segunda-feira, 27 de junho de 2016

Coitadinho do crocodilo...


Olhai que fofos:


"do outro lado estão responsabilidades sociais que não podem ter resposta através do alargamento sem limites do tempo escolar", "alargamento sem limites", dizem eles. Sem-limites, hã! Mais duas semanas! Ui jasus, que crime!

Ora bem, contas de merceeiro:

De 1 de setembro 2016 a 31 de Agosto de 2017, há 252 dias úteis. Tirando os 23 dias úteis de férias, ou coisa que o valha, a que os professores têm direito sobram 229 dias úteis.

Agora o tempo lectivo calendarizado pelo ME para o 1º ciclo:

1º período: 15 Set a 16 Dez (63 dias úteis)
2º período: 03 Jan a 04 Abril (66 dias úteis)
3º período: 19 Abril a 23 Jun (45 dias úteis)

Ou seja, em 229 dias úteis de um ano corrido, os professores do 1º ciclo leccionam no próximo ano lectivo em 174, os restantes ficam para reuniões de avaliação e correcção de exames (?) e isso. 

Não dão pena? 

E depois dizem que: 


Pois não... Claro que não! Num ciclo de ensino em que todos os professores se queixam da extensão do programa, que têm de dar tudo a correr, que não há tempo para as crianças assimilarem nada... Vai-se a ver e no fim, ter mais duas semanas de aulas ainda prejudica! True story! Pela boca destas almas, ter mais duas semanas para dar o mesmo programa é completamente irrelevante. Vai-se a ver e até faz mal, é bem capaz de estragar tudo!

O (principal) problema?! Ninguém lhes ter pedido opinião nem dado margem para negociações.

É que isso dói, caramba!!! 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Deusmalivre ficardes a pensar que estou a defender isto do Brexit...

Que não estou.
Que de nos imaginar fora da EU eu até começo a tremer das pernas só de pensar nos Sócrates desta vida a pôr e dispôr do tesouro público sem terem de prestar contas a ninguém.... Se já assim, é como é... Sim, tenho preocupações muito poucochinhas, bem sei. Também pensei logo de manhã, que bonito bonito era a malta imigrante bazar e deixar os bifes agarrados às balls - estima-se, por exemplo, que 25% de pessoal médico do NHS seja não britânico. Depois no meio do bruá e histerismo todo também se me ocorreu que esta poderá ser boa altura para levar o Jr. ao Madame Tussauds a Londres que aquilo diz que tem lá uma parte de Super Heróis com que o miúdo ia delirar e sempre sairá mais em conta. Sim vergonha... Muita vergonha da minha pessoa.


Mas... O que eu estava para aqui a pensar e que me levou a escrever este post é que ninguém nos perguntou se queríamos pertencer à UE... Nem fomos tidos nem achados nas condições em que esta foi criada... Não fomos, pois não?...

Sou pelos referendos!

Mas...

Neste momento tenho outra questão:

52% é assim tão mais expressivo que 48% para legitimar/suportar uma decisão deste peso?

"Hum... Eu diria que não!", como diz o Jr.

Uma decisão desta monta e com estas implicações não pode ser "por um voto se ganha, por um voto se perde", como na eleição do delegado de turma num 5° ano.

Uma ideia que se me ocorre? Ser preciso, digamos, 70% (65%? 60%?) para vincular a decisão de mudança que ainda assim é a menos conservativa e a que acarreta maior número de imponderáveis. Não sei... É um bitaite.

(E aquilo do Trump estar no UK precisamente nestes dois dias, ali mesmo mesmo em cima do acontecimento, foi uma tremenda de uma coincidência, não foi? Foi pois...)

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Do microfone do Ronaldo. (Salvo seja, claro.)

