O Baby adooora exibir-se. Nada a fazer, é mesmo dele, gosta de ser o centro das atenções e gosta de fazer rir. E é que o miúdo tem mesmo muita piada, não é por ser meu filho, mas por onde passa (e com quem interage - toda a gente, portanto) deixa um rasto de sorrisos e gargalhadas. Uma amiga minha diz que ele emana boa onda... E é verdade. Ora ri à gargalhada, ora sorri charmoso, ora chama, diz adeus, diz olá, dança, esconde-se para aparecer do nada e fazer um "cucu!" exuberante... Enfim, faz a festa ele sozinho!
Uma coisa é certa, onde quer que estejamos com ele, despercebidos é que não passamos. E não é que grite ou chore ou se porte mal... Não, ele percebe tudo o que se lhe diz e simplesmente, qual animal social, vai ter calmamente com as pessoas e começa a interagir. Mas também é verdade, que se eu o for buscar para não estar a incomodar ninguém, ele vem sem armar chinfrim, logo que a partir daí tenha atenção completa da minha/nossa parte ou se lhe dê alguma coisa para comer: "PUUUUM!" (i.e. "Pão!", mas ele fala com tal entusiasmo que parece que não come há três dias - ainda que tenha acabado de comer um prato de massa... E uma sopa... E uma banana e três bolachas!). Sem comunicar (ou sem comer) é que ele não se fica.
Mas o que ele gosta mesmo, mesmo, de fazer é de imitar animais... Quando estou com ele e encontro alguém conhecido, é certinho e direitinho que não vou embora sem que ele faça um sonoro "Ão-Ão!". Para quê? Para que eu diga que ele está a imitar um cão e para que lhe pergunte como fazem outros animais e ele poder dar o show dele. E a verdade é que ele sabe o som de imensos... O passarinho, o pato, o galo, a vaca, a ovelha, o macaco, o gorila, a cobra, o cavalo, o porco, a coruja, o lobo, o leão e o tigre e o urso [faz um Grauu! delicioso com as mãos para estes três], o peixinho [abre e fecha a boca...]. Enfim, sabe bastantes, as pessoas ficam impressionados e elogiam-no, coisa que ele a-do-ra! Beijinho-beijinho e vamos à nossa vida, ele com a satisfação de missão cumprida e com o ego compostinho.
Mas aqui neste show do como-é-que-faz-o-bichinho há sempre um grande problema, uma enorme pedra na sandalinha tamanho 22 desta criança... É que... Bom, há que dizê-lo com frontalidade... O Baby, não sabe como faz o gato! Ele saber sabe, mas não consegue verbalizá-lo. Não sei se é do "Mi", se é do "i", se é o facto de ter duas sílabas... Não sei... Só sei que há imenso tempo que lhe ando a dizer que o gato, que ele vê quase todos os dias, faz "Miau!" e ele não consegue repetir... É que não lhe sai mesmo nada, com a desilusão estampada na cara...
E isto é um problema porquê? Porque em 99% das vezes, quando veem que ele gosta de imitar animais (e como ele começa sempre pelo cão) as pessoas perguntam-lhe como faz o... Tcharan!... Gato!... E ele olha sempre para mim com um ar muito aflito e faz uma espécie de revirar de olhos que me faz desatar à gargalhada... Fica então muito ansioso a olhar-me fixamente, começa aos pulinhos muito agitado, "Mmmmmmm!", com os lábios muito cerrados, mesmo mesmo como quem diz: "Por favor mãe, rápido, salva-me desta vergonha e pergunta-me os 593 que eu sei..." E lá começo eu a perguntar a longa lista dos que ele sabe, resgatando-lhe o ego lá da escura e fria catacumba dos "Miaus!".
Ainda ontem o empregado de uma pastelaria que frequentamos chorava a rir com esta história... O Baby foi ter com ele [aquilo estava quase vazio e ele já os conhece], disse-lhe: "Olá!", "Olá, estás bom?", acto contínuo o pequeno faz "Ão-Ão!" (pronto para começar o show), diz o empregado: "Ai sabes como faz o cão? Muito bem... E o gato? Como faz o gato?", perante esta afronta o Baby vira costas todo zangado, vem ter comigo de cara muito séria, pede colo e aponta para o empregado. Levo-o lá a ver o que se tinha passado. Mal chegámos junto do empregado diz o Baby alto e bom som: "ÃO-ÃO!"... Adivinhei o que tinha acontecido... "Muito bem! E o pato?", "Quá-quá!", responde ele orgulhoso, "E o lobo?", "Aúuuu!", "E o gorila?", "Ú-ú-ú!" [enquanto bate com os punhos no peito], "E o macaco?", "Á-á-á!" [enquanto faz conchinhas com as mãos debaixo das axilas], "E o galo?", ..., nisto o empregado pergunta: "E o gato? Como faz o gato?"... Silêncio... O Baby olha para mim... Faz aquela espécie de revirar de olhos... Suspira... Acena que não com a cabeça... Deita a cabeça no meu ombro e aponta-me em direção da porta... Dava-se por vencido. Já nada mais havia ali a fazer, mais um dia que fora derrotado pelo diabo do "Miau!".
(...)
Algo me diz que quando, finalmente, conseguir me vou fartar de ouvir "Miaus!"...