quarta-feira, 6 de agosto de 2014

True story - Os fascículos, o sexto sentido e o "é um trabalho pago"

A propósito disto lembrei-me desta história...

Há dois anos recebi - juntamente com mais dois colegas, um convite de uma editora para fazer um fascículo sobre a minha área científica, onde numa trintena de capítulos falaríamos de temas que pudessem interessar ao público em geral. Pessoas de outras áreas foram contactadas e a ideia era fazer uma colecção que seria vendida com um dos jornais nacionais de maior tiragem. Reconheci as pessoas que estariam responsáveis pelos fascículos das outras áreas. Seria uma colecção séria. Aceitei. 

Na primeira reunião estranhei a insistência no "É um trabalho pago", como se eu fosse trabalhar pro bono só para ter o nome na colecção. Não, não iria. Tudo ficou alinhavado nessa reunião... Teríamos de definir os capítulos e começar a escrever o mais rapidamente possível (assim mesmo, tudo muito à vontadinha e sem datas definidas e, atenção, que era - wtf? - pago e tudo)... Estranhei o M.O., até porque trabalho como freelancer para outra editora vai para uma década e estava habituada a outra coisa, mas bom... Seriam apenas formas de trabalhar distintas. 

Pois bem, cheios de boa vontade, reunimos entre nós e decidimos e distribuímos temas. Começámos a escrever.

Na segunda reunião com o responsável da editora (que vejo todas as semanas na TV ainda estou para perceber porquê), cada um de nós tinha escrito e enviado dois capítulos. Falámos de aspectos gerais e soubemos que de outras áreas havia autores que já tinham enviado quase a totalidade dos textos. A meio da conversa ouvi qualquer coisa como: "O jornal X continua interessado." ("Continua"?? Como assim "continua"? Mas a coisa não estava já certa?, pensei.) Notei na expressão que se arrependeu do que disse e se apressou a falar do "tempo", a ver se aquilo passava de fininho. Naquele preciso momento decidi que dificilmente lhes enviaria mais uma palavra sem assinar contrato. Falei-lhe nisso de assinar contrato (sem lhe dizer no entanto que não escreveria mais nada porque não queria assumir uma posição sem falar antes, e em privado, com os meus colegas; aliás se eles os dois quisessem prosseguir eu assumiria o risco com eles). Disse-me que sim senhora, que era quando quiséssemos, mas que a prioridade era a conclusão da colecção, mas que sim senhora, por quem sois, o contrato seria feito rapidamente. Ao sair falei com os meus colegas... Disse-lhes que aquilo  me cheirava a esturro. Ela deu-me o benefício da dúvida. Ele achou que eu estava a sobrevalorizar uma frase e a confiar demais em coisas intangíveis, que ele ía viajar e que terminaria os seus textos no prazo de uma semana, que depois logo se via. Trabalhou como um cão, que isto de escrever para leigos tem muito que se lhe diga, mas fez e enviou toda a sua parte.

Seguimos o progresso da colecção e havia áreas científicas já encerradas. Senti-me a ovelha ronhosa e desconfiada. A minha colega sempre comigo.

Dois dias depois de o meu colega ter enviado todo o seu trabalho, recebemos um mail a dizer que o jornal tinha, à última hora, recusado a colecção mas que a editora tinha tanta confiança no projecto, que iam publicá-la por conta própria. Assim mesmo e por estas palavras... O facto de terem em mãos imenso trabalho de pessoas que, de boa fé, confiaram na sua palavra, aparentemente não pesou na suposta decisão. 

Disse à minha colega que não acreditava naquilo. Que não era uma posição séria, que aquela colecção nunca veria a luz do dia.... Como de facto!

19 comentários:

  1. Porra, que falta de respeito, de vergonha... Eu sei lá mais, falta de tudo! E agora?

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    1. Agora? Agora olha... Na mesma como a lesma. Ficaram com os textos que ficaram... E empurram o problema para a frente com a barriga... que agora com a crise e mais não sei quê e a crise e o coiso e a crise.... Esquece... Já tirei daí o sentido... Eu acabei por enviar só dois textos, de 12 que tinha a cargo, mas houve gente que saiu muito lesada... Fiz uma pesquisa rápida... Estão em falha com muita outra gente. :(

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    1. Pagar?? Oh Silent... Lembras-te de cada uma... Olha agora pagar. Nem um pedido de desculpas vi quanto mais o tusto...

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  3. Contata outros jornais e apresenta o teu trabalho.

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    1. É complicado... O nosso trabalho sozinho não faz sentido (teria de ser sempre no âmbito de uma coleção). E seria de apresentar a uma editora e são mais de trinta autores envolvidos... Profs da faculdade quase todos... Não sei, vou ver... É de facto uma pena desperdiçar tanto trabalho.

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  4. Olhe como a NM desta vez foi previdente e disse "ovelha ronhosa" e não ovelha ranhosa como as pessoas dizem sem pensar, e livrou-se de ter o irascível corrector gramatical à perna.
    :)

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    1. À perna, salvo seja, claro.

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    2. Ahahahahahahah Juro que estive com o "ranhosa" escrito só para cronometrar o teu que demoraria a chegar o comentário... Mas depois não me apeteceu indispor... :DD

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    3. Em todo o caso e pelos motivos já expostos o seu trabalho não viu a luz do dia, o que penso ter sido uma pena, mas anime-se que nem tudo está perdido, e muito ao invés.
      Mercê do post sobre ele e dos comentários adjacentes, se de facto o mundo não usufruiu do seu tarabalho, ganhou a sabedoria de nunca mais, ou só muito dificilmente alguém voltar a dizer, levianamente...ovelha ranhosa.
      Doravante é certinho. Ovelha ronhosa para todos, se bem que alguns pouco saibam o que isso quer dizer. :)

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    4. Eeeerrrr.... Pois... O melhor então era ir espalhar a mensagem para um blogue que o "mundo" lê-se...

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    5. Pois pois, lê-se.
      E depois diz que não provoca nada, pois...:)

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  5. Isso é o mesmo que dizer que sim.

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  6. Gabo-lhe a capacidade interpretativa.

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  7. Sendo que o contrário também e válido.

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  8. Claro que sim. Obviamente o meu comentário anterior foi 100% sarcástico.

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  9. Por acaso e por lesado, sobre editoras, seus esquemas e vigarices também tinha uma palavrinha a dizer, mas tenho para mim que nem vale a pena.

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