Então parece que anda para aí uma e-multidão, aparentemente muito bem formada, vertical e racional, a atirar e-granadas ao Ronaldo... Diz que aquilo que ele fez é praticamente crime, é de extrema rudeza e desrespeito, que o jornalista não cumpriu a indicação de não falar com os jogadores porque, coitado, certamente sofreria represálias superiores se não o tivesse tentado. Que o jornalista tem família (talvez até filhos pequenos) e sentimentos e, coitado, se trabalha para o pasquim que trabalha é porque precisa, e que o Ronaldo não conhece nada da sua vida para o ter desrespeitado daquela maneira. Que se ele tem alguma coisa contra o CM, aquele jornalista em particular pode não ter culpa rigorosamente nenhuma. Que o que CR merecia era um valente correctivo (público, claro). Por acaso a coisa até lhe correu bem no jogo com a Hungria, senão, se voltasse a falhar penaltis e isso, era exigir-lhe que jogasse sem chuteiras. Só para ver se gosta de se ver privado dos seus instrumentos de trabalho, como aconteceu ao pobre coitado do jornalista. Mas como parece que, se calhar, ainda pode vir a dar jeito dentro de campo e, se calhar, joga melhor calçado, o mínimo que se lhe devia exigir era que fosse ele a buscar o microfone ao lago. o secasse com um secador de cabelo, e o entregasse pessoalmente, com um ramo de flores e um pedido de desculpas manuscrito. Tudo filmado, claro.

Se não fosse triste constatar a hipocrisia das massas atrás de um ecrã, isto até era hilariante.


E agora... Alguém me podia esclarecer... Aqueles passeiozinhos da treta à beira rio são obrigação contratual, não são? É que me parece que estar ali rodeado de seguranças, jornalistas e pessoas a tentar chegar à fala, há de ser tudo menos relaxante... Mas, bom, isto sou eu que não percebo nada disto a mandar bitaites.

Calha de eu ter comprado umas cadeiras novas para a sala.

Calha de serem produto mui fino, de marca mui fina, de produção nacional e isso.
Calha de as ter comprado com 50% de desconto.
Calha de serem de tecido claro e nós termos pensado: "Que se lixe, afinal temos duas crianças em casa, não dois macacos selvagens."
Calha de ter recebido esta semana as cadeiras.
Calha de terem vindo revestidas a película aderente.
Calha de terem ficado naquele estado e encostadas a um canto até conseguirmos dar avio às cadeiras velhas.
Calha de os meus filhos gostarem de subir para as cadeiras novas.

Calha de ter tirado as fraldas ao meu filho mais novo esta semana.
Calha de ontem não ter chegado a tempo à sala quando ouvi: "Xixiiiii!".

Calha de a criança estar sentada numa das cadeiras novas, as tais mui lindas e finas.

Parece que calhou de, nas andanças do sobe e desce, uma das cadeiras ter ficado com um bocadinho do estofo desprotegido do plástico. Bocadinho esse onde calhou o meu filho mais novo, com precisão milimétrica, alapar o seu precioso rabinho segundos antes de girtar aflito "Xixiiiii!".

E há lá coisa mais linda no Mundo que as crianças, senhores...

Estou aqui numa ansiedade que não vos digo nem vos conto...

Após um mês de dieta (não de fome, como já me aconteceu anteriormente, quer dizer... pensando melhor... um misto das duas, vá) e exercício (2 aulas Fit no ginásio/semana e abstenção de elevador) tenho hoje a segunda consulta na nutricionista.

Hoje até sonhei que depois do esforço e empenho todo a que me devotei tinha chegado lá e tinha perdido... {rufar de tambores}... 700 gr.!! 

Menos de 2kg e dá-me lá uma coisinha má! Garanto-vos que dá!

Enfim, crianças de nova geração.

Estava o Baby a beber água pela sua garrafinha (antepenúltima foto aqui).

A garrafa já quase não tinha água e como ele estava a levantá-la muito (como se de um copo se tratasse), não saía nada pela palhinha.

Diz ele muito desconsolado: "Olha... Acabou a bateria!"

terça-feira, 21 de junho de 2016

É por estas e por outras que este é um blogue sobre criancinhas. É que escrever para além disso mexe-me profundamente com os nervos e eu, enfim, não me posso enervar.

