Ontem acordei a meio da noite...
(Esganadinha com a fome, e vós sabeis lá a minha vida... Claro, obviamente, que estou de dieta. Sou mulher, por Jó! E lá enrolei eu um queijinho Smiley Cow numa fatia de fiambre de turkey, fiz uma cup of tea sugar free e já que estava botei os olhinhos no Observador, que é como quem diz no Observator. Sim. A fome dá-me para speaking english. Podia ser pior. Podia dar-me para o latim.)... E li
esta crónica. E pensei que sim senhora, ali estava um pedaço de prosa despretensiosa e bem escrita.
E mais uma vez fui como que esbofeteada pela dúvida que não me desampara a loja há que anos: O facebook e as redes sociais no geral, servem exactamente para quê? Vieram melhorar a nossa existência exactamente em que sentido?
Ora bem, eu tenho este blogue e não tenho, nunca tive, nenhuma conta em nenhuma rede social. E a verdade é que eu não saberia o que partilhar. Eu até entendo o conceito de ter uma conta partilhada por amigos próximos: um sítio onde pudesse ir mostrando por onde ando (ui, havia de ser cá uma emoção: "NM no parque", "NM no supermercado", "NM na esplanada", "NM a dar de comer aos patos", ou até mesmo um "NM na cozinha" - ahahahahahah, só mesmo suplantado em inverosimilhança por um "NM no ginásio"), aquilo de que gosto ou aconselho: um site, um livro, um restaurante, basicamente o que faço por aqui muitas vezes, e até admito que, conhecendo a minha malta, havia de ser circunstância para mandar umas valentes gargalhadas*. Ou então não. Ou então chegaria um palpite mal amanhado recebido num dia mal parido e estaria o caldo entornado. À vista de todos.
A vantagem impagável de ser esta espécie de Neanderthalensis dos tempos modernos é que não tenho amigos virtuais. São todos reais. Os que deixei de ver, enfim, deixei de ver. Lá foram à vida deles e eu à minha. Talvez nos reencontremos, talvez não - oh, a emoção dos desígnios divinos. Agora relações de amizade de faz conta? Não, muito agradecida! Nem no liceu.
Mas do que agora aqui falo é de contas de redes sociais e, já que estamos, de blogues, disponíveis para o Mundo onde as pessoas mostram tudo o que fazem, onde vão ou o que comem. Desde a pizza congelada que comeram ao jantar até à fotografia da filha mais nova sentada na sanita (True Story!, há bem pouco tempo num blogue perto de si). E é destes casos que falo... Qual é o objectivo exactamente?
O problema é meu. Certamente que é meu. Por exemplo, eu nunca teria uma profissão que acarretasse perda de privacidade. Nunca seria artista, nem sequer jornalista. (Também nunca seria modelo - unicamente por causa disso da privacidade, claro.) Nunca, mas nunca, participaria num Reality Show. Nunca! A minha privacidade será do que mais prezo. E não, não acho que a minha vidinha possa interessar a alguém. Mas é a que tenho. A que consigo ter. É a minha. Aquela pela qual me esforço diariamente para que seja digna e feliz. E preciso tanto de gente a bater-me palminhas pelo bem que faço, como de gente a mandar bitaites depreciativos sobre como levo a vida. É disso e de uma carrada de sarna.
Por isso, quando vejo gente por aí a vender a vida (e os filhos), a exporem o leito e a ter de levar com todo o tipo de gente e comentários principalmente nos conteúdos que envolvem as suas crianças... Penso sempre no mesmo... Tinham de me pagar muito, mas mesmo muito bem, para me (nos) sujeitar àquilo. Já uma vez o escrevi, ninguém quer um circo montado à porta de casa a não ser que ganhe alguma coisa com isso. E posto isto, garanto-vos que este blogue se manterá pequeno, marginal. Sem grandes arraiais. Porque pelo chão deste blogue andam os meus. Os mais meus dos meus. E eu não ganho nada com isto.
* Como faço? Tenho grupos no WhatsApp onde por incontáveis vezes já chorei a rir com os meus. Os reais. Os únicos que tenho.