domingo, 26 de janeiro de 2014

Já não há pachorra para parvalhões..

Já não há pachorra para os Calimeros | P3

Eu também podia falar assim... Eu também nasci nos primeiros meses de 80. Eu também tenho um currículo de respeito (sim sim com cursos pré-bolonha e tudo, tal e qual aqui o nosso herói - suponho eu, pelo menos pela maneira como escreve) e também não fiquei à espera que me caísse um emprego do céu. Eu também subi a pulso na vida, nunca fui dispensada e mudei sempre para melhor. Eu trabalhei como uma escrava por tuta e meia e a recibos verdes numa grande empresa, que para me segurar me subiu o "salário" e me deu todas as condições de mobilidade. Eu, à custa do meu esforço, ouvi do meu agora superior: "O que é que posso fazer para a termos cá connosco?". Nem eu nem o meu homem temos empregos para a vida, mas - não sendo ricos - não temos problemas de dinheiro, que conseguimos poupar e investir. Sim, eu sempre trabalhei muito e sempre pensei muito bem antes de gastar um euro que fosse. Por isso sim, eu também podia cuspir para o ar e dizer "Ide trabalhar malandros". 

Dá-se é o caso de eu não viver numa redoma. Dá-se o caso de eu ter 33 anos e não 23 e, principalmente, dá-se o caso de eu, a bom tempo, ter tido a sorte de ter ajudas financeiras dos meus pais e sogros. 

Eu também conheço muita gente que fala assim dos calimeros... Gente, para minha vergonha, da minha família... Mas isso é gente presa no seu mundinho e que não sabe o que se passa à sua volta. Gente que não tem noção que agora, começando do zero, com curso ou sem curso, a ter que pagar casa, comida e transportes, dificilmente se consegue tirar a corda do pescoço... Dificilmente se consegue subir na vida ou sustentar uma família... Porque são cem cães a um osso. Porque ninguém progride nas carreiras. Porque os salários são miseráveis. Porque ninguém consegue poupar o suficiente, nem que seja para reinvestir ou tentar passar melhor. Porque o sistema está todo camuflado com as reformas que aguentam não só os reformados mas também os filhos e os netos. Só assim se justifica uma sociedade conseguir funcionar pacificamente com uma taxa de 44% de desemprego jovem.

Só alguém muito desfasado da realidade diz: 

"E quando existem quase 1,5 milhões de licenciados (a que todos os anos se juntam mais 80 mil), não será difícil adivinhar que, num futuro próximo, alguns caixas de supermercado, empregadas da limpeza ou empregados de balcão sejam licenciados.

"Num futuro próximo"??? Oh amiguinho... Isto já acontece há tanto, mas tanto, tempo (menos nas limpezas porque está toda a gente a dispensar esses serviços)... Tem noção das habilitações literárias da malta que trabalha em call centers, a recibos verdes, onde chega ao fim do mês e leva bem menos que o salário mínimo? Pois, não tem com certeza... Ou seja, na sua cabecinha os tais 165 mil desempregados que temos no nosso país com menos de 25 anos são 165 mil malandros preguiçosos que não querem trabalhar nem deixar o conforto do lar ou o gato Xoné... É isso? Mesmo que só se refira a licenciados, estamos a falar de mais de 70 000 pessoas... 

Só alguém preso numa gaiola dourada pode ter o desplante de escrever: 

"Prefiro dar-me com os emigrantes normais. Aqueles que até estavam no “bem bom” ou no “vai-se andando” em Portugal. Mas que decidiram emigrar, porque acharam, e bem, que o país era pequeno para eles. Ambicionaram mais. E partiram com o objectivo de se tornarem ainda melhores."

Pois, eu também prefiro dar-me com gente rica, porque assim até me vou esquecendo que existem os que passam fome e a vida leva-se melhor... Que mente pequenina poderá achar que são estes os "emigrantes normais"?... Que o que falta por aí são países prontos para receber de braços abertos os nossos licenciados sem a mínima experiência no mercado de trabalho? 

A sério, digam-me se não era dar-lhe com o gato Xoné morto nas trombas até que miasse?


O que eu gostava de ver era aqui o nosso herói a terminar o mesmíssimo curso de base que tem (sim, porque reconheço o discurso à légua e aposto que tem doutoramento ou, pelo menos, mestrado) não em 2002 ou 2003 (assumindo que não perdeu nenhum ano) mas em 2013.... E depois queria ver... Se não era ele um dos calimeros que ridiculariza...

E depois... Alguém que tem oportunidade de escrever numa publicação nacional e que resume o que se deve saber sobre si a "Gosta de gelatina de morango..." A sério... Fosse eu da geração calimero e era menina para lhe responder com um grandessíssimo LOL!!...