Quando ouço falar na CGD, há um e um só nome que, qual reflexo pavloviano, se me alumia no cérebro: Armando Vara.

E porquê?

Porque na minha cabeça personifica o que de mais podre há na nossa democracia. Porque Armando Vara pode perceber de muita coisa, nomeadamente de relações interpessoais, de salpicões e de lagares de azeite, mas de economia e gestão financeira não percebe nada. Zero. Zerinho. Rien de rien. Não tem formação académica, nem profissional, nem pessoal. Nada ali justifica os altos cargos que ocupou durante 7 anos, dos quais os 3 últimos de Administrador, na CGD. Isso mesmo, de fundador de um jornal regional no interior, a deputado, a secretário de estado, a ministro da Juventude e do Desporto, a diretor da CGD e daí, num pulinho, a Administrador do, provavelmente, maior banco português, que calha, oh coincidência!, de ser o único banco público. 

O Armando Vara a quem se conhece a proeza de ter concluído uma pós-graduação ainda antes de ter concluído a licenciatura... (Não é espetacular?) Licenciatura essa que concluiu na Universidade Independente (oh coincidência!) três dias antes de ser nomedo administrador da CGD (oh coincidência!). O mesmo Armando Vara que validou o empréstimo de mil milhões de euros (sim, 9 zeros) a Berardo para este comprar parte do BCP aceitando como garantia bancária ações do próprio banco (Oi?!). Isto aconteceu aos olhos de toda a gente... E após isso, coincidência das coincidências, Armanda Vara sai da CGD para ter assento no Conselho de Administração do BCP. (Hã?) Assim mesmo, à descarada, do nada - do NADA, passou a ser personagem disputada na banca, com pensões vitalícias garantidas.

A CGD é assim como que a cereja no topo do bolo, o pote de ouro no fim do arco-íris aonde vai parar a malta do sistema. E não, obviamente que isto não é exclusivo do PS. Todos os governos lhe deram esse uso. Todos. Até a Celeste Cardona (hã?) teve a seu tempo direito a assento no Conselho de Administração. E é por isto que anda tudo tão nervosinho... Esta história de se mexer no historial da gestão da CGD não interessa a ninguém da política. Agora, e depois do choque inicial, andam todos de peito feito... Ai, ai, que se fiscalize, que se escrutine, que se avalie se a administração sadia e cautelosa da CGD foi assegurada ao longo destes anos... Mas estou convencida que é tudo fachada, anda é tudo bem aflitinho que se vá mexer na porcaria. Os créditos de risco da CGD não são surpresa para ninguém... A maior parte deles foram falados publicamente. Todos têm o rabo preso nesta história e a ninguém interessa que se esmiuce o que se passou/passa na CGD.

E agora? Agora saem mais 4 mil milhões de euros do erário público para tapar mais um buraco porque sapateiros mestres no tráfico de influências e no faz-favor-a-este-e-àquele-que-mais-tarde-logo-se-cobram foram, do nada, colocados aos comandos de um Boeing 747.

E depois... 
"Aaaahhh... Olha que surpresa!... Deu merda! Ora, bolas! É preciso ver o que se passou..." 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Do que me apetece guardar, muito bem guardadinho, no fundo do açucareiro...

Passava o dia todo a ouvi-lo dizer que vai fazer de Xoão Tatão e que vai cair no caldeirão da fôpa...


Retomando a emissão habitual... Auxiliares de memória.




Repost - Só mais um e agora é mesmo para acabar que diz que isto de repisar temas não é boa blogo-conduta!

Disso dos professores...


