segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Mesmo do ponto de vista económico...

Arrancar as pessoas da ruralidade é, na maior parte dos casos, entregá-las às caixas e às reposições dos Belmiros desta vida. 

Porquê? Porque para dar uma escola aos filhos as pessoas geralmente abalam para as (pequenas) cidades mais próximas. E lá, o que é que têm à espera? O salário mínimo, zero expectativas e toneladas de maçãs do Chile para vender... Porque é que tem de ser assim? Porque sim... Porque os supermercados das grandes cadeias nascem como cogumelos e não há vila nem vilória que não tenha um. Destroem o comércio local em três penadas e em menos de seis meses são único empregador da zona.

Se não fossemos um país de mentalidades pequeninas, as "pessoas rurais" jovens eram incentivadas a ficar nos sítios onde nasceram, a fazer aquilo que viram fazer desde que nasceram. Eram incentivadas a produzir boas maçãs, boas peras, boas cerejas, boas castanhas, bom azeite... Plano: Produzir cá para vender, essencialmente, cá... Nem que fosse em micro escala. Revitalizar a micro-agricultura, previligiando sempre, mas sempre, a produção nacional e o comércio local. Temos recursos naturais de sobra...

Mas não... Às "pessoas rurais" é-lhes tirado tudo e as "pessoas rurais" jovens, que ainda podem bem com as pernas, seguem caminho para a cidade(zinha) mais próxima, que é como quem diz para o salário minímo e para as maçãs do Chile. 

E isto é tão triste e confrangedor... É pequeno e tacanho, tanto quanto pode ser!

* Já agora só um aparte... Ide ao site do Continente... Ide lá às maçãs, por exemplo. Algumas têm lá uma bandeirinha nacional toda catita... Gosto! Outras não têm nada, rigorosamente nada. E eu fico a pensar de mim para comigo se eles não deveriam ser obrigados a indicar o país de origem daquilo que vendem e não só quando dá jeito.... Já falei disso anteriormente, a mania que a Sonae tem de se aproveitar do poder daquilo do "Compre o que é nosso" exaspera-me...

19 comentários:

  1. Eu não gosto do Continente, nem do grupo Sonae desde que fui informada que: "se estuda e tem um filho pequeno nem vale a pena deixar CV".

    Não lhes passou pela ideia que eu teria uma grande motivação (mais não fosse por necessidade) de trabalhar; nem sequer iriam perder o seu tempo para perceber se eu estaria disposta a priorizar o trabalho para eles e preterir a universidade... por necessidade. Nem sequer quiseram perceber que estava aqui mais uma "jovem rural" da qual se poderiam aproveitar um pouco mais enquanto a dita se tenta sustentar... Para quê?! São tantos, nem vale a pena deixar CV que eles não a chamam. Nem com um filho quanto mais a estudar...
    Lindo.

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    1. Oh cum caraças anónima... Era de ter gravado isso... Era mesmo de ter gravado isso! Estamos entregues à bicharada é o que é...

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    2. Pipocante Azevedo Delirante20 de outubro de 2014 às 22:27

      são manias
      Há uns anos num "encontro" de futuros "colaboradores", quando perguntei se a Sonae não iria apostar na cidade de ______, o senhor virou-me as costas e foi-se embora (na altura era só Lisboa e Porto)

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    3. Pois PAD, mas agora estão em toda a parte...

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    4. Enquanto estudava trabalhei no continente e, como eu, estavam mais estudantes a part-time. O que não fazem é renovar o 3o contrato porque aí o funcionário passa a efectivo. É assim pelo menos no sitio onde moro. E já trabalhei num outro supermercado e a sonae é dos que paga melhor. Quanto ao assunto do post, na versão online não sei como é mas nas lojas físicas todos os supermercados são obrigados a colocar a origem dos produtos.

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    5. Pois. Eu também achava isso... Mas depois não vi na loja online e fiquei na dúvida... (Ou será que sou eu que estou muito cegueta?)

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    6. O da minha zona não contrata.
      Nem estudantes nem mães e muito menos a combinação das duas.
      Era ter gravado mesmo mas nunca pensei ouvir tal coisa até porque os achava civilizados [podiam nem chamar como a maioria mas era escusado a lata].

      Aqui na minha zona o único que emprega pessoas que estudam e mães de crianças pequenas [falo de hipermercados e tenho vários à porta] - só o Pingo Doce.

      Mas tendo em conta que o tio Belmiro é aquele que queria baixar o Ordenado Mínimo Nacional quando os seus rendimentos estavam a aumentar brutalmente não é de esperar melhor, pois não?

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  2. Sou neta de ex-grandes agricultores na zona Minho. E chamo ex-grandes agricultores porque o meu avô já faleceu e a minha avó tem 91 anos logo já não está para aí virada para os campos. E eram tão grandes agricultores que com os rendimentos da agricultura conseguiu dar um curso superior a todos os seus filhos (nos tempos em que o governo não pagava propinas). Isto porque há cinquenta anos atrás, a minha avó foi sábia na sua decisão "Antes dar o salto para França que ver filho meu a trabalhar nas terras".