10 comentários:

  1. Parabéns pelo seu texto e pela análise deste artigo. Mostra que está bem na vida e ainda bem, mas não esquece que há muitas pessoas que, por falta de sorte, ou de outra coisa, muitas vezes não conseguem atingir os seus objetivos/sonhos. Eu vejo muitos jovens estagiários na minha empresa, mas que não serão contratados. Muitas empresas não estão a contratar. São jovens e não são malandros! Na vida aprendi uma coisa: hoje vencedores, amanhã perdedores. Há tantas circunstâncias que mudam a nossa vida. Qual é o problema de ser portuguesa e querer viver no meu país, junto da minha família? Até parece que não há pobres nos outros países!!!

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    1. Nenhum Sofia, não há problema nenhum. E mesmo querendo emigrar... Isto não é só querer, é preciso que nos queiram lá fora.

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  2. Tu queres ver que o Caco Antibes agora escreve para os jornais?! "Nossa, odeio pobre!".

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    1. Pobres e choramingões... É que aquilo enerva uma pessoa pá... Que chorem mas que chorem baixinho... E que não se mostrem, de preferência que não se mostrem...

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    2. Tss tss tsss, onde é que já se viu? Têm a oportunidade de emigrar, conhecer apíses novos e ainda se queixam.

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  3. Um tipo da minha geração, licenciado, com um curso que lhe pediu muito trabalho e sacrifício, para além de ter sido caro, andou anos a recibos verdes. Um dia, ele e a mulher venderam casa e lançaram-se num projecto, mudaram de cidade e de vida, empataram dinheiro, sonhos, trabalho. Durante uns anos conseguiram viver daquilo, depois, com a crise, foi tudo abaixo. Está a servir às mesas lá fora, com a esperança de ainda conseguir melhor. É muito triste, que é, mas a servir à mesa lá fora ainda ganha melhor que como caixa de supermercado cá, e mais, ainda tem a esperança de arranjar melhor, coisa que cá lhe falha. Não é um calimero, é uma pessoa que se fez à vida, e que tem mais coragem que muitos. Há tantos assim, façam-lhes a devida homenagem e não lhes virem as costas. Eu gostava muito de saber que cá ainda poderiam ter esperança, e acho muito, muito triste este país estar a ser sangrado de tanta gente de valor, com uma formação e instrução fantástica, e que são obrigados a ir embora para poder ter uma vida digna e decente.

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    1. Pois são... O que me stressa é a posição relativamente aos miúdos mais novos... Porque nem que eles queiram trabalhar em qualquer coisa, não têm hipótese de sobreviver por meios próprios se não tiverem a proteção dos pais (pelo menos no que diz respeito à habitação...). Imagina alguém a começar do zero e a receber o salário mínimo. Agora põe essa pessoa a pagar, sei lá, 200€ de renda, 30€ de passe e a 5€ por dia em alimentação, 20€ de luz e água (isto pelos mínimos, certo?)... Sobram 80€ ao final do mês... E depois? Poupa-se como? Aspira-se a uma vida melhor como? Pá... Custa-me ver atirar calhaus, principalmente vindo de gente que nasceu noutro tempo, com outras oportunidades, e sem filhos nessas idades....

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  4. Eu já nem digo nada...
    TRabalho vai para 8 anos, desde antes de sair da Faculdade.
    Também sou Pré-Bolonha. Também já trabalhei em tudo.
    Estou agora a tirar o Mestrado por valorização pessoal e para expansão profissional.
    Com 28 vou no meu 3º cargo de Diretoria - não me pagam o que se sonha, tenho meses de ai jesus - porque vivo tipo as contas que ali fizeste... - aos 25 decidi morar sozinha e pagar as contas.
    Estou precária, continuo a enviar CVS, se penso em mudar é com muita luta, à espera de melhor.
    Por exemplo, os meus colegas de 23 anos sonham que só por serem Mestres... ui! Mas depois vai-se a ver e não sabem o básico. Ficam fascinados por me verem fazer 130 km por dia para tentar trabalhar e ainda assim tirar das melhores notas da turma.
    Lá está, como é precário e longe, quero tentar mudar, a pulso, há meses que ando de novo de "pescoço de fora". Que venha a oportunidade, que eu cá a procuro e aceito de braços abertos!
    Admito que tenho os meus momentos Calimero mas é por sentir que o esforço mal paga as contas.
    Não é por ter um canudo, quase dois nas mãos...

    Beijinho,

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    1. Olha, isso dos canudos para os empregadores é quase igual ao litro... Eles querem é gente que trabalhe, muito e bem. Por isso, o único conselho que te posso dar (se eu sou alguém para dar conselhos, mas pronto foi sempre assim que pensei) é que agarres cada oportunidade com unhas e dentes, que faças o melhor que consigas, quer ganhes 5, 10 ou 20. Que isto está muito dificil todos nós sabemos, mas para os melhores há sempre lugar. E não desistas. Dispara para todos os lados, que só quem vai a todas é que se vai safando. Beijinho.

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    2. É o que estou a fazer. Disparar à maluca... depois meto-me em encrencas :P

      Beijinho,

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