Eu também já fui professora do ensino básico e secundário. Já fui colocada a 300 km com 6 horas lectivas semanais e ~300€ ao fim do mês. Já tive de pagar para trabalhar. Já tive alunos que choraram porque eu os ia deixar. Já chorei por ter que deixar alunos. Já tive de domesticar 20 quase animais para os conseguir ter fechados numa sala, durante uma hora e meia e sem que se/me matassem, enquanto lhes tentava ensinar matemática. Já disse a um director de um escola: "Se amanhã esse aluno entrar por aqueles portões, não entro eu!" e "Quem eu precisava que falasse com eles era um guarda prisional e não um psicólogo". Já encostei pelo pescoço um rapazolas à parede por ter apalpado uma aluna minha e ainda hoje estou para perceber como é que não levei no focinho. Já me apeteceu levar alunos para casa, para cuidar deles, para terem uma oportunidade de sair da miséria em que viviam. Já conheci adolescentes sem um único adulto funcional a quem pudessem pedir ajuda. Já ouvi uma mãe dizer que não fazia ideia onde é que o filho de 15 anos ia arranjar dinheiro para as sapatilhas e telemóvel, que ela já não lhe dava um tostão ia para três anos. Já vi uma rapariga chamar puta à mãe numa reunião a quatro sobre mau comportamento e esta encolher os ombros. Já consegui com que protótipos de deliquentes sentissem algum interesse pelos números e se soubessem comportar - demorei dois períodos até eles confiarem em mim, no terceiro acabou o contrato e tive de me vir embora (no ano seguinte novo professor, novo ciclo). Já dei roupa às escondidas e paguei sandes. Já vomitei pela vida que sabia que os meus alunos levavam. Já dei explicações, muitas horas. Já tive três escolas num ano. Já fui colocada a centenas de km de casa, com dois dias para iniciar funções. Já vi colegas depressivos. Muitos!




quinta-feira, 9 de junho de 2016

Bem sei que isto não é post que se coadune a um blogue sobre gracinhas de criancinhas, mas que se lixe, um dia não são dias.



(Aviso desde já as almas mais sensíveis que é bem capaz de me sair um palavrão ou outro que isto há temas que libertam num ápice o Tourette que há em mim.) 

Acredito que isto seja difícil de perceber, mas a educação e o ensino são-me temas tão caros, mas tão caros, que tive de abandonar o barco. E fi-lo sem olhar para trás. Porquê? Porque não consigo ser autómata, não consigo não questionar, não consigo fazer o que me mandam, só porque sim, quando eu vejo, quando eu sei, que as coisas podiam funcionar muito melhor. E não, os alunos nunca estiveram na base da minha decisão, aliás se aguentei o tempo que aguentei foi porque sabia que, modéstia à parte, era boa professora. Mas não deu… Escolhi-me a mim e à minha sanidade mental. Nunca me arrependi.

O ensino público que temos é uma merda. Uma valente merda. Há boas escolas, sim. Eu frequentei sempre escolas públicas. Sempre em turmas boas (sei lá eu bem o que se passava nas outras turmas para falar em termos de escola). No 12º ano não entrei em medicina porque não quis. Da minha turma entraram dois, mais uma em Medicina Veterinária e outra em Farmácia. Os meus filhos vão iniciar o primeiro ciclo em escolas públicas que espero, obviamente, funcionem bem. Mas tenho muita sorte sim, a coisa começa dar para o torto e na mesma hora meto-os num privado. De qualquer das formas sou em princípio e por princípio pela escola pública. Sempre. Mas… No seu todo, o ensino público é uma merda. Pela forma como as coisas são geridas, haver escolas públicas a funcionar bem é, só, um pequeno milagre.

O ensino público que temos é uma merda porque se muda de políticas educativas de dois em dois anos. E isto com sorte. Cada mudança no governo, cada cara nova no Ministério da Educação, sua reinvenção da roda, over and over again… Sempre a experimentar, sempre a ver, e sempre a revelar a mesma falta de respeito tanto pelos alunos como pelos professores. E nós a ver, a comer e a calar.

É uma merda porque trata os professores que não são dos quadros de agrupamento abaixo de cão (força de expressão, hã, não vos enerveis amigos dos animais que não tenho vagar de vos aturar agora). Porque os professores de quadro de zona pedagógica estão afectos a zonas geográficas absurdas de tão grandes que são. Porque um professor pode este ano estar em Alcácer do Sal e no ano a seguir em Nisa, que distam só 250 km. E tem de aceitar o horário. E mai nada. E a motivação e disponibilidade para lecionar em condições, motivar os alunos e aplicar os projectos individuais e mais não sei quê?… Pois, isso é coisa de somenos importância e depois logo se vê.