    Nenhum dos oito filhos e 20 netos destes ex-grandes agricultores estão a trabalhar as terrinhas. E porquê? Porque não compensa. Por muitos ou poucos incentivos que o governo dê, um kilo de laranjas vale 10 cêntimos para o produtor (taxados na cooperativa) para ser posteriormente vendido a 80 cêntimos na mercearia do tio Belmiro de Azevedo. E olha que um kilo de laranjas não dá trabalho para colher, mas uma tonelada dá um trabalho do caraças! E para isso precisa-se de tractores com depósito cheio, pessoal com carta para conduzir os tractores, pessoal para as apanhar, para podar as laranjeiras e limpar os laranjais (os picos das laranjeiras são f*didos!), para carregar cestos de laranjas calçada abaixo, tem de haver pessoas a seleccionar as melhores, para as escoar, para as lavar, para as vender, estar em paz com o S.Pedro para que no dia da apanha esteja muito bom tempo... e onde andam essas pessoas que antes trabalhavam para os meus avós? no cemitério ou por França a ganhar um salário mais digno e provavelmente a não vergar tanto a mola. Porque esse pessoal que trabalhava para os meus avós recebia ao dia. Eram os chamados jornaleiros em que tinham semanas com muito trabalho e semanas de papo para o ar. E se tentássemos voltar a produzir e vender laranjas, cada pessoa recebe no mínimo 60 euros por dia de trabalho, o que significa que teria que apanhar 600kg (onde é que alguem vai vergar tantas vezes a mola por dia para apanhar 600kg?)! Por uns míseros 10 cêntimos por kilo bem que as laranjinhas apodrecem nos laranjais. Para nem falar naqueles anos em que a fruta é tanta e não há escoamento e basicamente vende-se dada.

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    1. Sei disso perfeitamente Alima! Chegou-se a um ponto em que os vendedores (os dois ou três vendedores que existem) têm a faca e o queijo na mão. Impõe os preços que querem. Pagam o que querem. Tão simples quanto isto. Conheço um produtor de vinho, dos melhores vinhos na relação qualidade preço que há em Portugal, que não vende aos hipermercados. Precisamente por isso... Ia ter de aumentar muito a produção e em menos de nada ficava refém deles...

      (Mas estava tão fácil de ver que isto ia acontecer...)

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  3. Eu não percebo nada de agricultura. Fico chocada por ver os agricultores dizerem que lhes compram batatas a ,10 cêntimos. As batatas dão um trabalho do caraças, o meu sogro tem uma hortinha e explicou-me o processo. Nós também gostamos de comprar barato... Mas na verdade acho que o que preferimos équalidade. Eu gosto de comprar ao vendedor da esquina que vende o que produz, e se o feijãoverde for um bocadito mais caro nãome importo. Graças a isso e à Horta do avô, os meus filhos sabem a que sabe uma laranja, de onde vêm as alfaces, e que os morangos só se comem naquela altura do ano. Mas isso sou eu, pouca gente se importa com isso... Ninguém consegue competir com os preços do tio Belmiro

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    1. Pagam miseravelmente aos agricultores sim... Mas não é só a eles... Há um aproveitamento indecoroso do poder que têm no mercado. A Lactogal, que é Lactogal - uma empresa monstra, também foi encostada às cordas aqui há uns anos, numa medição de forças mais ou menos pública, mais ou menos disfarçada. O Continente queria pagar 1 cêntimo a menos por cada litro de leite. A Lactogal dizia que não, que não podia baixar mais o preço. O Continente reduziu-lhes o espaço de prateleira, aumentou o preço do leite deles e baixou o do concorrência. Trigo limpo farinha amparo. As vendas baixaram muito e a Lactogal cedeu.

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    2. Têm faca e queijo na mão... Faz lembrar a gigante dos automóveis com o governo. Fazem do governo gato e sapato. Mas aqui tenho de aplaudir... Eles é que safam o concelho onde vivo e dão emprego a muita gente. Mas é engraçado como conseguem isenções e regalias especiais como mais ninguém

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  4. Eu zanguei-me com as grandes superfícies e com as suas políticas de mercado e de marketing, que fomentam nos consumidores necessidades que infelizmente estes não sabem que não têm… É o aspecto estético da maçã que sacia a fome?
    Compro o meu cabaz de frutas e vegetais através do PROVE. Compro directamente ao produtor, produtos da época, produzidos localmente e com recurso a técnicas de sustentabilidade. Tudo produtos que não teriam lugar numa grande superfície, mas que sabem a como a fruta deve saber.
    http://www.prove.com.pt/www/index.php

    Como este projeto existem outros. Desde os próprios produtores que vendem e levam a casa do cliente final, ou cooperativas como a Fruta Feia em Lisboa que já inspira os franceses http://imagensdemarca.sapo.pt/temas-especiais/brand-new-world/fruta-feia/

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    1. Sim, há alternativas. Eu tenho a sorte de ter uma frutaria na rua que compra a pequenos agricultores ali da zona do Douro... (Mas também vai ao Mercado Abastecedor e compra importada, principalmente fruta fora de época que as pessoas se habituaram a comer o ano todo.) É mais cara, pois é, mas eu não dispenso.

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  5. Devo tirar o chapéu aos espanhóis. Aqui há muito mais oferta nacional que estrangeira. E eu também prefiro pagar um pouco mais e comer coisas da zona que vinda de Santa C*** dos Assobios.

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    1. Santa quê??? Ahahahahahahah ahahahahahahah ahahahahahahah ahahahahahahah

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    2. Agora a sério, não é só em Espanha... Devia ter havido um acompanhamento do crescimento das grandes cadeias. Obviamente que se têm praticamente o monopólio de venda ao consumidor, abusam da sua posição. Obviamente.

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    3. Santa Comba dos Assobios que lá Dão.

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    4. Ahahahahahahahahahahahahhaahhaahahahahah E olha... É como as opiniões!

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