga mas é à bola que é "muita" bom! E põe os olhinhos no Cristiano Ronaldo... já viste como ele trata a D. Dolores?!!! Esta mãe dispensa as legguins leopardo e promete não assoar a ranhoca no Hermés quando fores o melhor do mundo!
    Isto é que são conselhos!!!

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    1. :DDDDD Eu também estou sempre a falar nisso mas não me parece que me vá safar... Ah... Eu dava-me também como Dona Dolores... Palavra que sim! Até as tais leggings vestia se o meu menino quisesse.

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  6. O problema das humanidades é que por não terem matemática são de facto áreas mais fáceis (não vamos estar aqui com hipocrisias...) Eu até posso não gostar de Filosofia mas se numa tarde tiver de aprender determinado conceito fá-lo-ei já o contrário não se verifica tão bem! O problema dos miúdos não é não gostarem de matemática é não gostarem de coisas difíceis, o problema deles é o facilitismo!

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    1. Isso de ser mais fácil é que eu não sei... Acho que tudo vai de se começar a "encarreirar" na coisa. Tudo na matemática é lógico, não é preciso decorar nada... Acho que é mais uma questão de saber pensar e, muitas vezes, de ter confiança naquilo em que se pensa... Para mim, por exemplo, era terrível estudar filosofia ou psicologia. Até tirava boas notas mas era com muito mais esforço do que para matemática ou física... Olha... Cada um é para o que nasce. ;)

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  7. O meu filho tem uma mãe de letras/línguas e um pai de ciências/informática, espero que herde dos dois lados :)
    Agora quanto à filha da tua amiga, as únicas áreas que têm bastante procura por cá são as engenharias (menos de 4% de desemprego) :|

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    1. Isso é que é uma vantagem adaptativa e peras :)

      (já isso da percentagem de desemprego... Até já pode ter sido, mas nos dias de hoje não corresponde à verdade)

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