É uma merda porque valoriza igualmente um óptimo e esforçado e dedicado professor como um atrasado mental de um incompetente que nada sabe e nada faz. Os professores são unicamente avaliados pelo tempo de serviço. E agora dizei–me em que fdp de fim de mundo é que isto é concebível e aceitável? Nós? Nós comemos e calamos.

É uma merda porque há professores sem competências (nem académicas, hã, nem académicas) a dar disciplinas que não dominam, só porque sim, só porque têm as tais habilitações suficientes e se não fosse isso estavam encostados porque as disciplinas para quais foram contratados deixaram de fazer sentido. E bem diz o povo que quem não sabe ensina... "Manter pançudos é que não. Não com os nossos impostos, olha agora!", parece que já os ouço berrar...

É uma merda porque se põem professores universitários a fazer os programas de 3º ciclo. Professores esses para os quais crianças de 12 anos são como que entidades abstractas, quais unicórnios, com as quais nem se lembram de alguma vez terem interagido. Não… Não se põem professores do próprio ciclo de ensino a fazer os programas. Não, esses não sabem, esses não chegam. Uma coisa cá da minha vida só para terdes noção do que falo: A primeira versão das metas curriculares de 7º ano veio-me parar às mãos. Havia demonstrações matemáticas formais e rigorosas de teoremas, nos dois sentidos da implicação. Eu tenho onze anos de estudos superiores de matemática no lombo, seis dos quais do ramo científico, e eu tive de me aplicar a sério para perceber o que se queria exigir a um aluno de 7º ano. Estais a ter noção do ridículo do problema? O programa foi podado e bem podado e mesmo assim digo-vos, sem medos, que é impossível leccionar o programa de matemática em tudo aquilo que ele preconiza. (E eu não estou a falar daquilo que vem nos manuais que já vem (porque tinha de vir) aligeirado, estou a falar do documento oficial do ME. É simplesmente ridículo.)

É uma merda porque permite que os livros escolares para alunos do 7º ano custem 20 e 30€ por disciplina. E se eles têm disciplinas...

E nós, nós somos a merda de um povo que vê isto a acontecer, sabe o que está acontecer e come e cala. Pior… Não cala! Diz que no tempo dele já era assim, que a vida dos professores sempre foi assim e que, ui, e vós sabeis lá a merda de professores que tive: um dormia, outro fumava e outro falava de putas, e como podes ver não correu nada mal. 

A sério… Até quando??… Até quando vamos pensar poucochinho, pequenino, centrados no nosso umbiguinho? Não tem de ser assim… O Estado gasta 4% do PIB na Educação. São 6.959,1 M€. Foda-se! É muito dinheiro! Já chega! Basta! Não tem de ser assim. Merecemos melhor, temos de exigir melhor.

Mas não… Nós temos muitas qualidades, mas nisto somos uma merda de um povinho tão pequenino, mas tão pequenino, que me dá cá um asco que nem queirais saber. Com esta história dos colégios voltou-se a ver… Não, o povo não se uniu a uma só voz para exigir a qualidade de ensino que alguns têm nos tais colégios… Não… O que o povo fez foi unir-se para puxar os que têm a sorte de estar num patamar acima cá mais para baixo, cá para o pé deles. Todo juntos cá em baixo no ensino de merda de sempre. Já o disse na caixa de comentários, esta história faz-me em tudo lembrar a das 35 horas para os funcionários públicos. Não há a capacidade de perceber que se essa medida passar para "eles", é muito mais fácil ser depois generalizada para todos… Não… O raciocínio do tuga é imediato: se eu estou mal, o meu vizinho tem de estar igual ou pior. Não, não tenho de ser eu a exigir condições para subir para onde ele está, o outro é que tem de vir aqui para baixo para o pé de mim que não é mais que ninguém, era só o que mais faltava.

