Quando o escândalo veio a público, comentei o assunto com a minha gente, tal como, provavelmente, três quartos do país.
Dois ou três dias depois comento como é possível a senhora ainda estar em funções e o meu marido diz-me que só tinha de aguentar mais um mês, que depois a malta se esquecia e tudo passava por entre os pingos da chuva que teima em não aparecer. "Ainda por cima se metem as festas... Esquece... Não a tiram de lá.", dizia ele.
Eu não podia crer.
"Não é por umas gambas e dois vestidos que vou fugir" e parece que a da delegação do Norte também fez asneira... O tão em voga: "Ah... Ok, eu fiz isto e aquilo, por desconhecimento e de boa fé e tal, mas e então a outra que fez aqueloutro gravíssimo?!"
E dei razão ao meu marido. Não vai ser fácil.
E aquela entrevista... Bom, a senhora até pode escrever um livro de como foram só umas gambas e dois vestidos, de como transformou aquela casa, de como aquela casa lhe deve tudo. Dá-se é o caso de aquela casa não ser sua. Não é. As instituições não são quintas. Os caseiros amiúde esquecem-no. Mas não são.
Qualquer pessoa reconhece a imoralidade de uma IPSS ostentar um automóvel daqueles. É imoral. Fosse para transportar a Rainha, o Papa, ou o próprio do Jesus Cristo. É, simplesmente, imoral.
Mas talvez só quem conhece o funcionamento das IPSS (um aparte para dizer, com orgulho, que fui durante anos presidente do Conselho Fiscal de uma) se apercebe da imoralidade do que foi feito naquela casa. A imoralidade de se ter feito um contrato de trabalho naqueles termos (a criar um cargo de "direção-geral", paralelo ao de direção da IPSS), com aquele salário, com aquelas regalias, numa instituição de solidariedade social, com execuções orçamentais anuais (muito) negativas. O presidente de uma IPSS poderá, se assim se justificar, ser remunerado com um máximo de 4xIAS, o que equivalerá a, grosso modo, 1200€ limpos ao fim de um mês, x12 ao fim de um ano (não x14 como num contrato de trabalho), com limitação de três mandatos (12 anos) consecutivos.
Há uns dias dizia o presidente da CNIS numa entrevista à
Antena 1 que acreditava que apenas 5% dos presidentes das direções das IPSS fossem remunerados. (Estatísticas efetivas sobre o assunto? "Bola!", lá diria o treinador do meu clube.) Mas esse número parece-me ridiculamente pequeno e o que eu questiono é quantos exercerão cargos paralelos nessas tais instituições com contratos de trabalho como a phyna da Paula, sem qualquer regulamentação específica.
Parece que hoje a senhora foi suspensa por trinta dias.
Mas eu continuo a achar o mesmo... Não estou certa que seja destituída.
É só aguentar agora dois meses, sem grande alarido (ou "alarme social", como se diz).
Mas tranquilizemo-nos e continuemos a confiar... A maior parte das IPSS, as pequeninas, não têm dinheiro para mandar tocar um cego, como se costuma dizer. A não ser que seja a ACAPO, que às tantas aí terão contactos para ter música de borla. É chapa ganha, chapa gasta e omelete sem ovos é o prato do dia, sendo a consignação de IRS uma das mais relevantes fontes de rendimento. Por falar nisso... Há mais ou menos 3000 entidades que podem beneficiar dessa ajuda. Ide ao site das finanças procurar a lista, procurai uma que vos toque o coração (de caminho podeis dar uma volta a ver o que se faz na vossa freguesia, bater à porta e perguntar se podeis ajudar em alguma coisa), e depois tende o cuidado de preencher o Quadro 11 do vosso formulário de IRS. Não dói nada.
Estão nas mesmas condições de contratação... Bolas, está difícil de perceber um exercício TEÓRICO.
Reformulando... Imagine que só há duas pessoas no mundo disponíveis. Pronto. E que não sabe nada delas. Uma é homem, outra é mulher. E tem mesmo de deixar o seu filho a uma delas. Qual escolheria? Pronto, é isto!...