As saídas de uma semana de trabalho, quer minhas quer do marido, são regulares e passam-se bem. Começa-se na rotina da semana, as crianças vão à escola e às suas atividades e em menos de nada já o ausente está de regresso. Desta vez, foram duas semanas, meteu-se um fim de semana e, parecendo que não, o sair da Europa releva.
O Jr. pediu-me que lhe trouxesse uma camisola de futebol do Brasil do Neymar (o mais novo pediu-me massa à bolonhesa, don't ask). Eu achei um pedido bom e razoável - na verdade, acometida não propriamente de remorsos mas de algo similar, aceitaria qualquer pedido. "O Cristo Redentor, meu filho?! Queres que a mãe te traga o Cristo? Com certeza, meu bem. A mãe traz." Mas bom, regressando, à camisola... Da última vez que estive no Rio foi em 2016, ano de Jogos Olímpicos, e camisetas do Brasil ("camisolas" lá são camisas de dormir de senhora) saíam debaixo das pedras. Não havia esquina onde não se vendessem. Mas desta vez... A verdade é que os dias foram passando, o tempo para passeio foi praticamente nulo e camisolas da seleção nem vê-las. Depois de ir a duas ou três lojas de centro comercial, peguei no telefone liguei para umas quantas cadeias e... Nada! Pois sim senhora... Falo com o Jr:
[NM] Olha filho, não encontro camisolas do Neymar, nem sequer do Brasil. Está tudo esgotado.
[Jr.] Oh...
[NM] É, disseram-me que estão à espera das novas da Copa América que vai ser este ano, e que as últimas da Copa do Mundo já acabaram.
[Jr.] Oh...
[NM] Levo-te uma de um clube, ok? Dessas arranjam-se fácil.
[Jr.] Pode então ser uma do Corinthians?
[NM] Isso não é de São Paulo?
[Jr.] É.
[NM] Oh filho... Isso ainda é pior... Estou no Rio, lembras-te?
[Jr., já no gozo] Então do Santos!
[NM] Do Santos dá?, pergunto aos colegas
{risos}
[NM] Oh piadético... Tem de ser um clube do Rio...Tens [eu a receber indicações de colegas] Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense... Olha... Queres uma do Vasco da Gama? Os amigos estão a dizer que todos os portugueses que moram aqui são do Vasco...
[Jr.] Pode ser. Uma qualquer. O que for mais fácil. Por mim tudo bem. Não te preocupes com isso.
{Orgulho, hã. Oito anos de gente, com mais maturidade que muito adulto que por aí anda.}
Eis que se não quando amigos cariocas entram em campo. No centro da cidade, lá no sei aonde, pois que de certeza que haveria. Se não houvesse lá haveria noutro não sei aonde. Era só o que mais faltava deixar o
moléqui desconsolado.
E... Havia!
Houve só um pequeno problema... Não havia camisolas de criança e trouxeram-me a mais pequena de adulto que encontraram. O Jr. é magrinho e era evidente que lhe ia ficar gigantesca.
Quando viu a camisola o Jr. ficou louco da alegria porque contava que eu não a tivesse conseguido. Depois, confuso, perguntou se era para o pai. Expliquei-lhe, que era para ele, mas que não havia de criança. Que os amigos tinham sido muito fixes, e dispensado muito do seu tempo para encontrar aquela; era uma camisola muito especial.
[Jr.] Pois é... E é muito muito fixe!! E sabes... Eu até prefiro que seja assim grande. Ainda bem que não havia do meu tamanho.
[NM] ?? Preferes?! Como assim?
[Jr.] Prefiro. É que assim... Não a visto, mas também não se estraga!!... Já imaginaste se eu a estragasse?... Podemos pendurá-la na parede do meu quarto?
[NM] Podemos.
[Jr.] Que sorte tive, hã?! Assim vai durar para sempre.
[NM] Sim. Que sorte!
(...)
"Não a visto, mas também não se estraga." Jr com o copo sempre meio cheio.