Nós fomos a merda de povo que viu gastarem-se rios de dinheiro na Parque Escolar, a remodelarem-se escolas com candeeiros do Siza Vieira de milhares de euros, e que comeu e calou. Num país onde ainda há crianças que demoram 1h30 a chegar à escola... Que povo? Que povo civilizado permite que isto aconteça?


And last but not least, e relativamente às historietas que vos contei… Bem sei, bem sei que são casos específicos, bem sei que são casos isolados, que bons e maus exemplos há em todo o lado. Até aí ainda chega o meu parco entendimento. Acontece é que eu não quis dizer nada disso… O que eu quis mostrar é que o Estado não tem capacidade para lidar com as escolas. Não tem. Não tem este Governo, não teve o anterior e não há de ter nenhum. Não há milagres. Cada escola é uma realidade específica. Cada escola é um Mundo. Não dá para lidar com as escolas por atacado como se fossem repartições de Finanças. Não dá! Podem acabar os contratos com os colégios de associação que quiserem, podem criar todos os projectos TEIP e mais alguns... Vai sempre dar merda. Sempre. Cada caso é um caso. E nesta altura estais alguns de vós a pensar: “Pois é… Mas não se pode agradar a gregos e a troianos… Também não se pode estar a ver caso a caso... Nos casos em que correr mal, olha, paciência, correu! No meu tempo já era assim e eu tive cada professor que nem te digo nem te conto… Mal sabes tu que tive um que falava de putas nas aulas e mesmo assim estou aqui e não correu mal de todo”. Pois é, pois é… Enquanto for com os filhos dos outros, por nós tudo bem, não é? É pois… No nosso tempo também era assim e tudo. Não caríssimos, não estamos a lidar com números. Estamos a lidar com gente. Estamos a lidar com o futuro. Há muito dinheiro desperdiçado, em muita porcaria, para nos contentarmos com a porcaria de ensino que temos.

Tenho pensado muito nisto nestes dias e começa-me a ficar claro no entendimento que se o Estado não tem capacidade para gerir a educação, que passe a pasta a quem sabe e consegue, e que pague… Que pague e que nos permita ter um ensino de país civilizado. Afinal de contas, já se gastam sete mil milhões de euros… Sete-mil-milhões! É muito milhão para continuarmos a ter um ensino público que é uma merda (de uma roleta russa).

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Ainda da educação que já vi que é tema que vos interessa... Vinde cá que vos quero contar uma história e saber a vossa opinião.

(História Verídica.)

Era uma vez uma escola TEIP - Territórios Educativos de Intervenção Prioritária, que é como quem diz daquelas escolas de que toda a gente foge a sete pés.

Esta escola de que vos falo estava inserida numa zona onde residia uma grande comunidade cigana, de onde eram oriundos grande parte dos alunos.

Era uma vez um professor de matemática dessa escola, que tinha um aluno cigano de 17 anos numa turma de 8º ano. Sem ser no livro de ponto. o professor viu a cara ao aluno duas vezes: uma em que entrou e saiu da sala para ir buscar algo que se tinha esquecido e outra num dia de teste que entregou em branco.

Por altura da reunião de avaliação do 1º período, o tal professor foi informado que o aluno tinha todas as faltas justificadas (?? e não, o aluno não esteve doente, nem lhe morreu ninguém nem... mas pronto, tinha as faltas justificadas) e que tinha de o avaliar fosse de que maneira fosse. (Diga-se, em jeito de nota, que a assiduidade nas outras disciplinas não era muito melhor...) Pois muito bem, estava eu a contar, que o professor de matemática teve que propôr a nota e propôs um... atentai na afronta... "1" (escala de 1 a 5).

Aqui d'el Rei que não podia ser, "Um 1?! Como assim um 1?", dizia o Diretor de Turma secundado por alguns elementos do Conselho de Turma. 

