Perder uma mãe é duro. Perder uma mãe quando se está para
ser mãe é muito duro. Perder uma mãe, quando se está para ser mãe, que foi mãe
de centenas de crianças que ajudou a nascer é excruciante.
Momentos antes de ter o meu bebé chorei, chorei muito.
Nenhuma daquelas mulheres de bata branca e voz serena era a minha mãe. E bem
que podiam sê-lo. Medir tensões, colher sangue, levar para o bloco… E na minha
cabeça a minha mãe, só (e sempre) a minha mãe. A minha mãe que me fez festas na
cabeça e me segurou na mão quando foi do Jr. A minha mãe que triunfante mostrou
aquele bebé tão pequenino com um sorriso nos lábios… Este é mesmo meu, dizia
ela. E sim, aquele era mesmo dela e ia sê-lo para o resto da vida.
E eu que agora estava tão nervosa. E eu que agora sabia que
sim, que as coisas podem mesmo complicar e correr mal. E o meu amor sempre ao
meu lado. A dar-me a mão. Sempre a dar-me a mão. A pedir-me para ter calma. E
eu que só pensava na minha mãe. E o coração que me saltava do peito. E a garganta
que se me secava… E eu que apertava a mão do meu amor. Apertava muito! Se eu
morrer cuida deles, pensava eu.
E depois… “Vai nascer …” E depois ouvi-o chorar… “É
gordinho…” E beijei-o. E depois o meu amor beijou-o. E o meu coração sossegou.
O meu amor pequenino, o meu amor guerreiro, não só se aguentou como até era
“gordinho”. E eu voltei a chorar… Desta vez de alegria! Tínhamos conseguido. A
minha médica querida veio-me acarinhar. Tínhamos conseguido! O meu pai chorou e
o meu irmão festejou. Tínhamos conseguido! A minha família, os meus amigos…
Caramba… Tínhamos todos conseguido!…
E agora o meu bebé pequenino dorme. E o meu menino grande
brinca. E o amor que eu escolhi continua a segurar-me a mão. E o meu amor velho
respira de alívio.
Foi tudo tão rápido… Ai que vem aí outro bebé, ai que
estamos todos tão bem, ai que ela afinal não está nada bem, ai que tens de ter
cuidado com o bebé, ai que não tem cura, ai que afinal já tem cura, ai tu tem
cuidado, ai que ela já não está connosco, ai tu tem cuidado com o bebé,
ai deixai-me em paz caramba, ai que o bebé é tão perfeitinho... Tudo num riscar
de um fósforo…
E enquanto escrevo isto… Choro confusa! Choro de gratidão
pelo cordão umbilical que me ofereceram e choro de mágoa pelo
cordão umbilical que me roubaram.
E é isto o que é a Vida, não é?