Foi chamada a Sô Directora porque o professor estava irredutível, do "1" não saía e é porque não lhe podia dar "0". 

E a Sô Directora lá veio... (Estatutariamente a Sô Directora nem podia estar presente naquela reunião, mas a urgência da situação não lhe permitia olhar a meios, que em tempos de guerra não se limpam armas e isso.) Quarenta e cinco minutos a discursar que não podia ser, que era um aluno cigano, que se tinha de valorizar as poucas vezes que vinha à escola, que já tinha 17 anos, que o professor tinha de compreender o contexto escolar, e que o aluno era cigano, que tinha ido algumas vezes à escola, e que era cigano e que não lhe podia dar um "1", que isso só era admíssivel se nunca tivesse aparecido, que dar-lhe um "1" à disciplina logo no primeiro período era desmorizá-lo e cortar-lhe as pernas para o resto do ano,  e que "pedagogicamente falando é preciso atender à pedagogia" e que o aluno era cigano (não sei se já disse) e que ela tinha frequentado muitas acções de formação e coiso, que o aluno era cigano e aquela era uma escola TEIP. O professor calado limitou-se  ouvir tão sábias (ainda que repetidas ad nauseam) palavras.

- "E então? Agora que o esclareci, que nota propõe, senhor professor?", pergunta a Sô Directora.

- "Um!", responde calmamente o professor.


Moral da história: O Conselho de Turma votou a nota de matemática e o aluno ficou com "2", porque por várias vezes tinha sido avistado do lado de dentro dos portões da escola e isso tinha de ser valorizado porque, afinal, era um aluno cigano e aquela era uma escola TEIP.

Não é uma história, tão linda?

Disclaimer*

O meu filho mais velho vai entrar no próximo ano lectivo no 1.º ciclo e vai frequentar uma escola pública. Tenho os mesmo planos para o mais novo.

Mais acrescento que também eu sempre frequentei Instituições de Ensino públicas. 

E esta, hã?!

* É que diz que esta informação é de crucial importância para legitimar a minha posição nesta história dos colégios de associação.

domingo, 5 de junho de 2016

É preciso uma ginástica mental que nem vos digo...

[Jr.] Sabes o que é que eu gostava de ver ao vivo, mãe?

[NM] O quê?

[Jr.] Daqueles caranguejos do exército.

[NM] O quê?!

[Jr.] Sim mãe, caranguejos do exército...

...

2 minutos e muitas perguntas depois...

...

"Escorpiões do deserto"!

O rapaz gostava de ver escorpiões do deserto!!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Das escolas privadas com contrato de associação e dos malandros que querem andar em colégios finos à custa do restante Zé Povinho. Ou então não.

... Ou então só querem o ensino de qualidade (mínima) a que deviam ter direito. 

(Verdade verdadinha, acabei agora de me dar conta, com surpresa, que a Constituição não foca este ponto, alicerçando-se na contribuição para a "igualdade de oportunidades" e na "superação das desigualdades económicas, sociais e culturais" - Cap. III, Artigo 73.º, ponto 2, o que não é condição equivalente à educação de qualidade. Sendo literal poder-se-ia pensar que, quando existe, o ensino de qualidade num estabelecimento público é cortesia da casa, quase-quase um bónus.)

Não tenho muito tempo para escrever pelo que me vou ficar por contar-vos uma história. Vai começar por "Era uma vez..." e tudo, mas, infelizmente, é verídica. Sim, é um caso específico. Mas destes haverá muitos lá no saco dos malandros.

Era uma vez uma vila com quatro escolas primárias, um "ciclo": 5º e 6º ano, e um colégio privado financiado pelo Ministério de Educação desde, pelo menos, os anos 80, que garantia a oferta escolar do 7º ao 12º ano. O tal colégio foi crescendo com os anos, garantindo que tinha lugar para todos os alunos da vila a partir do 7º ano. Investiu em infraestruturas e recursos humanos. Entretanto o Estado também resolveu aumentar a tal escola de 2º ciclo, construindo mais pavilhões, para onde se mudaram os alunos que frequentavam as tais quatro escolas primárias outrora espalhadas pela vila. Passou a haver então uma escola estatal para os 1º e 2º ciclos e, do outro lado da rua, o tal colégio para os alunos do 7º ao 12º ano. Tudo muito bem. Durante décadas.

Eis que senão quando... O drama, o horror, a tragédia... Começam a faltar alunos na escola estatal (tal como no colégio, de resto). Tanto no 1.º, como no 2.º ciclos. (Uma chatice, a quebra na natalidade e a migração para os grandes centros urbanos a fazerem das suas...) Há salas vazias e professores do quadro sem turmas a quem leccionar. Ora, o que se faz, se o colégio do outro lado da rua tem alunos do 7º ano para a frente? Ora, nem mais... Abrem-se turmas do 7º ano para a frente! Pois se há salas, pois se há professores... Mas... Oi? Há professores? Como assim? Mas então não era uma escola de 1º e 2º ciclos? Como é que então há professores? Pois há... Escudados numa normativa ainda em vigor, que dita que:

"

Diário da República, 2.ª série — N.º 118 — 19 de junho de 2015 

CAPÍTULO II 
Recursos humanos docentes 
Artigo 4.º Serviço docente

(...)

4. Os docentes podem, independentemente do grupo pelo qual foram recrutados, lecionar outra disciplina ou unidade de formação do mesmo ou de diferente ciclo ou nível de ensino, desde que sejam titulares da adequada formação científica e certificação de idoneidade nos casos em que esta é requerida

(...)

"

E sem apelo nem agravo, sem anestesia nem nada, põem, p. ex., um professor de Educação Visual e Tecnológica, professor há 20 e tal anos do 5º e 6º anos e de régua e esquadro atrás, a dar Matemática ao 3º ciclo... Ah pois é... E qual é o problema? É legal! E se é legal, meia bola e força que o que importa é poupar-se dinheiro.

E a Matemática do 3º ciclo (do 7º ao 9º ano, para quem está afastado destes meandros) é de fugir. É de uma exigência tresloucada. É praticamente impossível os miúdos apreenderem a totalidade do que é preconizado no programa. 

Sabeis o que aprendestes sozinhos no vosso 7º ano, sem, obviamente, as vossas mãezinhas a estudar a vosso lado? Mãezinhas essas que tinham mais que fazer e que sempre vos exigiram que vos desenrascasses bem e sozinhos, que afinal não fazíeis mais que a vossa obrigação? (Olá, PMS! Tudo benzinho obrigada. Cá vamos indo como nas vindimas...) Esquecei... Não tem nada, na-da, a ver. A fasquia está absurdamente alta. 

E pronto... 

Isto que vos conto já não aconteceu este ano lectivo, mas certamente que se vós fosses um dos pais que de repente têm como professor de matemática do filho, num ano determinante, numa disciplina crucial, uma pessoa que não sabe um boi daquilo que supostamente devia ensinar, íeis estar todos contentes e compreensivos com a situação de serdes apelidados de chicos espertos, sanguessugas e outros mimos que tais por um país inteiro, não íeis? Íeis pois... 




quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ainda me há de sair sindicalista ou o carai...

Ontem.

[Jr.] Amanhã é dia da criança. Vou ter direito a uma prenda, não vou?!

[Estimado homem] Hã?! E desde quando se recebem prendas no dia da criança?

[Jr.] Olha, não sei... Mas é o que é justo. Uma prenda para mim e outra para o mano.

[Estimado homem] Justo?! Tu sabes o que estás a dizer?

[Jr.] Sei, sei muito bem... Tu também recebeste prendas no dia do pai, não foi? E a mãe também, no dia da mãe. E agora pensa lá se era justo nós dois que somos crianças, coitadinhos que ainda por cima somos os mais pequeninos, sermos os únicos da nossa família a não receber prendas no nosso dia... Ora pensa lá bem se achas justo...

(...)

Coi-ta-di-nhas das minhas crianças!!...